Kathy Griffin – o João Quadros americano foi longe demais

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Primeiro, foi a imagem. Depois o pedido de desculpa (claramente falsa). Depois foram os ataques à esquerda (1, 2) e à “direita” (Fox). E aquela conferência de imprensa. E a controvérsia sobre Baron e o que ela tinha dito antes. E agora que a poeira assentou, são estas as opções da “humorista”.

Sobre este episódio, que provavelmente não viram na comunicação social portuguesa (lol), apraz-me apenas fazer os seguintes comentários:

  1. É legitimo gostar ou não de pessoas como o Presidente Obama ou o Presidente Trump. Sobretudo como Libertário. Incitações à violência é que não.
  2. Esta senhora foi longe demais. Aquela reação de Baron matou a carreira dela e meritoriamente. E não se perdeu nada.
  3. Que eu saiba, toda esta situação não passou na comunicação social portuguesa. Esta sempre foi enviesada para os democratas (para as elites de Clinton mais do que para a base progressista de Bernie Sanders pelo que me apercebo). Críticas a Trump passam e são aumentadas, este caso não passou. Critérios “editoriais”…
  4. Johnny Depp também já pediu desculpa, caso que foi comparado com este. A maré, na América, está a virar contra a violência gratuita.
  5. João Quadros tem uma conta de Twitter que já seria motivo para banir centenas de Milos Yiannopoulos. Mas este é intocável. Vivemos num campo muito inclinado.

 

João, o Quadros

Se algum estilo te definisse era este, João. Dali recorria ao génio e à técnica para pintar algo surreal numa tela em branco. Já tu és uma tela em branco algo surreal.
Se algum estilo te definisse era este, João. Dali recorria ao génio e à técnica para pintar algo surreal numa tela em branco. Já tu és uma tela em branco algo surreal.

João Quadros é um personagem sui generis. Desprovido de sentido de humor, embora se aclame humorista, escreve enfastiosas prosas que fazem do seu autor — dele — a piada. E como o que vende é, ou o muito bom, ou o muito mau, alguém lhe deu guarida.

Nesta sua última crónica, se é que o termo se apropria, e em que o autor surreal emprega sem recato o estilo naïf, Quadros lança-se numa querela contra Schauble e, logo de seguida, contra todos os alemães, generalização clássica do leitor que estreia o livro dos porquês. Bastaram dois parágrafos para surgir a piada com a deficiência física de Schauble. Ao fim dos oito que cerram penosa farolice suspeitamos que se tratou de uma lobotomia. A ter de escolher, muito sinceramente, preferiria a incapacidade de locomoção de Schauble.

 ***

Quadros vai a Munique. Não é um livro da Anita, que o supera em acutilância, mas relata uma história aveludada com equiparável sofisticação: foi e não gostou; os Alemães «são frios com os miúdos»; e — imagine-se — «a cerveja não é gelada». Já gelado é o lóbulo que restou.

No fundo, prestes a concluir assim a sua romaria cultural, «não chega a ser viver». O paralelo pode aqui ser estabelecido com as piadas de Quadros — no fundo, também não chegam a ser piadas. E perante tão astuto teorema estabelece um corolário de irremediável sensatez: «quem sabe viver são gregos ou portugueses». Especialmente quando sustentados por Alemães. Dos frios.

Finalmente, «malta», notem que eles são o «Dark Side of the Force». Assim, em inglês, que o estilo naif-romântico se presta ao barroquismo. E «quando os vencermos, numa próxima Guerra» — Quadros desempenhará a importante função de tronco num qualquer dique (em inglês pronuncia-se dick) —, é «fazer um Israel para eles», «lá para os arredores da Groenlândia (sic)».

Está bem, Quadros. Agora coloca o teu nome e vai entregar a redacção, que está muito linda.