Descobriu Maduro uma alternativa viável ao Capitalismo Selvagem?

Selvagens

O meu artigo de hoje no Diário Económico:

Qualquer sistema económico é “selvagem” pois coloca o poder nas mãos de alguém. A questão de fundo é em quem preferimos colocar o poder. No capitalismo selvagem, o poder vai para o empreendedor. Continue a ler “Descobriu Maduro uma alternativa viável ao Capitalismo Selvagem?”

Portugal vai precisar de um 2º Resgate?

O Problema

O meu artigo de hoje no Diário Económico:

Obviamente, sim. Pense no seu local de trabalho: se a empresa tivesse uma dívida superior ao volume de negócios anual, as receitas estivessem em queda e os credores tivessem ameaçado exigir a bancarrota, o que aconteceria se nos 5 anos seguintes a empresa mais não conseguisse do que cortar para metade o nível de crescimento do endividamento? A dúvida – como se viu nas eleições Alemãs da semana passada – era se os credores tinham interesse.

Portugal (e outros, como Espanha e Grécia) tem um modelo de “desenvolvimento” assente no consumo, e não na produção. No desperdício, e não no retorno do investimento. Confunde despesa com investimento. E por isso é apenas natural que transfira mais recursos para o sector não-competitivo que a média Europeia. E que insista em défices como solução, como se o dinheiro brotasse do chão.

Carlos Guimarães Pinto apresentou um cálculo interessante sobre o défice e o adiar da sua resolução. Portas queria mais 0,5% de défice e Seguro – para não ficar atrás – mais 1%. Mas vejamos pelo lado dos custos. 0,5% do PIB são grosso modo 1000 milhões. A um juro de 7% por ano, o custo é de 70 milhões. Isto corresponde aos rendimentos de 2000 funcionários públicos. Assim, Portas queria forçar o despedimento de 2000 funcionários públicos, Seguro o de 4000. Vendo pelo lado do custo dá uma perspectiva diferente, não dá?

Não basta enfrentar o défice, é preciso enfrentar a mentalidade que nos levou lá. A mentalidade de que a dívida não é para pagar, que se ganham votos prometendo novas despesas sem responder a quanto custa e quem paga e que os défices são normais e os superávites uma anomalia (quer uma diversão? pergunte a todos os que o rodeiam o que significa superávite!). Até lá, eu não emprestava a um país em que alguns dirigentes políticos afirmam que a dívida é “impagável”. Até lá, o Estado vai certamente precisar do segundo resgate e esperemos que não precise de um terceiro.

O problema de Portugal não é o dinheiro, são os princípios de saúde financeira.

Eleições Antecipadas são Solução?

Fantasias, o meu artigo de ontem no Diário Económico:

Estes dias li numa página de humor: “Portugueses até vão para a rua, mas depois lembram-se de Seguro e voltam para dentro”.

Estes dias li numa página de humor: “Portugueses até vão para a rua, mas depois lembram-se de Seguro e voltam para dentro”. Ri, mas de facto nesta crise a melhor apólice de seguro de Passos não é Portas, é Seguro.

A esquerda logo a seguir às eleições começou a tentar desestabilizar o Governo para voltar ao poder e retornar às mesmas políticas despesistas que nos puseram nesta posição, como se a solução para quem tenha demasiadas dívidas seja contrair mais dívidas e pagar cada vez mais juros. “Estimula a economia e o crescimento”, dizem os que esquecem o falhanço do aeroporto de Beja. O Tribunal de Contas Francês tem outra opinião, e está a obrigar Hollande a reduzir o número de funcionários públicos e a congelar salários e progressões nas carreiras – acordando os Franceses para a dura realidade de impraticabilidade das políticas socialistas e atirando a popularidade de Hollande para valores historicamente baixos. Portugal ir a eleições, ao contrário do que fantasia a esquerda, não terá grandes consequências.

Ganhe quem ganhar, o programa está escrito até Junho de 2014. Ganhe quem ganhar, um político profissional criado nas juventudes partidárias será primeiro-ministro. Ganhe quem ganhar, a equipa sairá da elite que governou Portugal nos últimos 40 anos. Ganhe quem ganhar, Portugal terá uma dívida superior a quando foi à falência em 1892 – e só tem a opção de nos próximos anos produzir mais do que consome. Assim eu pergunto: qual a finalidade de ir a eleições antes de Junho de 2014? Para se gastar dinheiro na troca de cadeiras e nada de substancial mudar? Para haver uma nova crise de confiança que faça disparar os juros e afundar a bolsa? Para eleger um professor de Teoria do Estado e História das Ideias Políticas e Sociais que recentemente provou desconhecer o conceito de média?

Políticas de esquerda só serão possíveis quando houver dinheiro. Até lá, a estabilidade política deverá ser o nosso activo mais valioso e o resto são fantasias de sonhadores.

Documento de Estratégia Orçamental

Tardias

O meu artigo de hoje no Diário Económico:

As desvantagens das medidas do DEO? São tardias e lentas a surtir o efeito desejado. O aumento da idade da reforma irá levar a muitos se reformarem antecipadamente, o atraso no corte das pensões irá fazer os jovens pagar mais tempo por benefícios que não irão ter

e os atrasos em inúmeros cortes irão obrigar o Estado a pedir emprestado e a pagar juros por despesas que não fazem sentido. Alguns comentadores e jornalistas queixam-se que “70% dos cortes vêm de pensionistas e funcionários públicos”. Deveriam vir de onde? Dos criadores de emprego, que já escasseiam? Dos jovens a recibo verde? Sem reservas substanciais, sem possibilidade de aumentar ainda mais a carga fiscal – já no limite em muitos sectores, sem possibilidade de confiscar poupanças via política monetária e sem crédito internacional além do dos nossos parceiros, qual seria a opção dos demagogos?

Fingir que a situação não é grave e que o actual nível de endividamento não só é o maior da nossa história de quase 900 anos, como também é um dos maiores a nível mundial (em percentagem do PIB)? A festa acabou e não há alternativa a sair deste sobre-endividamento que não seja uma via dolorosa. Bruxelas apoiou as medidas de Pedro Passos Coelho por serem uma consolidação através de um “redução permanente de despesa”, ao invés de medidas ‘one-off’ e receitas fiscais”, apoiando os “princípios de eficiência, qualidade e sustentabilidade” e ainda a “convergência entre o público e privado”.

E em Portugal? Em Portugal sofremos de um problema que César das Neves denominou ontem no DN de “Disparates Plausíveis”, ou seja, deveria ser óbvio que não existe outro caminho que não “aperto e reforma”, mas acaba-se por “usar argumentos aparentemente sólidos para dizer grandes asneiras” e hoje “esses disparates plausíveis dominam as discussões”.

Imagino que custe aos privilegiados ter as condições dos privados, mas a aproximação entre público e privado finalmente chegou. E só peca por chegar tarde.

Ricardo Campelo Magalhães, Consultor Financeiro

Ligações adicionais: Marco Capitão Ferreira sobre o temaInfografia com os valores.

Sócrates como comentador na RTP

Limites

O meu artigo de hoje no Diário Económico:

Há umas semanas discutia-se no Parlamento a programação da RTP e se deveria voltar a esta o TV Rural. Na altura critiquei que no órgão legislativo se discutisse uma decisão interna de um canal de televisão, ainda que estatal.

Utilizando o mesmíssimo critério, não assinei a petição que pede agora que o parlamento se pronuncie sobre a inclusão de um qualquer comentador na programação desse mesmo canal.

Mas isso não me impede de fazer um apelo aos responsáveis da RTP: tenham noção dos limites e revertam o convite. Porque a confirmar-se a entrada de Sócrates para a grelha da RTP, surge a dúvida: o que é que alguém tem que fazer para ser excluído de uma lista de possíveis comentadores da RTP? Aparentemente, levar o País à bancarrota, provocar centenas de milhares de despedimentos e outras centenas de milhares de emigrações de jovens qualificados, e fazer a economia perder uma década de crescimento e, com o saldo que deixou, talvez uma segunda, não é suficiente.

Nos dias de hoje, a cultura da meritocracia está fora de moda. Os heróis da juventude são pessoas de ascensão rápida e não os industriosos de outrora. A contratação de Sócrates pela empresa tutelada por Relvas leva este desvio para um nível completamente estratosférico: não há limites. Pode-se cometer a pior atrocidade que, depois de uma reforma dourada, só possível devido às tais atrocidades, haverá sempre alguém para ajudar a branquear a situação. Indústria, honestidade, fortaleza e sapiência ficam definitivamente ‘démodé’.

No actual xadrez político, Seguro perderá, pois terá concorrência forte na venda de ilusões e a ‘entourage’ de Sócrates terá nova força no PS – só assim se justifica a inversão de Seguro sobre a Moção de Censura em 5 dias. Inicialmente, tais movimentações no PS darão força a Passos Coelho, mas com o tempo este será obrigado a ter uma comunicação mais profissional, ou perderá para a máquina Socrática. Mas a principal mudança é a ascensão da forma sobre o conteúdo, na pior altura para isso acontecer.

Ligações úteis: Luís Bernardo sobre o mesmo tema.

O sono de Passos Coelho

O meu artigo de hoje no Diário Económico:
Tema: O elevado desemprego não tira o sono a Pedro Passos Coelho. Comente.

1921 Vs 1929

Em 1920-21 houve uma crise séria na economia americana. Em resposta à crise, o governo cortou o orçamento para metade, diminuiu o IRS para todos os escalões e baixou a dívida (não o défice, sublinhe-se) em um terço em apenas dois anos. A Reserva Federal, recentemente criada, não actuou no mercado monetário.

Em 1929 houve outra crise. Desta vez Hoover começou uma política de “estímulo” – quem não conhece a Hoover Dam? – que depois Roosevelt expandiu consideravelmente em 1932. Ao ponto do seu secretário do Tesouro anos mais tarde ter dito: “Nós experimentamos gastar dinheiro. Nós estamos a gastar mais do que alguma vez gastamos e não resulta.”

Provavelmente o leitor conhece a depressão de 1929. Mas não a de 1920/21. Porque entre Novembro de 1919 e Agosto de 1921, o Dow Jones caiu para metade, o desemprego disparou para o dobro, os preços caíram 18% e o PIB contraiu 6,9%, mas ao fim de 2 anos a Economia estava em recuperação e a entrar nos “loucos anos 20″, tendo atingido os níveis pré-recessão em Outubro de 1922.

Contrariamente ao método científico, muitos hoje escolhem a sua ideologia e só depois escolhem, cuidadosamente, os factos que melhor se adaptam à narrativa que escolheram previamente. Não é sério. E mais grave ainda, escolhem sempre o caminho mais fácil: dizer o que as pessoas querem ouvir e não o que se sabe baseado na história. Oferecem um escape fácil para a frustração, a inveja e o ressentimento. Pedem a solução “fácil” em vez de encararem o problema. Preferem um remendo de curto prazo a uma solução de longo prazo.

Mas é tarde para isso: depois de décadas a aumentar o endividamento, chegamos ao ponto em que precisamos mesmo de curar esse mal. É preciso perseverança para administrar o remédio e ajudar a suportar a febre. O médico que o faz, pode dormir de consciência tranquila. O curandeiro que sugere umas mezinhas adocicadas e que claramente não percebe o problema, é que deve dormir mal. Olhando para Passos e Seguro rapidamente se percebe quem é quem.

Leituras adicionais: Tiago Antunes sobre o mesmo temaProf. José Manuel Moreira sobre a Res Pública.

Não era melhor ter avançado com a TSU?

O meu artigo de hoje, no Diário Económico – Equilíbrio:

A alteração das taxas da TSU permitiria manter praticamente inalterada a carga fiscal sobre os privados e, ao mesmo tempo, aumentar a carga fiscal sobre o funcionalismo público.

Nos privados, o patrão iria pagar menos segurança social e poderia ou repor o salário líquido dos trabalhadores sem aumento de custos, ou reduzir a massa salarial sem necessidade de despedimentos ou ainda incorporar a redução nos lucros libertando meios para investimento, tesouraria, despesas noutras áreas e distribuição de dividendos (duplamente taxados).

No público, o Estado pagaria menos segurança social e os seus funcionários mais, efectivamente reduzindo os salários líquidos da função pública. Portugal é uma país desequilibrado: segundo o último relatório do FMI, a desigualdade de rendimentos entre público e privado aumentará de 2012 para 2013 de pouco mais de 40% para mais de 50% – e é uma das maiores da União Europeia.

Esta medida visava corrigir o défice pelo lado da despesa (salários “públicos” é despesa do estado) e pelo lado do funcionalismo público – ou seja, do sector da população com melhores salários e maior garantia de continuação do posto de trabalho. Mas os do costume saíram à rua (segundo um estudo do ICS de Novembro passado 82,4% dos Portugueses nunca participaram numa paralisação…) e os funcionários do Tribunal Constitucional fizeram o resto. A correcção passou assim para o lado da receita e passou a ser aplicada a todos, substituindo-se uma sobretaxa de 7% nos públicos por uma de 3,5% sobre todos. Como dano colateral, provocou-se mais desemprego (há empresas que não vão aguentar mais este aumento da carga fiscal), menos receita fiscal a prazo, e uma redução de competitividade numa altura crucial para responder à ascensão Asiática.

A subida da TSU tinha as suas desvantagens. Mas como diz o ditado, “cuidado com o que desejas, pois pode tornar-se realidade”. É que a alteração da TSU caiu e a alternativa que acabou por vingar é ainda mais destrutiva para a economia Portuguesa.

Aconselho também a leitura do artigo “Escolhas“, de Hélder Ferreira.

Condições Gregas para Portugal?

O meu artigo de hoje no Diário Económico.

Benefício?

Primeiro, a questão de fundo: toda esta “austeridade” é simplesmente uma contenção do défice – ou seja, do ritmo de crescimento da dívida – estando Portugal ainda muito longe de começar a pagar 1 Euro que seja. Convém sublinhar ainda que muito desse dinheiro que nos é emprestado é depois gasto de forma não produtiva. Por exemplo, Portugal continua a gastar mais de 2% do PIB nas forças armadas – e enquanto Espanha gasta 1% do PIB, Portugal em 2013 tem orçamentados mais 19% para a Defesa. Portugal pede emprestado para pagar inúmeras despesas sem qualquer retorno e demonstra uma incapacidade preocupante de cortar 5% (ou 4.000 milhões) que seja no Orçamento.

E qual é a solução da Europa? Permitir a Portugal fazê-lo durante mais tempo. Adiar a maturidade dos empréstimos 15 anos e adiar o pagamento de juros por 10 anos. Condenar Portugal a viver neste sufoco financeiro não 3 anos mas antes 18. Incapaz de impor a Portugal reduções do défice e tendo em vista os ganhos financeiros que consequentemente t
eria, os líderes Europeus oferecem o “benefício” de podermos pagar num prazo mais dilatado. Ou seja, de andarmos a trabalhar para os credores mais tempo.

A isto eu digo não. Não podemos continuar a taxar o sector privado de todos os recursos necessários ao seu crescimento. Não podemos continuar a perpetuar a lógica dos direitos adquiridos, efectivamente convidando à emigração a “geração mais bem preparada de sempre”. Temos sim que cortar na despesa estrutural, obter superávites e começar a pagar o que devemos. Pois como conclui o relatório do FMI “Successful Austerity in the United States, Europe and Japan”, a melhor forma de reduzir o rácio Despesa/PIB é um ajustamento fiscal gradual.

Relativamente à redução de 10 pontos base das comissões pelos empréstimos do FEEF – uma poupança de mais de 300 milhões para Portugal – creio que Portugal a mereceu e gostaria que a Europa a concedesse. Era uma questão de igualdade de oportunidades, mas o meu realismo leva-me a duvidar dessa hipótese.

Ricardo Campelo de Magalhães, Consultor Financeiro

Qual é a solução da Europa? Portugal trabalhar para os credores mais tempo. A isto eu digo não. Temos sim que cortar na despesa estrutural.

– Anexo –

Successful Austerity in the United States, Europe and Japan, Conclusão na pág 32:
Thus, a gradual fiscal adjustment, with a balanced composition of cuts to expenditure and tax increases boosts the chances that the consolidation will successfully (and rapidly) translate into lower debt-to-GDP ratios. Monetary policy can likely help alleviate further the pain of fiscal withdrawal if it is used proactively via reduction in the real interest rate.

Leituras complementares: João Galamba escolhe a sua cerejaA cereja de Galamba.

Caixa de Pandora

Começa assim o meu artigo de hoje no Diário Económico:

Qualquer Orçamento que aperte ainda mais o nó em volta do pescoço dos portugueses, aumentando a sua asfixia fiscal, ao mesmo tempo que não se atreve a tocar nas despesas do Estado de modo a reduzi-las de forma significativa, é um mau Orçamento.

Se acho que o Orçamento do Estado para 2013 se encaixa no género? Sem dúvida. Se fico, portanto, contente perante a perspectiva de ele ser chumbado pelo Tribunal Constitucional? Nem por isso.

Ler o artigo completo aqui.