Boas Intenções + Ignorância e Incompetência = Resultados Desastrosos

A lei da oferta e procura é uma lei.

Pouco importa que não exista na história um único exemplo em que um governo tenha controlado os preços com sucesso; isto não impede que sob um manto de “boas intenções” os governos continuem a tentar.

Desta vez, o governo de António Costa, fazendo o frete ao Fernando Medina – e sendo um bom exemplo da ignorância, acefalia e incompetência que nos pastoreia – publicou um decreto-lei,que regulamenta que as comissões das plataformas de delivery ficam limitadas em 20%, e que estas ficam impedidas de aumentar os valores ou taxas de entregas (fonte).

Destaco o seguinte ponto que é importante: não foram os clientes que se queixaram das comissões; não foram os restaurantes que se queixaram das comissões; não foram os estafetas que se queixaram das comissões – foram o António Costa e o Fernando Medina, políticos de carreira que nunca trabalharam ou tiveram que gerir uma empresa a sério na vida, e que fechados no seu escritório e do alto da suas poltronas “acharam” e decidiram que as comissões eram demasiado altas.

E quais serão as consequências deste decreto lei? Perdem todos: os restaurantes, os estafetas, os clientes e as plataformas de entrega. Perde inclusivé o governo devido à redução da actividade económica.

Reproduzo aqui a excelente thread do Tiago no twitter. Para ser ser mais fácil a leitura, coloco a thread por completo como texto nest post.

  • Esta linda ideia do Estado Português, tendo em conta as percentagens das plataformas, vai colocar um garrote em todos: plataformas, restaurantes e estafetas, pelo menos na Uber Eats. Passo a explicar.
  • A Uber Eats cobra uma comissão de até 30% aos restaurantes, em cada pedido. Em contrapartida, também paga mais aos estafetas (embora por uma diferença curta, e só da entrega em si, não até à recolha), que come diretamente do que recebem por cada pedido mais a taxa (1,49-3,49€).
  • Para terem uma noção, a taxa de 1,49€ paga cerca de 0 (zero) km’s de pedido aos estafetas. Só recolha e entrega. A 2,49€ cobrem pedidos até 1km, a 3,49€ em média de 2 a 3kms no máximo. Tudo o que vai acima disto é coberto na barriga dos tais 30% da própria Uber.
  • O máximo em km’s possível são 10km’s de entrega e sim, acontece e eu já fiz pelo menos duas ou três delas. Acontece sobretudo mais à noite e de madrugada, quando menos restauração está aberta = mais distâncias a percorrer.
  • Esta medida vai empobrecer, e vou usar caixa alta para que se entenda bem, MUITO SIGNIFICATIVAMENTE, todos quantos usem a Uber Eats para entregas. Limitados a 20% de lucro (= 2€ por cada 10€), é facilimo ver que não há dinheiro para pagar aos estafetas.
  • Procurando garantir o seu lucro, a Uber Eats passará a contar com pedidos que, quase de certeza, não poderão distar mais de 1km do ponto de entrega. A generalidade dos pedidos fica dos 15€ para baixo (como é óbvio – estamos em Portugal) e isto é já numa situação de lucro nulo.
  • Os estafetas terão de andar MAIS para ganhar MENOS em cada pedido, e este problema, especificamente na Uber Eats, vai criar manchas ENORMES de inoperacionalidade de serviço por não ser rentável a entrega. Há zonas que ficarão sem qualquer serviço em centros de cidades!!!
  • Na cidade do Porto, por exemplo, os restaurantes-âncora do McDonalds não estão uniformes pelo concelho, estando ou encostados à Boavista ou à zona oriental. Zonas como Foz do Douro, Pasteleira, Cedofeita, Galiza/FLUP, Bom Sucesso e outras ficam sem restauração após as 21/22h!
  • Isto porque o efeito de limitação dos McDonalds + o fecho de outra restauração, sem pedidos para fazer + o fecho mais cedo de outra restauração vai criar um efeito altamente destrutivo com manchas inteiras sem serviços!
  • E que dizer de, por exemplo e assim só de cabeça, Gaia? Metade de Canidelo, toda a zona de Valadares, metade de Oliveira do Douro e toda a baixa de Gaia, após o término das 21h/22h, ficarão sem qualquer serviço.
  • Serviços essenciais da GALP para desenrascar ao domicílio? 85% do Porto fica sem serviços porque só há 3 bombas com isto: Freixo V8, Senhora da Hora / Caolinos e a da Foz do Douro. Idem para Gaia.
  • E que dizer de Espinho, que meio concelho vai logo à vida especialmente a sul? De São Félix da Marinha e Arcozelo sem qualquer cobertura sem ser dos parcos e caros restaurantes locais? De Gondomar, com tudo concentrado em Rio Tinto e o sul a pedir de lá???
  • Da Maia, que é um concelho grande em área e que até agora era alicerçado em pedidos ou do centro, ou de Moreira, ou vindos de Pedrouços e Águas Santas, deixando 40% do concelho sem cobertura? Nem sequer vou falar de Valongo que era para rir…
  • A estupidez acéfala destas medidas vai tão longe que na própria cidade de Lisboa, que é enorme (!!!) e toda ela baseada a deslocações MUITO superiores a 1km, como quem sabe quem já lá foi, vai haver várias franjas de zonas sem serviço na Uber Eats!
  • Só assim de cabeça: partes do Lumiar, quase toda a zona industrial, talvez metade dos Olivais, metade de Belém, talvez 1/3 da Penha de França, o extremo norte do Parque das Nações, entre outras zonas.
  • Esta medida é uma aberração técnica do lado da Uber Eats.
  • Mesmo que eles reduzam o valor das entregas para os estafetas para os níveis da Glovo (seria uma catástrofe porque não pagam o acesso ao restaurante, só a entrega), vai continuar a haver zonas sem cobertura porque a limitação deverá andar pelos 2/3 km’s de máximo.
  • A Glovo vai ser muito menos afetada porque já pagava menos por km e já se baseava num modelo de chamar ao restaurante para pedidos muito próximos, e é possível que mantenha as tarifas intactas. Ainda assim, continuará a haver constrangimentos acima de 4km e zonas sem serviço.
  • Fica fácil, portanto, de concluir, que esta medida mais não é que um ataque direto do Governo e do PS, após as declarações de Fernando Medina, à posição da Uber Eats no mercado português.
  • Quem perde? Todos.
  • Os restaurantes, que vêem o seu raio de ação severamente reduzido e o seu ganha pão encurtar; os estafetas, que verão limitações ao seu serviço e ao planeamento da sua mobilidade que são agora muito pouco previsíveis; as plataformas, porque passarão a ganhar, no máximo, 5%; e os consumidores, o Cliente, que terá muito menos oferta e ver-se-á dificultado em plenos centros urbanos para fazer um simples pedido miserável.
  • Esta medida matará a restauração, deixará os estafetas no limite, tudo, para limitar os lucros de uma única plataforma: a Uber Eats.
  • Teoricamente não parece, mas na prática é isto. É uma jogada de mestre do António Costa e do Governo porque, escudando-se na suposta moralização do consumo e do pagamento, faz o gosto a Fernando Medina e ataca diretamente a maior ou segunda maior plataforma em Portugal.
  • E quem me dera estar errado… Mas já vão ver amanhã o que vai acontecer, se tentarem fazer um pedido. Vai ser… bastante complicado. Não sei como vai ser nem a minha vida, nem as dos meus colegas.

Leitura Complementar: Uber Eats diz que limite nas comissões vai prejudicar todos os que usam a aplicação

Execução de Passadeira. Em apenas 4 semanas (!)

Execução de Passadeira.jpg

Creio que o cartaz tem um erro na palavra “horas”, na linha “Duração prevista”.

Citando João Caetano Dias: Uma passadeira. Uma. Quatro semanas para executar uma passadeira. Quatro traços, quatro semanas. Centenas de cartazes de propaganda. Uma passadeira. É o delírio.

Coisas Que Nem Inventadas

Às vezes fica difícil distinguir entre notícias em Portugal e sketches dos Monty Python.

Ao mesmo tempo que a Câmara de Lisboa legisla no sentido de limitar o alojamento local (fonte), a própria residência oficial do presidente da Câmara de Lisboa encontra-se disponível para alojamento local (fonte).

O link para o booking.com é este, e deixo abaixo o screenshot para a posteridade – clicar na imagem para ampliar.

Ainda sobre este caso, recomenda-se que sigam o twitter do Tiago Silva.

A Revolução Nos Transportes De Fernando Medina

Fernando Medina, o presidente da câmara de Lisboa, propôs ontem uma “transformação radical” do preço dos transportes.

E em que consiste essa “transformação radical“?  Consiste em colocar todos os contribuintes portugueses – desde Viana do Castelo até Vila Real de Santo António – a pagar em impostos (retirados do seu àrduo trabalho) 65 milhões de euros por ano – todos os anos, aos utentes dos transportes públicos lisboetas! Genial! Grande revolução! Temos homem (a fazer propaganda e compra de votos com o dinheiro dos outros)! E isto considerando que:

  1. Lisboa tem os melhores transportes públicos do país.
  2. Lisboa tem o maior PIB per capita do país. A existirem transferências do orçamento do estado em nome da coesão e solidariedade social, seriam certamente para as regiões mais pobres do país, e nunca para as mais ricas – especialmente até um socialista deveria ser capaz de perceber isto.
  3. Ainda este ano, a câmara recebeu a custo zero a Carris do estado – ao mesmo tempo que o estado assumiu as dívida, os custos com swaps e os complementos de pensão da mesma – um presente de todos os contribuintes para a câmara de Lisboa e para os Lisboetas avaliado em 700 milhões de euros (fonte).

Mais ainda, o mesmo génio iluminado Fernando Medina, indica que o objectivo desta  medida é que os Lisboetas passem a usar mais os transportes públicos em detrimento do carro próprio. Já para não falar do aspecto mais importante na escolha do meio de transporte que é ter uma oferta adequada (em cobertura e horários), coloco aqui abertamente duas questões ao Fernando Medina para testar a sua coerência e honestidade intelectual:

  1. O Fernando Medina actualmente desloca-se em Lisboa usando carro ou transportes públicos?
  2. Sendo o objectivo desta medida substituir o uso do carro por transportes públicos, com a redução do valor dos passes mensais, no caso do Fernando Medina se deslocar actualmente usando carro, vai passar a usar transportes públicos?

Sucessor de Costa na CML

www.tvi24.iol

O sucessor de António Costa na Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, é economista e toca piano. Só falta acrescentar que esteve nos dois mandatos de José Sócrates e acha que este fez “coisas grandiosas” (sic). Deve estar a referir-se, presumimos, às grandiosas auto-estradas, ao grandioso esbanjamento do Parque Escolar e ao grandioso aeroporto de Beja. E também acha que não podíamos ter evitado esta crise, que nem o navio de Ulisses atraído pelas sirens nos poemas épicos de Homero.

Esta “renovação” do PS é um prelúdio do que implica a mobilização de António Costa. E valida o organograma já aqui apresentado.