Portugal: Um País Cativado Pelo Estado

Escreve João Miguel Tavares no jornal Público numa crónica intitulada Portugal: um país cativado pelo Estado:

A função pública está para António Costa como a Bárbara escrava para Camões: é a cativa que o tem cativo. Por um lado, os funcionários, os reformados e os milhões de dependentes do Estado cativam o primeiro-ministro, pois são eles que lhes dão os votos que sustentam o Partido Socialista (e que, no futuro próximo, lhe podem oferecer uma maioria absoluta). Por outro, António Costa está absolutamente cativo deles, pois todos os anos é necessário, na feira orçamental de Outubro e Novembro, comprar o apoio das corporações que permitem ao PS governar. António Costa é simultaneamente sequestrador e refém – o cativo que nos tem cativos.

Talvez a Porto Editora, numa das suas eleições, pudesse considerar “cativo” como a Palavra do Quadriénio 2015-2019. Nenhuma outra explica melhor o momento actual da política portuguesa. Desde logo, tudo indica que vai continuar a política radical de cativações, que depaupera a qualidade dos serviços do Estado de ano para ano. Lembro-me de em tempos a Cinemateca Nacional estar com profundíssimas restrições orçamentais, cuja consequência foi esta: o dinheiro chegava para pagar os ordenados dos trabalhadores, mas não para trazer filmes do estrangeiro e organizar novos ciclos. A Cinemateca cumpria as obrigações para com os seus funcionários, mas não para com o seu público. Aquela Cinemateca é agora Portugal: o Estado cresce (novas contratações), promove quem nele trabalha (descongelamento das carreiras), trabalha menos (regresso às 35 horas), mas depois presta um serviço cada vez pior nos hospitais, nas escolas, na protecção civil, deixa morrer 110 pessoas nos incêndios, prejudica doentes oncológicos e diabéticos – porque, claro está, o dinheiro não dá para tudo. Há que fazer opções, e a primeira função do Estado socialista é ocupar-se dos seus funcionários. Seja em Portugal ou na União Soviética.

De António Guterres a António Costa, bem pode o PS andar por aí a proclamar a paixão pela educação ou pelos desprotegidos. Na prática, nunca foi a essas tarefas que se dedicou. O PS limita-se a aplicar ao Estado a teoria trickle-down que tanto critica na economia: despeja dinheiro para cima dos sectores mais corporativos com a fezada de que ele chegue lá abaixo, e melhore a qualidade dos serviços prestados a alunos, doentes, utentes, ou aos mais necessitados. Infelizmente, a esses só chegam gotas – tudo o resto desaparece na barriga do monstro. As cativações de centenas de milhões de euros, o truque que Mário Centeno inventou para se fingir responsável (e aqui convém louvar a imaginação dos sucessivos ministros das Finanças, que arranjam sempre forma de simular que cumprem incumprindo) são isso: tirar aos de baixo para dar aos do meio.

Isto não é um acaso, nem fruto do contexto. Este sempre foi o posicionamento político do Partido Socialista, correspondendo a uma filosofia bem entranhada no seu património genético: alimentar o Estado com funcionários, prebendas e reversões, alimentando-se de volta com os seus votos e as inúmeras dependências que vai promovendo, para se aguentar no poder. O Orçamento de Estado para 2018 não é outra coisa senão isto: um governo preso a uma maneira muito precisa de agir politicamente, e que por isso agrilhoa o país à sua eterna menoridade. Cativados pelo Estado e cativos do Estado, esta armadilha é de tal forma apertada que apenas se quebra por falência do país e imposição exterior. Cada vez mais parece – e é triste – que fora do Diabo não há salvação.

Lago dos tubarões em Portugal

shark_tank

O “Shark Tank” é um programa americano que reúne investidores de risco (venture capitalists) dispostos a abdicar tempo e dinheiro por uma parte do capital da empresa de empreendedores, que por sua vez vão ao programa tentar obter financiamento adicional para mais investimento nos seus projectos. Uns recebem algum financiamento, outros nenhum, e outros ainda têm todos os sharks a competir entre eles por quem fica com o negócio. Outros beneficiam só da exposição mediática. Os sharks são self-made man, construíram um império fruto do trabalho e esforço. Têm a experiência, os contactos, o know how e, talvez menos importante nestes afazeres, o dinheiro. Diferenciam-se dos bancos precisam aqui: não são apenas uma injecção de capital, são um sócio com experiência e pronto a ajudar. O programa é um exemplo real do mercado a funcionar, é a fonte do verdadeiro progresso e inovação e é um sucesso em Portugal. Virtualmente, claro está.

Derivado deste sucesso, a SIC decidiu criar a versão portuguesa do Lago dos Tubarões. A composição do programa ainda não foi revelada, mas atentando a tudo o mais que se passa em Portugal, é fácil extrapolar como poderá ser o programa constituído:

Tubarões

Existem várias possibilidades, mas alguns lugares são cativos:

  • Ministério da Cultura. Possivelmente representado por Gabriela Canavilhas e capitalizado por António Costa;
  • Ministério das Obras Públicas. Mário Lino foi um recordista do betão, pelo que poderá ser um importante conselheiro de potenciais empreendedores; parceria com Jorge Coelho, outro especialista na área;
  • Ministério da Economia. Manuel Pinho, conhecedor vasto do calçado italiano e da tauromaquia, em disputa pelo lugar;
  • Ministério da Educação. Não há festa como esta, e o lugar está reservadíssimo para Maria de Lurdes Rodrigues. Prevêem-se cooperações estreitas com o Ministério das Obras Públicas;
  • Ministério das Finanças. O Mr. Wonderful do painel, por onde tudo passa. Poderá ser o mais odiado ou o mais estimado, consoante a sua capacidade de assinar cheques sem grandes perguntas.

Concorrentes

Uma miríade de potenciais concorrentes em busca do seu financiamento, toda uma panóplia de pessoas e empresas. Os 600 representantes da cultura portuguesa, o Fernando Tordo, os culturistas, as construtoras civis, os escritórios de advogados, as consultoras, as universidades e as demais empresas penduradas no Orçamento de Estado. O BPN e o BPP. Espera-se, também, a afluência de filhos de ex-ministros que descobriram uma veia súbita na restauração.

Audiência

Nós, todos aqueles que diariamente trabalhamos e pagamos impostos para que esta gente exista e subsista.

Salvar empresas com Dinheiros Públicos não é Liberal!

De uma vez por todas:

  • Salvar o BPN, o BPP ou outro banco qualquer não é Liberal. O banco que vá à falência. No máximo, garantem-se uns depósitos até 50.000 Euros. E mesmo isso já não é Liberal, é concessão a uma sociedade que é demasiado crente na banca.
  • Salvar o cinema não é Liberal. Esse sector tem um profundo desrespeito pelo público (não querem vídeos pois não?) e é o causador do divórcio público-cinema português. Logo, merece a consequência respectiva. Público interessado em cinema de qualidade certamente o encontrará.
  • Salvar a TAP não é Liberal. Porque é que eu que só vôo Low Cost ando a subsidiar a companhia de vôos de elite?
  • Salvar a RTP não é Liberal. Se a RTP não tem capacidade de pagar o que deve, que vá à falência. O que não falta por aí hoje são fontes de informação e entretenimento.

Liberal é:

  • Não escolher vencedores e vencidos
  • Não premiar a ociosidade
  • Não premiar o desrespeito pelo cliente
  • Não subsidiar a incompetência à custa dos competentes
  • Permitir a substituição de umas firmas por outras
  • Premiar o esforço e o mérito
  • Premiar a criação de valor para o cliente
  • Deixar cada um com os frutos do seu trabalho para ter a liberdade de escolher o que quiser

Em tempos pensei que isto fosse claro. Agora já sei que não o é para certas pessoas. Só não sei porquê.

PS: E por favor não identifiquem
banca = capitalistas = capitalismo.
Neste tema, poucas coisas poderiam ser mais falsas. A banca, como qualquer sector, acha sempre que todos os sectores deveriam ser livres excepto o seu. E consequentemente pede constantemente mais regulação que crie barreiras à entrada, dinheiro para corrigir situações fruto dos riscos que “assumiram” e muitas outras “excepções” que, à luz do Liberalismo, são injustificáveis.

O Pingo Doce à distância

Segui à distância a campanha do 1º de Maio do Pingo Doce.

A campanha lembrou alguns consumidores que a principal razão para a existência das autoridades da concorrência é para prevenir não os preços “anormalmente” altos mas sim os preços “anormalmente” baixos.

Foi bom os Portugueses terem visto tanto responsáveis políticos de direita e esquerda, como sindicalistas e representantes de corporações a combaterem a concorrência em preços.

Infelizmente concordo com Alexandre Soares dos Santos. O Pingo Doce não vai ser formalmente acusado de dumping. Se fosse daria ainda mais visibilidade para a vergonha que é a legislação e fiscalização económica em Portugal. Preferirão continuar a multar e perseguir quem se atreve a concorrer em preço, com pouca visibilidade e resultados sustentados.

Por fim vale a pena lembrar que se o Ministério da Economia quer ter um verdadeiro papel no fomento da concorrência devia preocupar-se apenas e só com a eliminação de barreiras à entrada e à saída dos mercados. Para este efeito devia ser o polícia não das empresas mas sim do Estado, criador destas mesmas barreiras. Deveria ser o provedor do consumidor, beneficiário da concorrência, em vez de ser o provedor dos interesses corporativos instalado, beneficiários de uma economia centralizada.

Goldman Sachs tira o dinheiro aos “fantoches” dos Clientes

Quadro do Goldman Sachs demite-se e denuncia política “tóxica” do banco – JN

Executivo critica Goldman Sachs em carta de demissão: Banqueiro diz que instituição só se preocupa em tirar dinheiro dos clientes, chamados “fantoches” – iG Brasil

Goldman Sachs responde: “É lamentável que vocês que trabalharam tanto tenham de reagir a isto” – JNegócios

Public Exit From Goldman Raises Doubt Over a New Ethic – NY Times

Goldman Plays Damage Control – The Wall Street journal

Yes, Mr. Smith, Goldman Sachs Is All About Making Money: View – Bloomberg

Uau, a surpresa. E eu que pensei que era uma Instituição de Caridade…

O Goldman Sachs é um mau banco com reputação de jogar contra os seus próprios clientes (e se me conhecem, saberão que não uso a palavra jogar de ânimo leve). Eu se lá tivesse conta fechava-a. Quem a tem, tem-na por sua conta e risco sabendo da reputação do banco.

Repugnam-me estes inimigos do Capitalismo…

Corporativistas!

 

500 maiores empresas do país duplicam lucros e fintam crise

De acordo com a Agência Financeira,

As 500 maiores empresas do país, segundo a lista publicada pela «Exame», mais que duplicaram os lucros em 2010, face a 2009. A Continental Mabor é a melhor empresa do ano e Alexandre Soares dos Santos recebe o troféu anual Excelência na Liderança, segundo a revista. 

No seu conjunto, as 500 companhias registaram lucros de 12,2 mil milhões de euros, um aumento de 130,2%, em grande parte impulsionado pela venda da Vivo pela PT. «Mas, mesmo sem considerar esta operação, a expansão dos lucros conjuntos das 500 M&M atingiu 27,8%, dando um pontapé na crise», escreve a «Exame». 

O grupo vendeu também mais 13,7% em 2010, revela o estudo «500 M&M», na sua 22ª edição. Este aglomerado de empresas, que representa 71,7% do Produto Interno Bruto (PIB), facturou 124 mil milhões de euros no ano em causa. No ano de 2009, o grupo representava «apenas» 64,7% da riqueza produzida no país.

O sector dos combustíveis continua a liderar, em termos de volume de vendas, representando 13% do total. Este sector registou um acréscimo de vendas de 20,79%. A Petrogal é a empresa que mais factura, seguida pela EDP Serviço Universal e pela EDP Distribuição. Na quarta posição ficou o Modelo Continente e, em quinto, o Pingo Doce. 

Também a rentabilidade das vendas (quociente entre resultado operacional e vendas) mais do que duplicou, passando de 6% em 2009 para 13,1%, em 2010. «Um valor que não encontra comparação na última década», revela a «Exame». A tendência foi semelhante ao nível da rentabilidade do activo e do capital próprio. 

As 500 M&M empregam 8,7% da população empregada no país, o que ilustra bem a sua influência. Isto significa também que a rentabilidade melhorou sem redução do número de empregados. No ano de 2010, o número global de funcionários atingiu os 432 mil, mais 30 mil que no ano anterior.

Relevante é também o contributo das 500 M&M para os cofres públicos: 1,7 mil milhões de euros em 2010, mais 26% do que no ano anterior. 

Estas empresas tiveram, no entanto, de se endividar mais: o endividamento subiu de 66,8 para 72,7%. «Os negócios estão menos sustentáveis», escreve a revista. E o endividamento não é o único indicador que ilustra a maior vulnerabilidade financeira: a solvabilidade (quociente entre capital próprio e passivo) voltou a diminuir, para 37,5%. 

A liquidez geral das 500 M&M desceu, ou seja, a sua capacidade para enfrentar compromissos financeiros de curto prazo voltou a cair. A liquidez geral, que relaciona o activo circulante com o passivo circulante, passou de 127,5 para 81,4% em 2010. 

No que se refere a localização geográfica, mais de 70% das empresas têm as suas sedes na região de Lisboa e Vale do Tejo, seguindo-se o Norte com 20% e a região Centro com 5,65%. Quanto à origem do capital, 57,6% são maioritariamente nacionais. São estrangeiras 42,4% das empresas presentes no ranking. Os países mais representados são a Espanha (9,4%), França (6%), EUA (5,2%) e Reino Unido (2,6%).

Num regime Corporativista e Estatista como o Português, em que a amizade com o Estado é essencial à sobrevivência económica devido a todos os privilégios que este pode oferecer, as empresas com pouco poder político definham, e as empresas influentes  florescem. Crise é para quem não tem peso!

Assim, para as empresas com maior poder político em Portugal:
– Os Lucros variaram +130,2% (Impostos +26%)
– As Vendas variaram +13,7% (Rentabilidade das Vendas duplicaram)
– O peso no PIB atingiu 71,7% do PIB (64,7% em 2009!) (só 8,7% do Emprego)
– Sedes: Lisboa 70%, Porto 20%
– Origem do Capital: Portugal 57,6%, Espanha 9,4%, França 6%, EUA 5,2%, UK 2,6%

A economia real sofre, os empreendedores sofrem, os trabalhadores privados sofrem. Os funcionários públicos “já nos quadros” safam-se bem, os funcionários públicos “de topo” vivem à grande, as empresas com os relacionamentos certos como se vê.

Tudo isto enquanto exportamos “a geração mais bem preparada de sempre”, vendemos as empresas Portuguesas ao exterior e baixamos a taxa de natalidade para valores historicamente baixos.

Gostava de ser um optimista. Mas é cada vez mais claro o que é necessário para ser um optimista.

Capitalismo, Corporativismo e “Capitalistas” – O exemplo Goldman Sachs

Um erro frequente dos esquerdas é confundir capitalismo – a melhor forma de organização económica, baseada em mercados livres e concorrência justa – com corporativismo – uma forma de ditadura em que a cúpula opressiva está junta não por caciquismo mas por relações profissionais. Podem ver este vídeo do Ron Paul sobre o assunto.

O Diário Económico publicou ontem este exemplo sobre a Goldman Sachs.

 

Todas as políticas precisam de 2 elementos: os defensores e os patrocinadores. Pensem nisso. Fechar hipers ao Domingo: padres e comerciantes. Auto-estradas para nenhures: meia dúzia de velhotes e construtores. Proibição de publicidade a tabaco: Liga Portuguesa contra o Cancro e tabaqueiras com elevada quota de mercado. Os Primeiros são usados pelos Segundos.

Assim é também com os Défices Públicos: o Estado apoia os mais necessitados, coitadinhos (o caraças! Obviamente haveria mais crianças educadas e mais pessoas tratadas se esses serviços fossem privados) e a banca financia a juros usuários. Ou seja, mais uma vez os Segundos usam os Primeiros para lucrarem grandemente. O velho esquema, uma e outra vez.

O que a esquerda não vê, é que é usada como fantoche para promover a bondade de um sistema que, inerentemente de quem lá estiver, é feito para dar lucro aos senhores do mundo. Um sistema que promete derrubar mas que, no fundo, fortalece e perpetua

Para quando uma sociedade verdadeiramente capitalista, com Estado mínimo (para quem não sabe o que é o Estado mínimo, leia este link) e guiada pelos consumidores e não pelo grande capital?