Abaixo, uma publicação oficial do Partido Socialista no facebook. Não ligo particularmente ao que o sr. deputado João Galamba diz, mas este discurso exemplifica bem a maneira como se debate e se faz política em Portugal. Fala-se em alhos, responde-se bugalhos – e isto quando não se parte logo para o ataque pessoal ou para a presunção da intenção de maldade. Depois o político apresenta uma versão maniqueísta do universo – nós, os paladinos do bem, contra vós – seres maléficos que querem destruir o mundo e o universo. Uma arma muito usada é o “interlúdio lírico” em que se introduz um pensamento ou uma citação bonita e poderosa mas que em nada contribui para discussão. Os números esses, são torturados de todas as formas e feitios até confessarem o que o político quer. E pronto – horas, e horas nisto, sem qualquer efeito prático ou produtivo.
Analisemos esta declaração do ilustre deputado da nação.
- Primeiro, a apresentação sinuosa e tortuosa da questão: “O CDS gosta sempre de se apresentar como amigo das famílias. O Partido Socialista discorda. O CDS é amigo de algumas famílias, curiosamente uma ínfima minoria das famílias portuguesas com filhos.” – tirando o embaraço deste tipo de redacção por um deputado, o que significa na realidade? Que o PS discorda que o CDS se apresente como amigo das famílias? Que só uma ínfima minoria das famílias portuguesas tem filhos? Que o CDS só é amigo das famílias com filhos? Como é que isso bate certo com a insinuação de que “o PS governa para todas, as ricas e as pobres“? Que as famílias com filhos são ricas e as famílias sem filhos são pobres?
- De seguida, a pseudo-argumentação: “Senão vejamos, o CDS não teve qualquer problema quando expulsou 500 mil portugueses do país, quando houve menos 19 mil nascimentos, quando votou contra o aumento do salário mínimo“. Perdão, o CDS expulsou 500 mil portugueses??? À primeira vista até pensei que tivesse existido um decreto semelhante ao da expulsão dos judeus em Espanha. Para o deputado, portugueses saírem por vontade própria (como saiam antes, e como continuam a sair – ver dados da Pordata aqui) – é expulsar. Portanto, a Geringonça segundo dados da Pordata, expulsou 178 mil portugueses entre 2016 e 2017. Depois são menos 19 mil nascimentos. De início, pensei que o CDS tinha esterilizado uma parte da população. Depois fui estudar melhor o assunto e descobri uma tendência de nascimentos descrescente (ver aqui) e fiquei também a saber que os Portugueses antecipavam a subida da Geringonça ao poder no final de 2015, e por isso em 2015 cerca de 2.000 mães adicionais já se encontravam grávidas para darem à luz em 2016. Também descobri que o governo do PS, apesar de virar a página da austeridade, é responsável por menos 1.500 nascimentos em 2017 e menos 371 nascimentos no primeiro trimestre deste ano (ver aqui). O deputado também afirma que quem vota contra o aumento do salário mínimo
é malvadovota contra as famílias. Argumentos alternativos de que o salário mínimo prejudica os desempregados e os mais jovens; e que pode contribuir para a falência das empresas mais frágeis é pura malvadez.
E pronto. Centenas de likes, dezenas de shares – é disto que o povo gosta.
Enfim – a política em Portugal reduz se a isto.