Clara Ferreira Alves, personagem boçal e surreal que dedica a vida a decorar a cuspe citações de Alexandre O’Neill e a escarnecer Cavaco Silva, tem o mérito de conseguir, bastando para isso abrir a boca, despertar uma enorme solidariedade para com Cavaco, o que não é tarefa fácil.
Uma vez mais, Clara Ferreira Alves recorda-nos que Cavaco é um saloio. Curiosamente, acertou. É verdade, Clara. Cavaco é saloio. Cavaco é um tipo de Boliqueime — terra algarvia que as pretensas gentes de bem nem sequer sabiam que existia até, lá está, vir o saloio do Cavaco —, que ajudava o pai a cavar batatas. Depois estudou, trabalhou, esforçou-se, chegou a assistente, professor auxiliar, associado e catedrático, trabalhou no Banco de Portugal, depois 1º Ministro, Presidente da República, e é isto que enerva profundamente a esquerda caviar, que partilha com a direita ultramontana a proximidade com o berço — é que o saloio deu-vos 10 a 0. Não sabe distinguir o copo do vinho do copo de água, mas fez mais na vida dele que vocês, os vossos filhos e os vossos netos alguma vez farão. É como o fidalgo que nasce com a sua fortuna e vê o pobre a tornar-se burguês, a usar fato, e a ir passar férias onde o fidalgo, embora abastado, nunca foi.
Custa, não custa?