Web Summit Cá Na Província

Portugal é, modo geral, um país bem provinciano. A organização da Web Summit dá origem a todo o tipo de delírios sobre o país, de onde destaco um dos delírios do presidente da república que afirmou que com a Web Summit “Lisboa, Portugal, tornou-se na cidade e país chave da revolução tecnológica” (fonte).

Já o nosso primeiro-ministro, com o pensamento vazio e discurso boçal com que nos habituou, afirmou no twitter que “Portugal é uma sociedade aberta e inovadora onde admiramos os empreendedores e celebramos a tecnologia“.

Perdão??? Não sei em que realidade é que António Costa vive ou que país é que ele pensa que governa, mas vejamos como Portugal “admira os empreendedores e celebra a tecnologia”:

  • Quarto país da OCDE com a maior taxa marginal de impostos – 72%!!! (fonte)
  • Quarto país da OCDE com a maior taxa de imposto efectivo sobre as empresas – 27,5%!!! (fonte)
  • Intenção declarada de aumentar a progressividade do IRS (fonte) assim como de forçar ao englobamento no IRS de outro tipo de rendimentos (fonte)
  • Intenção declarada de António Costa de defender a taxação dos gigantes do digital (fonte) – e isto, pasme-se, afirmado na própria Web Summit.
  • Larga maioria (15 em 21) da votação dos eurodeputados portugueses a favor do Artigo 11 (link tax) e do Artigo 13 (filtros de upload) (fonte).
  • Descida em cinco lugares no ranking Doing Business, encontrando-se Portugal agora na posição 39 (fonte).
  • 62º lugar no índice de liberdade económica de 2019. Considerando apenas os países Europeus, Portugal está na 30ª posição entre 45 países. (fonte).
  • 34º lugar no Global Competitiveness Report 2019 sendo que em termos de flexibilidade laboral (muito importante para o empreendedorismo), Portugal encontra-se em 121º lugar (não é engano, é mesmo 121) entre os 141 países analisados (fonte).
  • Uber – desde a ser considerado ilegal, inclusivé com interdição de acesso ao site http://www.uber.com, até uma regulação muito apertada que – cereja em cima do bolo – inclui uma taxa de 5% por viagem para a regulação e supervisão (fonte).
  • Alojamento Local – uma regulação muito apertada (fonte) e ainda mais restritiva e até impeditiva em Lisboa (fonte), local onde se realiza a Web Summit.

Enfim – só alguém muito alucinado ou muito demente seria capaz de afirmar que “Portugal admira os empreendedores e celebra a tecnologia”. Não se poderia esperar um discurso muito diferente de um primeiro-ministro a todos os níveis medíocre; que fez toda a sua carreira na política; e que nunca criou uma empresa ou emprego que fosse. António Costa viverá certamente num mundo de vacas voadoras.

Quer ser empreendedor? Tenha juizinho…

Liberal de alma e coração, há 10 anos atrás troquei um emprego certo, bem remunerado – e pago por todos vós – pela aventura de trabalhar por conta própria. Estava convencido que, com trabalho, competência e imaginação poderia singrar e ascender profissional e socialmente por essa via. As regras eram simples: menos segurança, menos regalias, mas para compensar tinha menos custos em contribuições e mais liberdade de gerir o meu tempo (sem que isso significasse trabalhar menos tempo, muito antes pelo contrário).

Puro erro!

As mudanças constantes das regras e o puro desprezo que o Estado dedica a quem ousa ser independente da função pública, do patrão ou dos sindicatos alterou o paradigma e, sem atribuir nenhuma vantagem, transformou os “malandros dos independentes” (os verdadeiros independentes) nos maiores contribuintes nacionais e, provavelmente, europeus… sem nenhuma contrapartida palpável e sem qualquer tipo de segurança acrescida. Apenas pagar, demencialmente mais, e passar horas a tratar de burocracias relacionadas com o fisco e a segurança social, essa onerosa e monstruosa muralha intransponível e cada vez mais incompetente (são erros atrás de erros e, no mínimo, meses para os resolver).

Após o consulado socrático (e sem melhorias com a entrada em cena do CDS, até então o grande defensor da causa dos independentes) hoje em dia luto, desesperadamente, apenas para pagar contribuições e impostos e impostos sobre as contribuições e, pelo meio, não perder a casa, os filhos e a dignidade.

A razão, compreendi-a muito tempo depois, é porque todas as partes envolvidas no processo (sindicalistas, advogados, deputados) “encontraram” alçapões na lei à sua medida, isentando-os a todos da receita que prepararam para os independentes a 100%, ou seja, sem qualquer outro vínculo laboral. Eles simplesmente estão isentos de pagar contribuições demenciais sobre o valor apurado pelo trabalho independente!

Então dedicam-se a assobiar para o ar e esperar que nada disto venha a lume. Já imaginaram que aborrecido seria pagar contribuições sobre o valor de um parecer ou de um comentário de televisão, como vulgares independentes “dos outros”?

Pois…

No fundo, este caso da perseguição aos independentes revela o retrato do país, formalmente liberal, mas na prática de mente socializóide estatizante, com uma mole de servidores improdutivos porém cheios de esquemas e raivinhas, sendo o conjunto dominado por uma total ausência de ética e respeito por que se esforça, verdadeiramente para produzir e ajudar o país a crescer.

Lagarto, lagarto!…

Comentário do leitor Ricardo Cerqueira no post sobre a iniciativa na Maia. Negritos meus.
Numa sociedade onde os criadores de empregos são atacados constantemente, crescerá o desemprego.
Numa sociedade em que os investimentos [sic] são deste teor (que me recuso a sequer qualificar em público).
Numa sociedade não é de estranhar que na última década o crescimento tenha sido de cerca de 0%…