Sic transit…

Entretanto passou despercebido este momento do governo. Os ATLs e as famílias, na Sexta-Feira, estavam preparados para poder arrancar na Segunda-Feira a operação normal. Já depois do fecho de expediente, o governo anuncia que não, só dia 15. E nesse dia 15, só os ATLs fora dos estabelecimentos escolares, uma distinção nunca antes feita na comunicação do governo e sem qualquer sentido, os restantes (nos estabelecimentos escolares) esperam até ao final do ano lectivo.

A decisão, avançou o primeiro-ministro, decorre de uma necessidade de preparar a organização dos espaços onde se desenvolvem estas actividades.” – esta declaração do primeiro-ministro é um disparate. Haveria certamente espaços que precisariam de mais tempo e espaços que já se tinham organizado. Como já se tinham organizado as famílias para ter um pouco mais de normalidade e os seus filhos nos ATL – ou não, numa escolha livre.

O que aconteceu foi muito simples, e é por isso que houve o adiamento e por isso que houve a separação entre ATLs em escolas e ATLs fora das escolas: a FENPROF não quer que as escolas abram e ameaçou o governo de uma barragem na comunicação social sobre uma suposta impreparação das escolas para abrir, culpando o governo sobre vidas supostamente colocadas em risco. E quem paga a factura desta loucura? Os pais, as famílias e o país que continua bloqueado enquanto tivermos o AVANTE para abrir mas as escolas fechadas. E foi isto, assim na Sexta-Feira e pela calada. E pouco mais de cinco linhas na imprensa.

#NogueiraBem

Vejo muita gente indignada por Mário Nogueira ainda não ter saltado à jugular de António costa quando o fez perante iguais declarações de Passos Coelho sobre as – aliás, evidentes – oportunidades no estrangeiro para os professores que cá não obtêm colocação.

Queria defender aqui um pouco o nosso ministro da educação: Mário Nogueira sabe comportar-se com lisura política. Discordará em privado e di-lo-á ao seu líder, mas não fará em público a desfeita de atacar o seu primeiro-ministro. É o que se espera dum soldado disciplinado.

Professores: há que separar o trigo do joio

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Fonte: Our World In Data

O gráfico acima, aparentemente complexo mas de simples interpretação, ilustra bem a importância do professor na performance dos discentes, uma observação muitas vezes contestada pelos romeiros do eduquês, que insistentemente se resguardam no contexto sócio-económico, Santo Graal para os fatídicos resultados da escola pública — os republicanos-laicos-excepto-para-construir-mesquitas-em-Lisboa que me perdoem a referência pia.

Vejamos. O gráfico no canto superior esquerdo ilustra o efeito da entrada de um bom professor. Existe claramente um aumento significativo da apreciação escolar dos alunos, medida no eixo vertical, criando um gap com a média. Em contraste, a entrada de um mau professor, cujo efeito está ilustrado no gráfico do canto inferior esquerdo, gera uma clara degradação dos resultados dos alunos.

Se este efeito causal é consistente, então o efeito nos resultados dos alunos deverá verificar-se também quando um bom ou um mau professor abandona a turma. Efectivamente, este efeito verifica-se. No canto superior direito temos o efeito da saída de um bom professor, que diminui o gap positivo existente, e no canto inferior direito temos o efeito análogo no caso de um mau professor, que revela que os resultados recuperam face à média.

Posto isto, deveria parecer claro que o sistema educativo deverá estar montado de forma a que os pais e as próprias escolas consigam identificar os bons e os maus professores, separando o trigo do joio, e criando também incentivos a que os maus se esforcem e melhorem a sua prestação. Certo? Errado.

Existe um motivo claro pelo qual a FENPROF não quer a avaliação dos professores: porque não quer a heterogeneidade, não quer a diferenciação, não quer a distinção dos bons profissionais dos maus profissionais, porque isso quebra a uniformização da classe operária, da unidade sindical. E a FENPROF permite-se a isso porque o objectivo do sindicato não é obter o melhor sistema de ensino possível, público ou privado, mas salvaguardar única e exclusivamente os interesses dos seus professores — em particular os maus, que os bons não precisam dos sindicatos para rigorosamente nada. E os interesses desses estão melhor garantidos dentro de um sistema público e estatal, centralizado e controlado pela FENPROF.

O desfecho dos contratos de associação, mecanismo que, não obstante alguns deméritos (uma solução ancorada no cheque-ensino seria claramente preferível), permite às escolas escolherem os seus professores, os melhores — único garante que lhes garante os alunos. Uma coisa boa para os alunos, boa para os pais, e por efeito das externalidades positivas que gera, bom para todos. Excepto, claro, para a FENPROF. Assim, continuaremos com os concursos de professores via 5 de Outubro, manietados, claro está, pelo verdadeiro Ministro da Educação, Mário Nogueira.

Mário Nogueira no seu melhor

Sintomático do estado do país. Mário Nogueira é inimputável, inatacável, apoiado por inúmeras figuras do regime, do poder político (nacional e local) ao escrito. Diz os disparates que quer e nada. Defende a Revolução Bolivariana e nada. Insulta todos e nada. Manipula influências e nada. Enquanto não se desfizerem estes centros de poder, a Educação continuará no actual caminho de perda contínua de qualidade e o futuro do país é que está em causa. O verdadeiro Ministro da Educação é o líder da FenProf, e ele terá que ser substituído por alguém de ideologia muito diferente, ou o caminho está traçado.

Mário Nogueira fala de si na 3ª pessoa?

Aparentemente sim. Reparem o que ele diz sobre o deputado e presidente da JSD Hugo Soares, que é genericamente o seguinte: Eu sei que ele tem dificuldade em perceber isso, pois ele nunca fez nada em que enfrentasse as dificuldades da vida e ganha cerca de 3.000 Euros. Agora está ali instalado e quer saber quanto os outros ganham, o que quer dizer que tem défice de democracia. Se um dia obtivesse um emprego e soubesse o que era a vida, era capaz de não ser mau…

Creio que ele falava do Presidente da JSD porque falou em juventude, o que ele próprio claramente não é. Mas quanto a viver numa redoma livre de qualquer risco, ganhar 3.000 Euros, não ter sentido democrático e ter dificuldade em perceber o mundo que o rodeia, creio que estamos falados…

PS: estive sem ver televisão uns dias e esta escapou-me na altura. Peço desculpa por a notícia já ter uns dias.

Mário Nogueira, o Zelota da “Igualdade”

Função Pública exige o mesmo tratamento dos professores.

Excerto:

A Frente Sindical da Administração Pública (Fesap) vai exigir ao Governo abertura para alterar as propostas relativas à mobilidade especial e ao horário de trabalho para os trabalhadores das carreiras gerais e especiais, tal como aconteceu com os professores.
“Congratulamo-nos com as cedências do Governo na negociação com os sindicatos dos professores, mas esperamos igual abertura para tratar os trabalhadores do regime geral e das restantes carreiras especiais da mesma forma”, disse ao Económico José Abraão, da Fesap.
(…)
“Não queremos acreditar que o Governo se assume forte com os fracos e fraco com os fortes”, disse ainda o dirigente da Fesap.
José Abraão lembrou ainda que também na negociação com os sindicatos dos médicos, o Governo cedeu, ao aumentar o horário para as 40 horas, mas com o devido pagamento salarial.

Naturalmente, a Fesap tem razão: ou é para todos, ou não é para ninguém.

Depois leio também este comentário na notícia:

Os Privados exigem o mesmo tratamento dos funcionários públicos!

O comentador no Diário Económico também tem razão: ou é para todos, ou não é para ninguém.

Depois deste episódio, ficam as seguintes questões:

  1. Quando a questão era a Igualdade, aquando do acórdão do Tribunal Constitucional, o sr. Mário Nogueira era dos seus maiores defensores.
    Ele sempre foi hipócrita ou é algo mais recente?
  2. Em relação à Igualdade, agora que é evidente que é contra esta na prática, ainda a defende na teoria?
  3. O que é que faz com que os professores mereçam tratamento especial quer entre os cidadãos em geral, quer entre os funcionários públicos em particular? Há algum racional pensado e estruturado para justificar tal tratamento preferencial?
  4. De todas as profissões em Portugal, é a de professor aquela em que se têm piores condições? Nenhuma outra profissão mereceria mais atenção por parte do governo?
  5. Quanto custa e quem paga este direito excepcional dos professores? Ou essas são questões demasiado terrenas para quem se dedica a questões “de princípio”?
  6. Se a profissão tem especificidades, porque é que as mesmas especificidades não se aplicam aos professores do privado?

A questão 3 (justificação para a excepcionalidade), 4 (exemplos de outras), 5 (contas) e 6 (professores de 1ª e de 2ª) eu gostava de ver respondidas.
As outras são opcionais e exigem uma frontalidade e uma fortaleza (no sentido cristão) de espírito que não estou à espera por parte da personagem. Mas pode ser que alguém saiba as respostas…

Conversas com alunos

Tendo dado o testemunho de um professor do ensino público, resta ouvir os alunos. Transcrevo aqui, para quem não apanhou, o testemunho de uma aluna da Escola Secundária Gabriel Pereira em Évora. A peça foi transmitida pela SIC Notícias.

“Só esta confusão toda, as notícias, os próprios professores antes das aulas acabarem [que] estavam sempre com esta conversa… acho que isto perturba-nos um bocadinho. Eu, pelo menos, dou por mim […] estou a estudar para Português e penso.. será que vale a pena? Às vezes até fico com um bocadinho menos de motivação para estudar. Compreendemos o lado deles […], que se sentem injustiçados e com medo do que poderá acontecer no futuro […], mas pedíamos que compreendessem também o nosso.

Continue a ler “Conversas com alunos”

Conversas com professores

Transcrevo aqui uma conversa verídica tida ontem com uma professora de ensino especial (crianças com deficiência) a leccionar no ensino público que, tanto quanto sei, é uma excelente profissional. Teve recentemente de leccionar em Sintra (reside no Norte) na sequência do regime de mobilidade especial.

— “Eu acho muito bem que os professores se estejam a manifestar! É inaceitável o que está a acontecer. Acho muito bem esta greve!”
— MAL: “Então? O que é que reivindicas?“
— “As 35 horas e o regime de mobilidade especial. Mandar os professores de um lado para o outro!”
— MAL: “As 35 horas é uma questão de equidade entre funcionários públicos. À luz da lei deveremos ser, efetivamente, iguais. Mas vocês só trabalham 35 horas?”
— “35? Trabalhamos bem mais do que isso. Temos aulas para preparar e exames para corrigir.”
— MAL: “Então, na verdade, isso não vos faz qualquer diferença. Se já trabalham mais de 35 horas, certamente que a alteração para 40 é meramente estética. É uma questão de princípio. De equidade.”
— “É… mas o regime de mobilidade especial é inaceitável!”
— MAL: “Eu concordo contigo. Até vou mais longe. O atual sistema público de educação é inadequado, antiquado e injusto. O sistema deveria ser descentralizado, experimentalista, e as escolas deveriam ter total autonomia, podendo decidir que professores contratar e despedir, como leccionar as aulas e ainda que conteúdos leccionar, com algumas bases em comum, naturalmente. Mais, o financiamento seria entregue aos encarregados de educação e não às escolas, permitindo assim que alunos pobres possam ter as mesmas oportunidades de acesso às melhores escolas. Hoje em dia, eles são obrigados a frequentar uma determinada escola, por muito má que ela seja. Não me parece justo. E assim diminuíam também os mismatches na mobilidade. Um professor que vai de Lisboa para o Porto ao mesmo tempo que um do Porto vai para Lisboa, quando ambos poderiam provavelmente permanecer na sua cidade.”
— “Oh, mas isso demora muito tempo a implementar. Não seria para agora.”
— MAL: “Ok. No curto prazo. Coloca-te no papel do Nuno Crato. Que farias? Existem três hipóteses. 1) Despedir mais uns milhares de professores; 2) Continuar a atribuir horários zero; 3) Transferir professores para onde eles são necessários.”
— “Horários zero, nem pensar. Deprime ficar sem fazer nada.”
— MAL: “Então, que farias?”
— “Pois, não sei.”

A conversa terminou subitamente, tendo-se desvanecido o tom exasperado com que se iniciara. Não sei se a convenci, mas tentei transmitir a perspectiva de quem está de fora. É compreensível que os professores — e qualquer outra pessoa, especialmente pais e alunos — estejam descontentes com as recentes reformas da educação. Mais burocracia e mais trabalho improdutivo que acrescenta zero à formação dos alunos. O objectivo do brilhantismo estatístico, para que Portugal figure num percentil bacano nas estatísticas europeias. Uma enorme entropia introduzida no sistema, que mina o trabalho dos professores, a aprendizagem dos alunos e a paciência dos pais. Pais que não podem escolher o futuro dos seus alunos. Em boa verdade, todos deveriam estar a fazer greve, mas por outros motivos.

Raquel Varela? Please…

Escrevi há 2 dias um artigo atacando auto-proclamados “professores” que na verdade pouco mais são que sindicalistas e que pensam mais na sua carteira que nos seus alunos – peço desde já desculpa aos que fazem a opção contrária e não mereciam a associação – e disse que é preciso ter coragem para exigir que o Estado resolva o seu défice com mais receita e não com menos despesa, ainda para mais quando os impostos são lançados sobre uma população que ganha – em média – 777 Euros e quando os professores são desde meados da década de 90 uma classe privilegiada.

Logo um tal João José Cardoso me chamou de ignorante porque… nem sei bem porquê, simplesmente chamou. Respondi com uma perguntaQue Impostos se deveriam aumentar para poder manter o nível actual de financiamento das escolas públicas em Portugal? Afinal, se não se corta na despesa, que aumento de receita propõe o meu oponente que seja fiscalmente neutra. Vamos lá a ver, eu por mim gostava que todos fossem milionários, mas não vivemos na Terra do Natal e desde crianças todos aprendemos a fazer escolhas: ou vejo televisão, ou brinco com os colegas – não é possível viver uma vida sem fazer escolhas.

Mas aparentemente há quem deseje que sim. O mesmo João José Cardoso responde-me dizendo que “O ensino público não precisa de mais impostos“. Curioso sobre se a solução é uma guerra com extra-terrestres como advogada por Paul Krugman, ou algo ainda mais criativo, segui o link e, qual não é a minha surpresa quando o meu adversário nesta contenda me brinda com uma brincadeira? Aponta para o livro “Quem Paga o Estado Social em Portugal?” da fundadora da Raquel Varela Business School.

A mesma especialista em dívida pública que diz que Portugal em 2012 financiou-se a 57%, que o pagamento da dívida devia ser suspenso (porque não repudiar a dívida de vez?) e que a dívida é uma renda privada de alta rentabilidade porque baseada na transferência de salários para a carteira dos investidores“. Vejam o link  da Raquel Varela Business School em que o Noronha explica isso. Eu não tenho pachorra. A minha avó, sem nunca ter ido à escola e tendo aprendido contas com os irmãos, sabe mais de Economia do que esta senhora. Evocá-la é desistir de argumentar. Esta discussão acaba aqui porque chegou-se ao nível do disparate. Um dia destes divirto-me com a Raquel Varela e com o que ela diz (ela tem afirmações do mesmo calibre numa entrevista à Económico TV que vou tentar recuperar). Esta discussão estava a correr bem e não havia necessidade.

PS: O tag com o meu nome no Aventar não funciona. Podiam ao menos corrigir isso.