Sem inflação, há que mudar de vida; ou cair

O facto de os governos de Estados soberanos democráticos poderem controlar a criação de moeda a seu bel-prazer é quase invariavelmente uma calamidade. Permite a tais governos os mais sinistros desmandos recorrendo às fraudes mais desonrosas.

Permite a esses governos gastarem o que não têm, endividando-se para não terem de pagar o preço político do levantamento dos impostos em falta (mais tarde alguém há-de pagar. Ou não).

Mas isso é em boa medida possível porque, criando moeda, esses governos podem, num segundo momento, desvalorizar a unidade monetária em que antes emitiram dívida, inflacionando, dando dois golpes com um só tiro: nos cidadãos, a quem cobram um imposto não declarado, num acto que só pode ser classificado como extorsão, e nos credores, a quem pagam menos do que se comprometeram a pagar, violando materialmente o contrato de dívida, já que pagam numa moeda degradada, num acto que não estou a ver como possa ser compreendido senão também como a mais pura extorsão.

A ilusão fiscal casa-se assim com a ilusão monetária para criar o grande jogo de sombras que vicia e – sejamos claros: desnatura, desvirtua – a democracia.

Neste sentido, a criação da moeda única, da União Económica e Monetária, ao retirar aos governos nacionais a prerrogativa da criação monetária, não só desgovernamentalizando, mas desnacionalizando até o controlo da moeda, acaba por se ser, paradoxalmente, um corretivo extremamente salutar às regras do jogo democrático, diminuindo significativamente a possibilidade de fraude e extorsão. Politicamente falando, digamos, o euro limpou o ar democrático.

O problema português, o nosso problema, foi o não ternos sido capazes de nos adaptarmos a uma atmosfera mais sadia, menos propícia ao desmando e à mentira.

Muitas vezes se tem referido que viver com moeda sã implica depender na íntegra dos ganhos de produtividade e da capacidade de inovar, se quisermos conservar a competitividade; que tudo se passa a jogar no lado real da economia; e que, ao termos descurado essa lei de ferro, caímos numa armadilha, que nos atolou numa crise gravíssima, de que ainda não saímos inteiramente.

O diferencial de inflação que registámos face aos nossos parceiros ao longo das últimas décadas traduziu-se numa apreciação real, que erodiu a competitividade das nossas empresas e exilou tendencialmente a economia no sector de bens e serviços não transaccionáveis, protegidos da concorrência externa e alimentados por uma procura interna insustentavelmente inflacionada.

Já não é tanto costume relacionarmos a mudança de regime monetário com o imperativo de mudança de regime fiscal – por razões internas, e não apenas para pouparmos os nossos parceiros aos efeitos predatórios da irresponsabilidade financeira doméstica. Vejamos o que significou deixar de ser possível recorrer à inflação para «liquidar» dívida.

Com auxílio da seguinte tabela, explico melhor a dimensão do problema.

DívidaTabela

O grande ciclo de dívida que atravessa toda a história democrática divide-se em quase exactamente duas metades. A fronteira foi a adesão de Portugal ao mecanismo europeu de taxas de câmbio (1992), que implicou a passagem a um regime de baixa inflação. A adesão foi, no fundo, o passo fundamental que nos preparou para a moeda única.

A inflação média (deflator do PIB) na primeira fase do ciclo (1974-1993) foi de 16,3% ao ano. Depois, foi de 2,8% (até 2007, 3,8%). Foi o suficiente para perdermos competitividade (pequenos excessos têm efeitos enormes quando acumulados anos a fio), mas deixou de nos permitir dar o golpe aos credores e defraudar os contratos de dívida. Pelo menos na dimensão gigantesca em que o fazíamos.

Nos primeiros 20 anos de democracia (1974-1993), a inflação abateu 100 pontos percentuais de PIB ao stock de dívida. Nos 21 seguintes, apenas um terço desse valor (34 p.p.), quase todos eles acumulados até 2007 (29 p.p.). Dito de outro modo, sem o expediente da inflação, a dívida pública, em 1993, não seria igual a 54% do PIB, mas 154%. O golpe da inflação possibilitou o regime gerador de dívida que caracterizou o funcionamento das instituições até aí.

Na fase da moeda forte pós-1992, deveríamos ter criado muito menos défice, porque deixara de ser possível defraudar os credores. Em vez disso, vivemos com défices bem maiores (ver o efeito do saldo primário para dois períodos de tempo praticamente idênticos). Para crescer, como querem os galambas e outras espécies exóticas deste mundo e do outro? Entrámos também num regime de fraco crescimento, cada vez mais fraco até à estagnação e, depois, em crise, crise profunda.

Sem inflação e mantendo o mesmo regime de funcionamento em défice das instituições (de facto, aprofundando-o), a dívida perdeu o seu grande amortecedor. Ou o crescimento real aumentava significativamente, pelo menos na exata medida em que a inflação diminuía, ou acontecia o que aconteceu: o diferencial negativo entre a taxa de juro e o crescimento (em preço e volume) torna-se num propulsor mecânico do aumento da dívida.

No preciso momento em que seria crucial ajustar as instituições a uma regra qualquer obrigatória de equilíbrio orçamental, ampliámos os défices. Sem inflação, não é possível. Ou por outra, possível, é: mas acabamos onde acabámos.

Pagar dívida numa moeda que não se cria é outra coisa. Não sendo previsível o fim do regime de baixa inflação característico do euro, não controlando o governo o crescimento (qualquer governo que diga que o faz, mente desavergonhadamente), não temos outro remédio senão: ajustar o saldo orçamental – mudar de vida.

Os dois resgates de Portugal: 2009/2010 e 2011

Este gráfico põe a nu de forma muito simples e inequívoca a mentira socialista corrente, segundo a qual teria sido o chumbo do PECIV, em 2011, que forçou o resgate. De facto, o resgate começou mais de um ano antes da chegada da troika. Confuso? Foi o que aconteceu. Vejamos porquê, mas, antes de mais, confiramos ao gráfico um título.

Fluxos de capital privado (vermelho), de financiamento ao abrigo do TARGET2 (verde) e do programa de assistência (laranja)

Fluxos de capitais privados, financiamento ao abrigo de programas de assistência e fionanciamento no quadro do Eurossistema (Target2)

Fonte: Bruegel.

O valores são acumulados e estão expressos em percentagem do PIB de 2007. A linha que contorna a área colorida é a linha do somatório das três rubricas expressas no título, que corresponde grosso modo à balança financeira da balança de pagamentos e é, grosso modo, o simétrico da balança corrente, negligenciando nesta igualdade o saldo da balança de capital e os erros e omissões.

Por outras palavras, alterando o sinal de «+» para «-», temos até mais ou menos ao primeiro trimestre de 2012 (o pico da curva azul), uma soma de défices da balança corrente (défices externos) ascendendo a 80% do PIB, e quer isso dizer que o país como um todo conheceu, ao longo dos 10 anos cobertos pelo gráfico, um acréscimo de dívida externa nesse montante.

Como é fácil de ver, até junho de 2009 as necessidades de financiamento externo do país – originadas no Estado, nas empresas e nas famílias – eram basicamente cobertas por fluxos de capitais privados. Predomina quase exclusivamente a cor vermelha em toda a área.

A partir de junho de 2009, assistimos primeiro, e até março de 2010, à suspensão dos fluxos de capitais externos privados, que se mantêm quase rigorosamente num montante acumulado da ordem dos 50% do PIB. Sucede que o país conserva elevadíssimas necessidades de financiamento, tanto para refinanciar dívida antiga, como para cobrir novos défices.

Para impedir a manifestação do colapso súbito do financiamento externo via capitais privados, entra o Eurossistema (BCE mais bancos centrais nacionais da área do euro) a fornecer a liquidez que deixara de ser possível mobilizar nos mercados (área a verde).

A partir de março de 2010 – atenção que o importante aqui é a datação, e é de 2010 precisamente, e não de 2011, que eu estou a falar -, não só já não é possível recorrer ao crédito externo privado para suprir as volumosas e persistentes necessidades de financiamento do Estado, mas também as das empresas e das famílias, como começa uma fuga de capitais verdadeiramente dramática. Ela prolonga-se, primeiro, até agosto de 2010. Desaparecem capitais ascendendo a um montante da ordem dos 20% do PIB em seis meses. A fuga de capitais privados conhece então uma pausa, mas em finais de 2010 é retomada e prolongar-se-á virulentamente até meados de 2012. Em pouco mais de um ano são quase integralmente revertidos os fluxos de capitais privados acumulados desde 2002 (a área a vermelho desce para níveis próximos do zero).

Em meados de 2012, o país tornara-se essencialmente devedor do Eurossistema e dos países e das instituições do programa de assistência, ou seja, de países europeus e do FMI, a tão vituperada troika que nos permitiu fazer uma transição relativamente suave para posições mais próximas do equilíbrio orçamental e do equilíbrio externo.

Tivemos verdadeiramente dois resgates: o primeiro, iniciado na segunda metade de 2009 e fortemente acentuado a partir do segundo trimestre de 2010, com a entrada em força do Eurossistema a substituir-se aos mercados no financiamento do Estado, das empresas e das famílias portuguesas; um resgate silencioso, impossível de manter por mais tempo com a fuga de capitais a atingir proporções épicas, a um país que fora expulso dos mercados, mas conservara elevadíssimas necessidades de financiamento; e um segundo resgate, o que foi acordado em maio de 2011 com os Estados europeus e o FMI, que passam a partilhar com o Eurossistema a função de financiadores externos, mas já com o país sob apertada vigilância da troika – BCE, CE e FMI.

Como facilmente se verá pelo gráfico seguinte, o montante em que em julho de 2011, estava a começar o programa de assistência, estávamos devedores do Eurossistema ascendia a perto de 70 mil milhões de euros, valor próximo do pacote do «segundo resgate».

Target2

Fonte: BCE.

Para uma datação rigorosa de paragens bruscas (sudden stop) de financiamento, nos diversos países da área do euro que por essa experiência passaram, ver aqui, por Silvia Merler e Jean Pisany-Ferry.

Para uma explicação circunstanciada do sistema TARGET2, ver aqui.

A verdade sobre a dívida pública (e a mentira socialista)

A dívida pública é a grande mentira sobre a qual repousa o regime democrático, desde que a censura moral ao seu uso desapareceu no caldo de cultura política do pós-guerra. Os políticos passaram a comprar regularmente votos, gastando sem apresentar às suas clientelas a factura, que fica para quem vier depois, que podem até ser, parcialmente, os beneficiários da despesa não coberta atualmente por impostos, mas serão seguramente os descendentes desses beneficiários – alguém, algures, num futuro incerto, há-de pagar. Ou não. A dívida é a grande ilusão do almoço grátis. E a ilusão fiscal é em boa medida a ilusão de que vive, hoje, o jogo político democrático.

Não é por acaso que assistimos hoje, em grande parte do mundo desenvolvido, à acumulação de dívidas públicas muito superiores às que alguma vez foram geradas nas circunstâncias anómalas e forçosamente passageiras de uma guerra, ou outra catástrofe do mesmo género. Nunca tal havia antes sucedido, com esta natureza quase de característica, de assinatura, dos regimes políticos democráticos vigentes.

Acresce a tudo isto que a dívida é um assunto muitíssimo complicado do ponto de vista técnico, relativamente à capacidade crítica que é razoável esperar da generalidade das pessoas. Tudo converge, assim, para fazer do tema da dívida pública o objeto de debates tão animados e emotivos quanto acéfalos. Temos dado amplas provas de que assim é. Não há político de quarta, quinta ou sexta categoria que não tenha uma opinião forte sobre o tema, o que muito naturalmente autoriza toda a gente a achar também que, ou pelo contrário.

É este quadro que tem permitido e inclinado o Partido Socialista a aprimorar-se como verdadeira máquina de mistificação em torno do assunto, por razões muitíssimo fáceis de perceber: se há partido que representa o vício de regime que a dívida pública é, se há partido que depende do dispositivo da ilusão fiscal para a satisfação das suas clientelas e o exercício de desmandos distributivos, esse partido é o Partido Socialista, embora convenha não ignorar que socialistas há em todos os partidos, da dita direita à esquerda. O socialismo, no fundo, tornou-se na grande atração do regime.

Para começar a desfazer a mistificação, convém começar por assentar em factos simples, insusceptíveis de controvérsia. Ao contrário do que sugere recorrentemente a propaganda socialista, durante os seus dois últimos governos a dívida pública aumentou mais do dobro do que aumentou depois do resgate e no quadro do ajustamento; a dívida pública estava numa trajetória de explosão quando o ajustamento começou, e o ajustamento estancou essa explosão e inverteu – já inverteu – o sentido daquela trajetória: a dívida está a baixar, e não descontrolada, como estava antes do ajustamento. O gráfico sintetiza esses dados elementares.

EvoluçãoDaDívidaPública

Fonte: Banco de Portugal.

 

Mas não basta comparar dados brutos, números e séries de dados no tempo. Convém ver o que é que antes do ajustamento e depois do ajustamento fez crescer a dívida. É por aqui que as dificuldades de acesso da opinião pública ao problema começam a manifestar-se com toda a sua força. E não são, de modo algum, indiferentes para a dinâmica da dívida os factores que explicam o seu crescimento.

Este pequeno quadro talvez me ajude a clarificar o assunto.

Dinâmica

Fonte: Conselho de Finanças Públicos, cálculos meus.

 

Deixando de lado a trajetória intra-anual da dívida pública, essencial para se medir quanto a dívida cresceu antes e depois do ajustamento, e adoptando a frequência anual, vemos que entre 2005 e 2010, os anos que precedem imediatamente o resgate e o ajustamento, a dívida pública aumentou apenas residualmente mais do que depois do ajustamento (34,2 pontos percentuais (p.p.) do PIB antes, 34,0 p.p. depois; aqui não se entra em linha de conta com o que ela cresceu nos dois primeiros trimestres de 2011, que precedem igualmente o ajustamento e foram literalmente brutais do ponto de vista da acumulação de dívida; o gráfico mostra o segmento final da curva antes da queda de Sócrates a aproximar-se da vertical). Na sequência anual do quadro, sendo na aparência dos valores numéricos a variação do rácio da dívida aproximadamente idêntica antes e depois do ajustamento, mostra-se que estamos a falar de realidades completamente diferentes. De facto, incomparáveis.

De uma forma muito simplificada, se uma economia estiver a crescer a uma taxa (preços correntes) inferior à taxa de juro implícita na dívida pública, o saldo orçamental primário tem de ser pelo menos suficiente para cobrir aquela diferença, sem o que o rácio da dívida aumenta. O crescimento nominal e os juros não são variáveis que um governo controle. A única coisa que um governo controla é o saldo orçamental, o saldo primário; a parcela de juros já lá está, em cada ano, quando se começa a elaborar o orçamento, a tomar decisões quanto a gastos e impostos no período que se segue; e a economia depende literalmente de milhões de escolhas, fora da alçada de qualquer governo.

O que esta tabela nos diz é que mais de metade (18,9 p.p.) do aumento da dívida pública entre 2005 e 2010 (34,2 p.p.) ficou a dever-se ao défice orçamental, ao efeito do saldo primário. Ano atrás de ano, a economia crescia abaixo da taxa de juro e o saldo orçamental agravava, não mitigava, muito menos anulava, essa diferença crucial para a dinâmica da dívida. E foi assim todos os anos desta curta série, mas posso dizer-vos que foi assim exactamente desde 1998 inclusive. A última vez em que – antes de 2014 – houve excedente primário foi em 1997. Desde aí, nunca mais. Ou seja, estamos perante o que parece ter-se tornado uma característica, um traço permanente do regime: crescimento insuficiente, gastos sistematicamente acima dos impostos, dívida em trajetória insustentável. Foi a incapacidade, ou a falta de vontade política, dos governantes de alterarem o que estava ao seu alcance alterar – suprimir o défice orçamental e, se possível, fazer reformas na economia para aumentar o seu ritmo de crescimento – que os mercados «descontaram» a partir de 2010, vedando-nos o acesso a financiamento e determinando o colapso só inteiramente consumado em 2011.

O ajustamento é claramente perceptível também neste quadro. O défice primário é esmagado, sem o que não voltaríamos a ter a confiança dos investidores (os mercados são investidores…), e em 2014 o saldo orçamental passa, enfim, a contribuir para a redução da dívida, e não para o seu aumento, como foi o caso nos 17 anos consecutivos anteriores. Em contrapartida, a contração orçamental forçosamente agrava no imediato a recessão (que havia começado três trimestres antes de se iniciar o ajustamento).

O que passa a determinar o aumento da dívida é essencialmente o mergulho na recessão (e também factores irrepetíveis e reversíveis sob a rubrica do Ajustamento Défice-Dívida). A recessão passa; o que deve ficar é o excedente orçamental, que terá não só de vir a compensar por inteiro a diferença entre o crescimento e a taxa de juro, como a aumentar para lá disso, sem o que não são gerados meios para liquidar dívida.

Como é fácil de ver, o crescimento (nominal) já está, desde 2013, a dar um contributo muito favorável (precedido do sinal «-» no quatro) para a redução da dívida, tal como o saldo orçamental, este só a partir de 2014. A economia cresce, insuficientemente mas cresce, e há excedente primário. Esta última diferença, porque o crescimento insuficiente vem de trás, faz toda a diferença.

Com défices crónicos e estratosféricos como os que determinaram o colapso e a necessidade do resgate, sem um ajustamento célere, muito célere, não voltaríamos aos mercados tão cedo, e a economia não voltaria a respirar. Se havia alternativas? Sem dúvida: a mais certa seria ter de fazer instantaneamente o que ainda não fizemos em cinco anos.

Não deixem que a mentira socialista faça caminho.

Mais claro é impossível

Obviamente que turbulências nos mercados afectam todos os países, mas não por igual. Ontem, alguns divulgaram gráficos que mostravam a tendência de subida das yields ou da queda dos índices dos mercados accionistas de vários países, assim tentando demonstrar que era uma tendência geral. O que não fizeram, ou por ignorância ou por desonestidade intelectual — o efeito é o mesmo —, foi mostrar a variação dos spreads entre eles, a comparação que é verdadeiramente significativa para aferir o impacto que a instabilidade política, assim como do prospecto de um Governo de esquerda e de um plano económico-financeiro suicidário, tem causado. O aumento dos spreads face a Espanha e Itália é considerável. Mais claro que isto é impossível.

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Muito do aumento da dívida pública dos últimos anos? Reclassificações de dívida pública do Sector Empresarial do Estado (SEE) e das PPPs, que agora é inscrita no Orçamento do Estado no momento contabilístico, e não quando se regista o fluxo financeiro (i.e., quando chega a hora de pagar).

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Agradecimentos ao Banda Larga.

Simulador de ajustamento da dívida pública

chartFinalmente tive um par de horas para actualizar o simulador. Acrescentei-lhe uma análise de sensibilidade do saldo primário, fazendo variar até -0.5/+0.5 pontos percentuais por ano.

Sugestões para outras funcionalidades são bem vindas.

P.S. – Para os entusiastas da tecnologia, substituí o Google Charts pelo Highcharts, e não podia estar mais satisfeito.

Uma receita para o sucesso

Esta pequena decomposição temporal da dívida pública em função do PIB demonstra, de uma forma muito simples, a insustentabilidade da política do endividamento crónico. Para cada ano é desconstruído o diferencial absoluto do PIB e da dívida pública com o ano transacto (preços constantes, base 2011). O rácio dos dois deltas, que mais não é que a derivada em cada ponto, ou seja, o crescimento da dívida em função do PIB, permite perceber qual foi o endividamento gerado por cada 1 unidade de PIB criado (ou destruído), em cada ano:

Screen Shot 2015-03-23 at 18.43.16Assim temos que, entre 2001 e 2002, foi gerado 1,03 de dívida por cada 1 Euro de PIB criado face ao ano anterior. Em 2005, esse valor foi de 1,75 de dívida por cada 1 Euro de PIB. Em 2009, por cada 4,17 Euros de dívida emitada foi destruído 1 Euro de PIB. Em 2011 foram emitidos 6,14 Euros por cada 1 de PIB destruído. Em 2013 e 2014, invertendo-se a tendência destrutiva, mantém-se ainda assim, fruto do contínuo aumento da dívida pública, um endividamento assinalável, tendo-se atingido o recorde de 6,31 Euros de dívida por cada 1 Euro de PIB criado em comparação com o período transacto.

Excluindo os anos de contracção do PIB, e em média, por cada 1 Euro de PIB que o país gerou a mais foram emitidos 2,27 Euros de dívida pública, fundamentalmente externa, que um dia terão de ser pagos e que terão um impacto negativo no crescimento económico. Esse dia chegou há quatros anos. Resta agora garantir que a doença crónica de que Portugal padece, os défices orçamentais, é sanada. Esse dia ainda está para chegar, e usando a conversa dos cofres cheios como indicador, só chegará com a próxima falência.

Taxa de juro de Portugal inferior à dos EUA

Screen Shot 2015-02-23 at 09.51.10Há quem jure que é apenas via efeito Draghi, mas a Grécia está lá para mostrar que há bem mais para além do efeito Draghi, nomeadamente a credibilidade, ou a falta dela, da política fiscal. Portugal virou safe haven, e a taxa de juro a 10 anos, onde o efeito do QE do BCE nem sequer é relevante — o QE não se irá estender por 10 anos, pelo que o prémio de risco de um potencial default está devidamente contabilizado —, está agora mais baixa que a dos Estados Unidos.

Não faz diferença, o que interessa é o Draghi

É bom recordar àqueles cujo conhecimento de economia é inversamente proporcional à forma aguerrida e proselitísta com que juravam que o yield das obrigações da dívida pública nada tinha a ver com a percepção do risco ou com os défices orçamentais, este simples gráfico. Um deles foi agora recentemente promovido ao secretariado nacional do PS, imagino que como recompensa pela sua acutilância económica.

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Yield até à maturidade das obrigações a 10 anos da Grécia e de Portugal, cabalmente demonstrando o efeito Draghi-dual, em que uma mesma acção pode gerar dois efeitos completamente distintos.