
Com a argúcia estratégica da ígnea, Tsipras entrou com a Grécia, a reboque do partido que elegeu, num beco sem saída. A posição de espartano confrontador dar-lhe-á aquilo que ele jura não querer, a saída do Euro — embora seja evidente que a quer —, não assumindo porém a responsabilidade por essa decisão. O plano é simples: forçar a ruptura que liberta a Grécia desse despeito que são as regras orçamentais (i.e., a realidade, a responsabilidade fiscal, o dogma ideológico de que 1 + 1 = 2), que o impedem de implantar o sonho venezuelano. Ao mesmo tempo, culpa a Alemanha, a Europa, enfim, os neoliberais, pela inflexibilidade. Uma vitória interna tácita, pois encontra a quem possa remeter as culpas pelo sofrimento que acalentará os gregos, pelo menos os que têm eletricidade grátis, nos anos vindouros, e a certeza que poderá continuar a prometer estender as praias de Corfu a Atenas.
Mas o plano falhará por vários motivos. O primeiro é de ordem económica. O eleitorado grego deixou-se seduzir pela promessa vã, pelos cantos das Sirens, pela demagogia. Em suma, por aquilo que tão bem caracteriza a extrema-esquerda, a irresponsabilidade lunática. Enquanto país soberano são decisões legítimas do seu povo. O que não podem exigir é que sejam os outros a pagar a euforia. Compreende-se que os restantes países, particularmente os que estão sujeitos a fortes medidas de consolidação orçamental e austeridade, não queiram suportar a folga dos gregos. Até porque a Grécia já beneficiou de dois resgates que ascendem a 240 mil milhões de Euros, e beneficia ainda das taxas de juro mais baixas de toda a periferia, em alguns casos com um custo para as próprias instituições europeias.
Mas falhará primariamente por uma questão de ordem política. A cedência da Europa perante o discurso chantagista da esquerda radical, de Das Kapital em riste, abriria perigosos precedentes para outras papoilas saltitantes por essa Europa fora. Em particular em Espanha, galvanizando assim o temerário homem do rabo de cavalo, Pablo Iglesias. E de Espanha a França ou a Itália é um instante. Portugal safa-se, não porque os lunáticos não existam, mas porque têm o carisma de um cabide, embora não esteja imune a desvarios da ala proto-lunática do PS, a dos jovens turcos.
Se a Europa nunca aceitaria a chantagem de um Governo de extrema-direita, e bem, também não deve agora subjugar-se aos ditames de tolinhos que seguram a pistola contra a sua própria cabeça, ameaçando premir o gatilho se eles — nós — não fizermos o que eles querem. Pois que disparem.