
Descortinar as convicções de Marcelo é uma tarefa homérica. Fã convicto do Braga? Sem dúvida. Mas o importante é o fair play, é saber perder e saber ganhar, e, portanto, também simpatiza com o Benfica, com o Sporting, com o Porto e com o Plácido de Castro Futebol Club, dínamo do futebol regional brasileiro. Simpatizar com todos é a garantia de que não antipatiza com ninguém. E porque por lá pode estar um português emigrado. E um emigrado é um voto.
O atum podre e azedo que Marcelo almoçou? Uma iguaria. A culpa não era do cozinheiro ou do restaurante. Esses levam um 13 pelo esforço. Afinal, era um atum audaz, vivo, que poderia ser servido na Festa do Avante, onde Marcelo gosta de ir. Ou diz que gosta, pois nem ele sabe bem. O atum leva um 16, não obstante estar podre e putrefacto. Fado? Por certo, intercalado com grunge e death metal, que no fundo é tudo bom. Marcelo gosta de tudo. O importante é emitir sons, que são, mesmo que desafinados, sinfonias ao ouvido atento do Prof Marcelo, e que merecem um 12 por acertarem em duas notas da escala. Eclético, portanto.
Devoto católico? Claro que sim. Com as devidas cláusulas de excepção que lhe permitem colher apoios entre laicos, jacobinos, republicanos e fãs da IVG. Despenalização sim, liberalização não, o aborto é mau, não pode e não deve ser feito, mas se o for não há inconveniente. Posição sobre esta indefinição política? Marcelo empossaria Costa. Depois de empossar Passos. E Marcelo empossaria Catarina se ela assim o exigisse. Que ninguém fique apoquentado com Marcelo.
Uma zona cinzenta sem espaço para qualquer cor é a garantia que os fãs do azul ou do vermelho não se ofendem. O problema de querer agradar a todos é que, no final do dia, não somos detestados por ninguém, mas também não somos dignos de colher admiração. Admirados porquê ou por quem? Excepto por um exército que amoebas que partilha a ideia de que as convicções servem apenas os dogmáticos, e que eles se mantêm acima de qualquer ideologia. E mesmo esses não admiram, apenas não detestam, que as amoebas não servem qualquer propósito.
Marcelo é tudo isto. E isto não é absolutamente nada. E o nada é, por muito que custe a Marcelo, nada.