A traição

GlobalPornography.jpg

Dei com ele com um ano de atraso, mas nunca este brilhante artigo de Henrique Raposo foi tão actual. Expurgando a fraude intelectual que é o multiculturalismo e todas as correntes pseudo-científicas que perfilham a mesma epistemologia pós-moderna, como o pós-colonialismo de Said ou a teoria crítica de Adorno, ilustra como a imposição do politicamente correcto e do relativismo cultural no Ocidente branquearam a barbárie islâmica, que oprime e persegue as mulheres — que à luz do islamismo são um mero objecto, aliás.

Se a liberdade religiosa é um cânone de uma sociedade Europeia democrática e liberal, também são os valores e princípios absolutos que nos regem. O respeito pelos direitos humanos e, muito em particular, pelos direitos das mulheres deverão ser condição sine qua non na sociedade Ocidental, jamais subjugados a relativismos culturais. Quem não os cumpre não tem lugar aqui.

Esta barbárie foi construída com o beneplácito dos responsáveis pela integração e dos média que recusaram sempre fazer críticas à “comunidade turca” mesmo quando se tratava de expor a mais abjecta misoginia. Felizmente, este racismo invertido do multiculturalismo só podia desesperar as turcas-alemães que lutam pela sua liberdade. Serap Çileli é um desses casos. Durante os anos 90, Çileli tentou publicar artigos e livros sobre a condição feminina dos bairros turcos, até porque ela própria fora forçada a casar aos 15 anos, mas o meio literário e jornalístico recusou sempre os seus textos. “As pessoas”, diz Serap, “tinham medo de serem apelidadas de nazis caso levantassem questões sobre os muçulmanos. Tudo o que eu escrevia era rejeitado, até pelos jornais; diziam-me que estava a escrever sobre uma minoria e eles tinham medo de serem apelidados de racistas”. A perversão moral deste raciocínio fala por si. Serap é turca, experimentou as agruras do casamento forçado, estava a criticar o marialvismo islamita a partir de um ponto de vista muçulmano, estava a defender a emancipação das mulheres, mas mesmo assim o meio intelectual alemão só encontrava uma palavra para descrever os seus ensaios e livros: “racismo”. Outra autora turco-alemã, Seyran Ates, é ainda mais dura na crítica à mentalidade multiculturalista. Para esta autora e advogada especializada nos “crimes de honra”, a posição da esquerda feminista é insustentável. Por um lado, critica a Igreja católica e o machismo do homem branco, mas, por outro lado, fecha os olhos à repulsiva condição das mulheres muçulmanas. Ates levanta o véu e permite-nos ver a traição do feminismo ocidental em relação às mulheres muçulmanas.

A casa cor-de-rosa

occidens-pamplona-vaillo-irigaray-15.jpg

As linhas exteriores são austeras, se por austeridade entendermos simplicidade e rigor. Rigor arquitectónico, entenda-se. Linhas estritas e escorreitas, o que não será de estranhar — a fachada da Catedral de Pamplona, depois do traço românico original ter sido destruído, depois da reconstrução gótica ter sido desfeita, foi finalmente adaptada às tendências do século XVIII, quando foi reconstruído pela última vez, incorporando, sinal dos tempos, um estilo neoclássico.

E a humanidade evoluiu, e consigo evoluiu a Catedral de Pamplona. A visita pela Catedral percorre os diversos períodos: da Antiguidade, e da confluência entre as influências pagãs e a fé Cristã; da Idade Média, caracterizada pelas incessantes lutas entre povos e civilizações; da Idade Moderna, com a expansão do Ocidente, dos valores ocidentais e da secularização das instituições; e o período da Contemporaneidade, quando os valores ocidentais são desafiados por uma corrente relativista, que faz tábua-rasa a esses valores e promove, usando sempre a mesma bitola, tudo a belo. E eis a casa cor-de-rosa.

A casa cor-de-rosa é o ponto final da visita guiada pela Catedral. A casa cor-de-rosa é rosa, tem cadeiras rosa e cheira bem. A casa rosa é uma provocação, é uma reflexão. Reflecte, antes de mais, o contraste com os valores ocidentais sobre os quais erguemos a civilização moderna. E estes são, ou eram, valores absolutos. São os nossos valores supremos — a Verdade, a Liberdade, a Beleza e o Bem. A tradição ocidental, ainda que tardiamente com o Renascimento, foi a da busca incessante por estes valores. Valores. Com letra grande e importância ainda maior. À luz destes valores, a casa cor-de-rosa é uma aberração, uma anomalia contemporânea no tempo, mas extemporânea nos valores. Omite, deturpa e ofusca a realidade e o que esta representa.

A casa cor-de-rosa, o relativismo, o estruturalismo, o construtivismo social, o pós-modernismo, todas estas correntes disputam os valores sobre os quais a civilização ocidental se ergueu. Perdeu-se o referencial. Tudo é belo. Todos somos bons. Tudo é tudo, nada é melhor, nada é pior, são apenas culturas. Tudo se justifica, nada prevalece.

A casa cor-de-rosa é um sinal de aviso. É o ponto de inflexão. É o momento em que nós, enquanto civilização, recuperamos os nossos valores. E que a casa cor-de-rosa sirva de lição também para a Europa, enquanto civilização. Não tenhamos medo de dizer: que venham todos por bem, mas estes são os nossos valores, e deles não abdicaremos.

É proibido afirmar o óbvio

O vice-PM britânico Nick Clegg criticou o líder do UKIP por este afirmar o óbvio:

Mr Farage told Channel 4 News: “There is a very strong argument that says that what happened in Paris today is a result – and we’ve seen it in London too – is a result I’m afraid of now having a fifth column living within these countries.

“We’ve got people living in these countries, holding our passports, who hate us.

Quem se der a trabalho de verificar o perfil dos terroristas islâmicos poderá atestar a veracidade destas afirmações. Mas estaria a Clegg a criticar alguma extrapolação espúria por parte de Farage?

“Luckily their numbers are very, very small but it does make one question the whole really gross attempt at encouraged division within society that we have had in the past few decades in the name of multiculturalism.”

Encontram algo chocante? Só a reacção de Clegg que prefere continuar a ignorar o óbvio e a empurrar o assunto e o eleitorado para os extremos. Estes agradecem e aproveitam para vender o resto do seu programa. Este sim verdadeiramente chocante e perigoso.