Justapondo os resultados geográficos das eleições legislativas Portuguesas de Outubro de 2015 com os resultados das elecciones generales Espanholas de Dezembro de 2015 não deixa de ser curiosa a afinidade geográfica das regiões onde venceu o Partido Socialista (PS) em Portugal e o seu homólogo Partido Socialista (PSOE) em Espanha.
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Cobertura das eleições para a Assembleia a República de 04.10.2015
17 Diferenças entre um acordo estável e uma coisa de esquerda
Está feito. Foram assinados uns papéis, foi derrubado um governo, virámos a página da austeridade. Apesar de, à cautela, já andar a ensaiar o discurso de que todos os governos têm problemas e de que os papéis “valem o que valem”, a esquerda ainda assim garante-nos que estes papéis em particular chegam para tudo isto. Será que chegam?
Como só temos um exemplo de uma coligação que tenha sobrevivido uma legislatura, parece-me razoável fazer uma comparação entre o acordo que serviu de suporte a essa coligação e o acordo que agora nos querem vender para avaliar a “estabilidade” e a “durabilidade” do que temos em cima da mesa:
Acordo pós-eleitoral PSD-CDS (2011) | Coisa pós-eleitoral da Esquerda (2015) | |
Voto solidário do Programa de Governo |
SIM |
NÃO |
Voto solidário de moções de confiança e de censura |
SIM |
NÃO |
Voto solidário do Orçamento |
SIM |
NÃO |
Voto solidário de medidas decorrentes de compromissos com a UE |
SIM |
NÃO |
Voto solidário de propostas de lei oriundas do Governo |
SIM |
NÃO |
Voto solidário de actos parlamentares que requeiram maioria absoluta ou qualificada |
SIM | NÃO |
Voto solidário de propostas de referendo |
SIM |
NÃO |
Voto solidário nas eleições dos órgãos internos da Assembleia da República |
SIM |
NÃO |
Consultas prévias em todas as iniciativas legislativas |
SIM |
NÃO |
Não apresentação de qualquer iniciativa parlamentar que colida com a actividade do Governo |
SIM |
NÃO |
Reuniões conjuntas dos grupos parlamentares |
SIM |
NÃO |
Cooperação e mobilização das estruturas partidárias |
SIM |
NÃO |
“Colaboração empenhada, permanente, leal e franca” |
SIM | NÃO |
Coerência política entre as partes |
SIM |
NÃO |
Nível idêntico de compromisso entre as partes com a solução governativa |
SIM |
NÃO |
Horizonte Temporal |
Legislatura |
Legislatura (pelo menos enquanto não for preciso “examinar” o Orçamento, moções de censura, iniciativas de outros grupos parlamentares ou iniciativas que “constituam aspectos fundamentais da governação”) |
Resultado |
Primeira coligação a cumprir uma legislatura |
“Momento histórico” |
É certo que nenhum papel salva um governo. O que salva os governos é o alinhamento de incentivos entre todos os envolvidos. As soluções são estáveis se todos os que suportam o governo ganharem ou perderem sempre que o governo em questão ganhe ou perca. É simples.
Por isso é que nem sequer precisamos de avaliar opções políticas para ser fácil de ver que os papéis que a esquerda assinou, “valendo o que valem”, não valem nada. Excepto para António Costa.
Quando O Interesse Pessoal Se Sobrepõe A Tudo
Vale a pena analisar algum dos conteúdos programáticos das legislativas de 2015 quer do Bloco de Esquerda quer do Partido Comunista Português dos quais incluo alguns excertos neste post. É intelectualmente desonesto fazer uma leitura dos resultados das eleições dizendo que “60% rejeitaram o programa de direita” mas não fazer a leitura que 70% rejeitaram o programa do PS e 80% rejeitaram os programas do BE e PCP. Tivesse o PS declarado que estaria disposto a fazer uma coligação pós-eleitoral com o BE e PCP e não tenho dúvidas que os resultados seriam bem diferentes. Leiam os programas do BE e PCP e percebam até onde António Costa está disposto a ir para salvar a sua face e o seu lugar.
UGT contra coligação de esquerda
Carlos Silva, Secretário-Geral da UGT, falou hoje à Antena 1 sobre os devaneios de Costa:
Ficaremos mais tranquilos se efectivamente a decisão do PS for de encontrar um compromisso com o PSD e o CDS. Não me parece que efectivamente as forças à esquerda do PS dêem, na minha opinião, a garantia de estabilidade em relação ao futuro. Há dúvidas. E portanto o PS só conseguirá fazer maioria se tiver maioria na assembleia quer do PCP quer do BE. É uma maioria instável que não dá garantias de que no futuro a governabilidade será assegurada por 4 anos.
O PSD – ou o CDS – é o “Partido dos Ricos” ?
É praticamente impossível cruzar o Facebook de uma ponta a outra sem nos depararmos com lamentos perante este resultado eleitoral e pela afluência às urnas dos ricos e da classe média alta que elegeu os “bandidos”. Ora este tipo de discurso ainda parte daquela velha visão aparvalhada de quem imagina uma sociedade que vota nos partidos segundo o nível de rendimento, com o maior dos capitalistas a votar no CDS, num extremo e a plebe a votar no BE e no PCP, no outro.
Esta teoria teria desde logo como consequência mostrar ao país os magníficos índices de desenvolvimento social dos distritos a norte, como Braga, Bragança ou Vila Real, onde aparentemente a percentagem de pobres é bastante diminuta e a de ricos, em alguns conselhos, é avassaladora. Concelhos como Ponte de Lima, Valpaços ou Boticas deviam ser estudados a par de Hong Kong em matéria de desenvolvimento económico tal é, no ideal esquerdóide, a concentração de capital nestas áreas. Aos eleitores do BE só poderíamos apontar aquela grande fatia, na sua maior parte gente de classe média para cima, muito letrada e urbanizada, como possíveis sabotadores infiltrados.
É portanto um exercício de demagogia aparvalhada lançar a ideia de que no PSD e no CDS votam os ricos e que quem tráz a carteira mais leve vota à esquerda. Até porque quem se debruçar sobre os programas dos partidos à esquerda da coligação observará uma série de propostas para obras públicas, reforço da função pública, subsídios às artes e regulações económicas que pretender redistribuir o dinheiro de quem está na penúria – juntamente com uma série de privilégios – por secções da sociedade bem mais abastadas.
O real problema é que a alta burguesia que comanda a esquerda em Portugal nunca engoliu bem o facto de que o zé povinho não tenha absorvido a doce melodia dos amanhãs que cantam e teime em preterir os seus fiéis defensores a troco dos servos do grande capital. A este povo sereno falta-lhe valores revolucionários. Esses senhores que vêm o mundo dos seus gabinetes nas universidades, dos seus palcos culturais , entre outros nobres poleiros, não conseguem descodificar o que vai na cabeça da plebe. E entende-se o porquê: eles nunca o foram. Não é portanto estranho que à esquerda caviar irrite que essa gentalha de pé rapado, incapaz de interpretar um parágrafo de Marx , que enche concertos do Tony Carreira e vira costas à magnificência do cinema lusitano, vote de acordo com a sua vasta ignorância. É o socialismo snob pseudo-intelectual da capital que ainda há uns tempos lançou uma Jihad a um puto de 16 anos que fez pela vida, que troça da escolha de roupa de Passos Coelho e que já veio aqui defender que o povo era parvo porque via muitos American Pies. São estes os Revolucionários de ténis Lacoste.Como escrevi há uns tempos no Mises, estamos condenados a aturar o “maoista de rolex. Gente que afronta diariamente o modo de vida do mundo ocidental, com os seus supostos vícios, luxos e as suas injustiças, mas não dispensa um bom sapato de boutique italiana ou um voo de primeira classe para um show no Olympia em Paris.”
Felizmente para si, o povo terá sempre nestas figuras de alto garabito no mundo intelectual um guia para compreender o que é melhor para si, não vá pelo meio alguém descobrir que um foram um conservador autocrático alemão e um liberal inglês – um conde e um barão, respectivamente – quem construiu as bases do Estado Social. Reza a lenda que se o país pacato que (sobre)vive na crise viesse a saber como vivem e falam as altas cúpulas do PSD/CDS – e arrisco dizer do arco da governação – a esquerda radical teria uma votação avassaladora. A mim parece-me mais correcto admitir que, descobrisse o país como se vive e fala nas cortes da esquerda caviar esta estaria há muito a debater-se com a extinção. Esses sim são pobres. De espírito.
Nove histórias sobre a derrota de Costa
No Expresso, uma visão interessante sobre a componente tática do consulado Costista.
Relação espúria?
Via tweet do Hélder.
Dedicado a todos os que investem tempo a explicar uma ideologia menos imediata.
Pergunta socialista
Numa excelente peça da Renascença, perguntam duas apoiastes socialistas:
“Não percebemos. O que é que aconteceu? Onde estão os reformados que tiveram cortes nas reformas? Onde estão os pais que viram os filhos partir? Onde estão as famílias que foram obrigadas a perder a casa?”
Cristina Vasconcelos e Marlene Collaço, uma funcionária pública e uma professora, estavam atónitas.
Fácil, minhas senhoras.
Parte, com receio da instabilidade de Costa, decidiu votar Passos.
Parte, cansados com a instabilidade de Costa, votou Catarina Martins.
Dar uma cravo e outra na ferradura a cada semana não resulta.
E eu duvido que Costa tenha aprendido a lição, mas veremos.