Lusa

No dia 9 de Fevereiro, Granadeiro diz aos jornais que falou com Sócrates a 22 ou 23 de Junho.

No dia 10 de Fevereiro à saída da AR Sócrates abana sorridente um telex da Lusa, datado de 25 de Junho, no qual Granadeiro negava ter dado conhecimento ao Governo sobre as intenções da PT. O comunicado era a prova de que Sócrates não mentira ao Parlamento no dia 24 de Junho.

Ainda a 10 de Fevereiro, Granadeiro liga aos jornais para dizer que afinal falou com Sócrates a 25 de Junho, rectificando a versão do dia anterior.

Público conta aqui a história.

Na Comissão de Ética Granadeiro explicou hoje a contradição, dizendo que quando os jornalistas lhe ligaram para saber em que dia tinha falado com Sócrates, ele respondeu de cor pois estava fora de casa e não tinha a agenda. No dia seguinte encontrou a agenda e diz ter telefonado de sua própria iniciativa aos três jornalistas para rectificarem a notícia.

Perguntas:

Alguém soube desse telex da Lusa no dia 25 de Junho?

Se sim, porque é que os jornais não noticiaram logo no dia essa informação?

Se Sócrates e Granadeiro jantaram na noite de 25 de Junho, não terá Granadeiro informado Sócrates que prestara esse esclarecimento à Lusa no próprio dia?

Se sim, porque é que o próprio José Sócrates não usou esse telex para se defender de ter sido acusado de mentiroso, logo no dia 26 em que voltou à AR para falar – já informado – do negócio?

Granadeiro descreveu minuciosamente como, quando, e a que jornais ligou para explicar quando tinha falado com Sócrates. Mas nunca durante a Comissão de Ética se referiu a ter falado com a Lusa, apesar de ter sido questionado por quase todos os deputados sobre a contradição das datas. Será que Granadeiro se esqueceu de ter feito esse comunicado à Lusa no dia 25 de Junho? A ele que pareceu incomodar tanto que pusessem em causa a sua honestidade, bastaria ter, tal como Sócrates, abanado no ar o tal telex para assim provar não estar a mentir.

Manuela Moura Guedes na Comissão de Ética

Manuela Moura Guedes traçou um quadro claro do tipo de poder que o actual governo de José Sócrates exerce na sociedade portuguesa. A rede é complexa, os tentáculos do polvo tocam a comunicação social, a Lusa, empresas públicas e privadas, a polícia judiciária, a procuradoria geral. O  polvo e os seus tentáculos têm vindo à luz do dia, mas sem consequências (uma vez que a justiça está ela própria sob a sua alçada). A única maneira de o debilitar é neutralizando as ventosas que sustêm os tentáculos, as pessoas que sustentam este emaranhamento de redes de poder. Trazer à luz caras, nomes, é essencial para que a tinta que o polvo naturalmente deita deixe de o proteger. E foi isso que Manuela Moura Guedes fez.

Desde a referência ao nome mais inócuo, como a referência ao jornalista da TVI Paulo Simão que categorizou publicamente o jornal de 6a como “uma vergonha” e que foi depois convidado para a Taguspark por Rui Pedro Soares, passando pela referência à directora da Polícia Judiciária de Setúbal, Alice Fernandes, como sendo pressionada e permeável às instruções dos assessores do primeiro ministro, ou ainda nomeando António Vitorino como o decisor do cancelamento do Jornal Nacional de 6ªF.

O pudor e desprezo com que se fala pejorativamente de «julgamento em praça pública» serve apenas o mecanismo asséptico de abusos de poder. O sistema não “cai de podre”, o sistema só cai pela neutralização pública dos nomes de quem possibilita que a promiscuidade política exista. Esses elementos devem ser identificados. Num sistema tentacular, é ingenuidade pensar que as instituições, naturalmente compostas por esses elementos, terão vontade ou capacidade para responsabilizar os elementos da rede. É na esfera pública que a responsabilidade se efectiva pois apenas ela possui naturalmente as ferramentas para impôr aos agentes a consciência de que as acções têm um preço, o preço do bom nome, sem o qual ninguém pode sobreviver socialmente.

Na comissão de ética houve quem quisesse que Manuela Moura Guedes se retractasse do seu estatuto de “comentadora”. A jornalista respondeu com o exemplo de outros jornalistas, a quem é aceite que façam comentários brejeiros sobre modelos e misses, sobre futebol, ou que assumam até o papel de “jornalista cronista”, tudo menos que se comente o poder. Sobre o poder ninguém comenta, ninguém aponta, ninguém nomeia. E nisto incluiu tanto a classe jornalista como a própria Assembleia. O rei vai nu. E o rei somos todos nós.

Recapitulando…

1. A notícia de que Manuela Ferreira Leite estaria a par, desde Junho, da intenção da PT comprar a TVI surgiu ontem ao fim da manhã.

2. A notícia é baseada num escuta, à qual o DN teve acesso, segundo a qual a 27 de Junho, Rui Pedro Soares diz a Paulo Penedos que ambos foram vítimas de uma “cilada”, acrescentando: “A pessoa que mais sabia deste negócio era a Manuela Ferreira Leite”.

3. Soubemos hoje que essa escutas foram posteriores à data (25 de Junho) a partir da qual os investigadores do Ministério Público e da Polícia Judiciária de Aveiro consideram que, tendo sido informados de que estavam sobre escuta, Paulo Penedos e Rui Pedro Soares terão semeado conversas para confundir a investigação (ilibando Sócrates de uma eventual participação do negócio).

4. Escassos momentos após a divulgação da notícia sobre o eventual conhecimento que Manuela Ferreira Leite tinha do negócio, Pedro Passos Coelho apressou-se a reagir, publicando o Jornal de Negócios (com quem, por sorte, estava a almoçar) a sua crítica ao «Envolvimento de Ferreira Leite»: Falando ao início da tarde, num almoço-debate organizado pela Associação Comercial de Lisboa em parceria com o Negócios, Pedro Passos Coelho, um dos três candidatos à presidência do PSD, não poupou nas palavras em relação ao envolvimento da ainda líder do seu partido.

Se Pedro Passos Coelho «não poupou nas palavras» em relação ao «envolvimento de Ferreira Leite», decerto tem «poupado nas palavras» no que toca ao envolvimento de Sócrates no mesmo caso, ambos em pé de igualdade no que toca à fonte – as escutas. A duplicidade de critérios é evidente.

Recapitulando novamente…

1. Pedro Passos Coelho tem «poupado» o nome de Sócrates – quer no seu livro, no qual nunca é referido apesar dos vários capítulos sobre a actualidade política, quer na apresentação da sua campanha onde nem por uma vez qualquer tipo de responsabilidade governativa foi imputada directamente ao nome Sócrates, preferindo as críticas vagas e gerais.

2. Pedro Passos Coelho é o administrador do grupo Fomentinvest. e presidente do conselho de administração da HLC Tejo e da Ribtejo. A Formentinvest tem como sócios figuras envolvidas em escândalos financeiros: os construtores Irmãos Cavaco, acusados de burla qualificada no caso BPN (Passos Coelho também «poupou palavras» na “nacionalização” do BPN) e Horácio Luís de Carvalho, que está a ser julgado por corrupção e branqueamento de capitais no processo do aterro da Cova da Beira.

3. No processo de adjudicação do aterro sanitário da Cova da Beira, Horácio Luís de Carvalho é acusado de ter depositado 59 mil euros numa conta offshore de António Morais, o “célebre” professor de José Sócrates na Universidade Independente.

4. O concurso teve lugar quando José Sócrates ainda era secretário de Estado do Ambiente – e o actual primeiro-ministro chegou a ser investigado, mas no que lhe dizia respeito o processo foi arquivado em 2007.

Ainda as coincidências…

Os investigadores do Ministério Público e da Polícia Judiciária de Aveiro ficaram intrigados com as mudanças que ocorreram no discurso sobre o negócio da compra da TVI pela PT e que coincidem com uma reunião que teve lugar na Procuradoria-Geral da República que contou com a presença de Pinto Monteiro, do procurador Marques Vidal e do procurador distrital de Coimbra Braga Themido, noticia a “Sábado”.

De 24 de Junho (dia da reunião na Procuradoria Geral da República) para o dia 25 de Junho, Rui Pedro Soares e Paulo Penedos passaram a falar de Sócrates como se ele não tivesse estado informado sobre a intenção de compra da PT. Nem ele, nem Zeinal Bava.

– Eh pá, boa e tal. – Exactamente…

Agora que vejo que nem o próprio visado com a boca do «Isso vale muitos votos… Isso em subsídios de desemprego…» compreendeu o seu sentido, fico mais descansada (cheguei a pensar que havia de facto algum sentido oculto difícil de compreender para os não iniciados em socialistês). Também não é certo que Paulo Penedos tenha compreendido aquilo que Marco Perestrello «cá sabe», mas respondeu com um reticente «exactamente…».  Assim falam os boys.

Regra número um: os boys nunca dão nomes aos bois. Claro que isto pode gerar confusões e, em rigor, ninguém tem a certeza do que o outro está a dizer, o que é impossível de verificar dado que as perguntas directas são expressamente proíbidas. Apesar de pouco eficaz na comunicação, o modus operandi é o mais eficaz no que toca à protecção. Não é de todo “inverdadeiro” que x possa dizer que não falou efectivamente com y sobre o assunto z, nem é de todo “inverdadeiro” que x não saiba de facto se/quando falou sobre o assunto z com y.

Do Jornal SOL:

PAULO PENEDOS – [Rui Pedro Soares] Vai para Milão, segunda-feira. Vai-se lá encontrar com o Figo, para com ele celebrar uma coisa um bocado pornográfica, mas pronto.
MARCOS PERESTRELLO – Que é o quê?
P.P. – Eh pá … só te posso dizer se tu não disseres a ninguém. Se disseres, não te posso dizer.
M.P. – Se quiseres dizer, dizes! Se disseres que não é para dizer a ninguém eu não digo.
P.P. – Não, não digas que é uma coisa… Ele há dias disse-me, muito contente, que tinha conseguido que o Figo apoiasse o Sócrates e eu disse ‘boa e tal’, claro que é importante. E hoje ligou-me a pedir que eu lhe fizesse um contrato de patrocínio para a Fundação Luís Figo, à razão de 250 mil euros por ano.
M.P. – Pois, imagino…
P.P. – Ah?
M.P. – Claro, claro. E isso, aliás, vale muitos votos! Essa m… em subsídios de desemprego…
P.P. – Ah?
M.P. – Isso em subsídios de desemprego…
P.P. – Eh pá, mas ouve-me… O gajo conhece toda a gente e mais alguma e toda a gente em que ele tropeça, do mundo da bola, de repente estão a apoiar o PS e o Sócrates, mas depois todos têm por detrás contratos…  todos têm contratos… Até deve ser alvo de alguma risota, não é.
M.P. – Por acaso não me deram o nome do Figo para os tempos de antena das personalidades para depor!
P.P. – Pronto, faz-te de novas que o nome vai-te aparecer, só que o  apoiante espontâneo e fervoroso primeiro deve querer assinar o contrato, não é?
M.P. – Sim, sim, vamos ver se depois aparece, se é como outros que eu cá sei que acham que é melhor não darem a cara. Acham que é melhor não darem a cara, abrem uma coisa ali, outra ali.
P.P. – Exactamente …
M.P. – Ai…, não aprenderam nada ainda.

Não sou pressionável.

Infelizmente não pude ver as declarações de Felícia Cabrita ontem na Comissão de Ética.  Do resumo feito pelos jornais ficam três temas:

Evidência de uma relação de promiscuidade entre José Sócrates e o Procurador Geral da República:

“É muito estranho que o procurador-geral da República venha à liça com tanta frequência fazer uma defesa do primeiro-ministro (…) [usando] exactamente as mesmas expressões que José Sócrates, ao dizer que não há indícios criminais contra o chefe do Governo.” Ainda num tom crítico em relação a Pinto Monteiro, Felícia Cabrita deixou a pergunta: “Não há elementos suficientes para se abrir um inquérito? Se com tudo isto e com o mais que há o procurador-geral da República não deveria ter aberto um inquérito?”.

Recordar explicação de Pinto Monteiro aqui.

Esclarecimento sobre a identidade dos accionistas do SOL:

Entregou aos deputados fotografias dos acionistas do semanário Sol para esclarecer dúvidas que têm sido levantadas sobre quem são os donos do jornal e “mostrar transparência”. Felícia Cabrita esclareceu que os acionistas do Sol são o empresário Joaquim Oliveira e dois empresários africanos. “São empresários angolanos que nos libertaram da intenção do PS de liquidar financeiramente o nosso jornal”, afirmou.

Denúncia de pressões que a jornalista considera misóginas:

A jornalista afirmou não ser “pressionável” mas que, desde a investigação do caso Casa Pia, tem sido vítima de “um plano sórdido para denegrir” a sua imagem. “Usaram de forma muito vil o facto de ser mulher”, garantiu.

Sobre este tema ver aqui.

Leitura complementar sobre a primeira sessão da Comissão de Ética: O País dos Pessoalismos.

Um palhaço é igual a outro palhaço. E a outro. E são iguais entre si.*

O socialista Arons de Carvalho acusou Mário Crespo de ter tentado que ele, então secretário de Estado da Comunicação Social, “interferisse na RTP, junto da administração”, para que o jornalista voltasse a ser correspondente em Washington.

Dúvida: o livro que Mário Crespo disse nunca ter pensado escrever também inclui as crónicas do tempo em que ele apoiava José Sócrates?

* Da crónica O Palhaço.