Dia 5

Ontem, depois de um belíssimo jantar no Sokače, passei pelo La Nuit des Gitanes, onde, há uns anos, conheci o dono. Do seu nome não me recordo, mas lembro-me da sua história simples: um cigano sérvio, emigrado em Paris, que regressou a Novi Sad com dinheiro no bolso e orgulho em alta para montar o chiringuito onde conversámos ao som de um quarteto de músicos romani. Um caso de sucesso, como outros na Sérvia. Diz-se que os ciganos mais integrados e menos miseráveis da Europa Central estão nos países que antes formavam a Jugoslávia. Mas tal facto, se é verdadeiro, não é motivo para celebrar: os Roma jugoslavos estão muito segregados e são muito miseráveis. Só que um pouco menos do que os seus vizinhos romenos, húngaros e eslovacos.

P.S. Com o recente episódio francês que envolveu certos cidadãos da União Europeia, meio mundo reparou na utilização do nome Roma como designação politicamente correcta de “ciganos”. O que talvez não saibam, e aí temos a suprema piada, é que Rom — o singular de Roma — significa “homem” na língua romani. Se as feminazis descobrem deixam logo cair este termo que, para já, ainda é tão correcto e moderno.

Cokače, Novi Sad, 2010

A contar (16)

If somebody displays a ‘Balkan mentality’, for example, it implies a predilection for deceit, exaggeration and unreliability. As Yugoslavia began to desintegrate in 1989, generalization about the peoples who inhabit the region, and their histories, were spread by media organizations that had long ago outlawed such clichés when reporting from Africa, the Middle East or China. The Balkans apparently enjoy a special exemption from the rules against stereotyping.

Misha Glenny, The Balkans – Nationalism, War and the Great Powers

Kotor, Montenegro, 2006

A contar (19)

Wheter Belgrade was responding to the NATO attack, or wheter it merely went ahead to implement an ethnic cleansing program that it had planned in any event, remains the subject of dispute.  (…)

Miranda Vickers, a leading British expert on Albania, wrote recently that a majority of Albanians in Europe want to be unified within a single Balkan state, a Greater Albania. Such a program, if realized, would bring new boundaries to Serbia, Macedonia, Montenegro and perhaps Greece. (…)

David Fromkin, Kosovo Crossing

A Krajina? “Não nos interessa”. A Macedónia? “Não nos interessa”. O que interessa? “Montenegro, Kosovo e a Bósnia sérvia”. Tema: a Velica (Grande) Serbia. Local: Hotel Novi Sad (em Novi Sad, Voivodina) há alguns anos, apanhado no meio do remate final (ou seja, festa…) de uma reunião de um sindicato ou associação de camionistas. É caso para perguntar, quem tem medo da Grande Sérvia? E da Grande Albãnia?

A contar (20)

One century later, a young Russian journalist — later to achieve fame as Leon Trotsky — looked out of his carriage window as he travelled by rail from Budapest to Belgrade on the eve of the First Balkan War, and enthused: “The East! The East! — what a mixture of faces, costumes, ethnic types and cultural levels.”

Mark Mazower, The Balkans – From the End of the Byzantium to the Present Day

Avala Express (Budapeste-Belgrado), 2004

A contar (28)

Chegámos entretanto a Mostar. Nesta pequena e pitoresca cidade, tal como Sarajevo, de acentuada feição oriental, com mesquitas e minaretes, tivemos ensejo de apreciar – e de viver, ainda que por breves minutos – um quadro paisagístico formosíssimo, do mais encantador que temos visto na Europa.

Vasco Callixto, Viagem até às Portas da Ásia (edição do autor, 1969)

Mostar, 2003