Álvaro Almeida

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Álvaro Almeida tem obra feita, mas não da obra que interessa. Não fez rotundas, não repavimentou três vezes a mesma avenida, não andou a virar frangos em comícios vários, não surge com frequência na televisão a repetir lugares-comuns e banalidades que tais, não tem processos dúbios com a justiça, não tem um círculo de amigos que vai do eixo Bairro Alto-Príncipe Real, não tem antecedentes em jotas. Não prometeu, entre canapés, alterações ao PDM para satisfazer um qualquer construtor.

Em suma, um péssimo candidato sem capital político — pelo menos a fazer fé no comentariado habitual que pulula nos media, emitido antes e depois de comentarem o desaire do Benfica na Basileia. Álvaro Almeida é professor universitário com créditos firmados e vasto currículo, foi alto quadro no FMI, Presidente da Administração Regional de Saúde do Norte, Presidente da Entidade Reguladora da Saúde. Uma vida dedicada ao serviço público, não se servindo, porém, da cousa pública. Confirmam-se, portanto, os clamores dos comentadores da bola, perdão, de política.

Isto não faz de Álvaro Almeida aquele personagem amplamente conhecido, popular, que faz passeatas grandiosas por Lisboa e se publicita. É, aliás, um enorme choque com o historial autárquico de Portugal — muito pródigo e disponível para reeleger autarcas condenados ou em vias de. Mas faz de Álvaro Almeida o melhor candidato à Câmara Municipal do Porto, ou de qualquer Câmara. Talvez não desta época, talvez não deste país, mas o melhor.

Declaração de interessestenho um enorme apreço e consideração por Álvaro Almeida por circunstâncias várias, mas especialmente porque foi meu professor e meu co-orientador de doutoramento. Mas nada disto influencia a minha posição, apenas a corrobora.

Como derrotar Rui Moreira

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Segundo a imprensa nacional, Rui Moreira trocou as voltas ao PS, o  que é um tremendo exagero. O Presidente da CMP deixou os papagaios que dirigem o partido do governo fazer o que estes de melhor fazem, retirando daí o respectivo casus belli. O PSD, à falta de candidato para as duas principais cidades do país, regozijou-se de imediato. Passos Coelho ergueu-se do mundo dos mortos para onde a insignificância do seu discurso e da sua estratégia política o conduziram para arremessar uma bicada ao Partido Socialista e os seus correlegionários, no Porto, abrem champanhe. Mas aqui colocam-se vários problemas que, a meu ver, ainda não surgiram à massa laranja.

Em primeiro lugar, e apesar das circunstâncias, o PS tem um candidato conhecido da cidade, com obra feita – não estou aqui a avaliar a mesma – neste mandato. Ser-lhe-á complicado atacar Rui Moreira, mas o PSD aqui não fica em melhor figura, pois desta feita tem uma figura de peso que, neste xadrês autárquico, pode e deve apostar, não na derrota de Moreira, mas na derrota do PSD, procurando o segundo lugar.

Ao mesmo tempo, o já aparvalhado e oco discurso do PSD Porto perde fogo – se é que alguma vez o teve. E por isso, com uma amabilidade que não me é característica, elenquei algumas hipóteses, partindo, é claro, do que o PSD já tem demonstrado ser o seu foco: acusar Rui Moreira de coisas.

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Quando a vergonha muda de cor

Ninguém vociferou mais contra o ajuste directo do Metro do Porto e dos STCP quanto o agora deputado Tiago Barbosa Ribeiro, então líder da concelhia do PS Porto. Recordemos que o ajuste directo foi feito por consulta a 24 concorrentes, isto depois de um concurso internacional ter sido encerrado sem vencedor.

Recordemos a trama.

1. Através do PS Porto, em nota de imprensa da autoria ou subscrito pelo presidente da concelhia do PS Porto, dizia

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As palavras não são leves. Reiteradamente é-nos dito que o ajuste directo é um «escândalo nacional».

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Os órgãos de comunicação social davam palco a toda a indignação:

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2. Com o PS já no Governo, o mote era agora lançar um novo concurso, desta feita sem os escândalos dos ajustes directos. «Prometer, cumprir!», ou pelo menos assim prometiam:

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Para que este concurso público tivesse tempo de ser preparado, o ajuste directo então em vigor teve de ser prorrogado pelo menos durante 3 meses.

3. Volvidos três meses, o que temos?

Um ajuste directo por mais dois anos, sem concurso público, atribuído à Barraqueiro, que, coincidentemente, ou talvez não, aceitou uma reversão nas condições da privatização da TAP.

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4. Posto isto, é de esperar que a mesma indignação seja agora dirigida a esta opaca decisão do Governo, criticando a decisão. Sem qualquer ironia, o Tiago Barbosa Ribeiro foi dos deputados que mais fez e trabalhou para estar no Parlamento, e bateu-se por temas que considerava importantes, como era o caso da subconcessão por ajuste directo. Estou certo que não permanecerá calado agora que o «escândalo nacional» se mantém, e que o PS Porto será igualmente assertivo na «defesa dos interesses da cidade do Porto» e contra o «centralismo».

5. Adenda: o Tiago Barbosa Ribeiro justificou o sucedido com o facto de se tratar de uma  extensão do contrato actual até que seja preparado uma nova PPP. Três notas a este propósito: (i) uma extensão foram os 3 meses anteriores, não 2 anos. 2 anos não é uma extensão, é uma eternidade; (ii) Paulo Campos fazia contratos PPP em tempo recorde. Não vejo porque é que este haveria de necessitar de tanto tempo. Mesmo sendo um concurso internacional, um ano já seria muito; (iii) Devemos concluir que se o anterior ajuste directo tivesse sido atribuído à Barraqueiro, e não à Transdev, já não haveria motivo para tanta celeuma e indignação?

O dia que haveria de chegar

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Dificilmente existirá outro cronista tão distinto quanto Alberto Gonçalves. Opositor voraz ao gang do politicamente correcto, lúcido e eloquente nas palavras, os seus textos reportam escritos, contrastante com as banalidades, frequentemente alarvidades, oferecidas por aí. Mas porque todos somos diferentes, a concordância e o consenso, posicionamento do qual Alberto Gonçalves terá tantas dúvidas quanto eu, creio, é somente possível na extensão das pequenas semelhanças que num universo de desigualdades nos unem.

E como essas semelhanças são espúrias, contrariamente ao que os igualitários possam sonhar ou desejar, não será de estranhar que um dia surja um, ou mais, pontos de discórdia. Este artigo suscitou-o.

Recordemos, em resposta ao artigo em epígrafe, que o povo que outrora habitara a Foz do Douro, o Porto, o Norte de Portugal, os callaecos — conjectura-se que fossem helénicos os primeiros a visitar a região — deram nome a Gallaecia, assim lhe chamaram os romanos, onde mais tarde haveria de nascer, separado pelo Douro, as cidades de Portus e Cale. Daqui surgiu o galaico-português, fortemente influenciado por um substrato celta. Daqui deriva a troca dos ‘v’s pelos ‘b’s. Ou melhor, daqui se trocaram os ‘b’s pelos ‘v’s, servindo isso para remoque e desdém de alguns emproados em Lisboa. Basta ter o infortúnio de passar por determinados programas televisivos para se perceber o provincial arcaísmo com que se descaracteriza toda uma região que deu nome, origem, pátria, língua e lição a Portugal.

Foi a Norte, entre Braga e Guimarães, que D. Afonso Henriques decidira ir a Sul resgatar Lisboa dos mouros. Ou os mouros de Lisboa. Quase sete séculos mais tarde, foi no Porto, terra de burgueses onde nunca assentaram muitos fidalgos, que os Ingleses fizeram comércio. De Valongo saíra ouro e do Douro uvas não menos preciosas. Foi no Porto que Portugal se tornou um país de comércio, de importação e de exportação.

Não é preciso recuar oito séculos para fazer jus ao Porto e ao Norte. Basta avançar seis para perceber o declínio que começa a ser delineado por Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal. A política do centralismo, que se reflecte no controlo estatal sobre o comércio do vinho do Porto através da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro (mais tarde a Real Companhia ou Companhia Velha) é a demonstração da suspeita. O declínio do Norte e a ascenção de Lisboa não foi fruto da circunstância, foi resultado de um projecto político que pretendia centralizar para daí controlar. Salazar, que de Viseu (quiçá D. Afonso Henriques tenha lá nascido) deveria saber melhor, perpetuou e sedimentou esta extrema dependência de Lisboa.

Como portuense, como Nortenho, como confesso e orgulhoso bairrista, não posso senão repudiar a acusação de que o declínio do Norte fosse não menos do que obra, ou falta dela, das gentes do Norte. Que fosse a sua afectuosidade para com o futebol ou o gosto pelo ócio. Não. Em terras do Norte trabalha-se como sempre se trabalhou, de alvorada à aurora, da aurora à alvorada, o tempo que for preciso, com garra e convicção. Porque não fomos a Lisboa por acaso. E, se o fizemos, pedimos somente respeito. Respeito e, se possível, que o Estado centralista saia da frente. Não é preciso mais do que isso para que o equilíbrio seja reposto e o Norte volte a ser, como aliás sempre foi, o motor de Portugal.

Créditos: foto retirada da página do Facebook “Norte de Portugal“.

Menezismos (2)

Parece claro que Luís Filipe Menezes está há muito a desenhar a sua estratégia pessoal para as autárquicas do próximo ano. O recente lançamento despudorado de Marco António Costa para seu sucessor numa candidatura autárquica a Vila Nova de Gaia confirmou que a sua cabeça já não está na margem sul do rio Douro. A sua ambição em suceder a Rui Rio é demasiado evidente e os primeiros passos estão dados.

Mas uma candidatura de Luís Filipe Menezes à câmara do Porto enferma, desde logo, de um mal: é que a mesma só será possível com descarada subversão da lei de limitação de mandatos. Basta ler o texto da mesma para concluir facilmente que a limitação tem carácter universal e que a mesma não se circunscreve, no caso de Menezes, à autarquia gaiense.

Desta forma, se a honestidade imperar no cumprimento de uma lei que não deixa grande margem para dúvidas, apesar de alguns sinais muito pouco positivos, as intenções de Menezes e dos seus apoiantes estão mortas à partida, e o ainda presidente da câmara de Gaia vai ter de cumprir o período de nojo que, do alto da sua habitual sobranceria, recomendou aos outros.