Emissões de dívida soberana a taxas de juro negativas, algo que nunca antes acontecera, é mais um sinal dos tempos únicos que atravessamos. Um bom sinal para a União Europeia e para a Zona Euro em particular será a uniformização das taxas de juro pagas pelos diferentes Estados Europeus, o que irá significar o melhorar de toda a situação Europeia, mas a meu ver isso não irá acontecer, antes pelo contrário. Foi descoberto um ponto fraco da Zona Euro e os investidores mais agressivos estão a aproveitar esse facto. A única maneira séria de resolver o problema é o da mutualização das dívidas o que, inevitavelmente, ainda irá gerar muita discussão.
in “O Paradigma das yields negativas” de Francisco Lopes (Jornal de Negócios)
Que o descontrolo da despesa pública e do endividamente público e privado no “Clube Med” tenha sido incentivado pela “uniformização” das taxas de juro após a introdução do euro é algo que o autor das linhas supra parece não se aperceber. Não nos parece agora credível que os países do centro e da periferia tivessem acesso ao credito nas mesma condições mas foi isso mesmo que sucedeu na última década. Verdade seja dita que ninguém nos apontou uma arma à cabeça obrigando-nos a acumular dívida. Ainda para mais em tantos projectos de rentabilidade mais que duvidosa. A tal anestesia associada à esperança que mais cedo ou mais tarde alguém (leia-se, a Alemanha) viria pagar a conta fizeram o deleite de muitos governantes. Até que a realidade lhes bateu à porta e descobriram que os alemães estavam muito pouco inclinados para pagar contas alheias.
Desta feita, insistir na mutualização da dívida é recompensar o infractor e esperar por uma nova “uniformização” das taxas de juro é completamente inverossímel. Da mesma forma, esperava que por esta altura não fosse motivo de espanto as yields negativas que beneficiam os países com finanças públicas e economias mais sólidas. E que mesmo assim não convence muitos que preferem parquear os seus activos longe do alcance dos políticos da UE.