O CDS no seu labirinto

Escrevi no Observador sobre o actual momento do CDS e o seu futuro imediato. É dar lá um saltinho e voltar de seguida.

E eu vejo dois desafios importantes para o CDS: por um lado recuperar a situação administrativa e financeira do partido e reconquistar a confiança de funcionários, dirigentes e militantes locais; e por outro lado liderar o combate político de oposição ao Socialismo.

Em ambos os campos o João Almeida tem provas dadas.

As Viúvas de Cristas

“Às pessoas que eu detesto, diga sempre que eu não presto”, cantava Noel Rosa, do seu leito de morte, a Ceci, sua amante e eterna paixão. A viuvez é um estado de desolação, digno das maiores compaixões, mas pode, nas almas menos virtuosas, ser um martírio de indecências. Que o digam as viúvas da Dra. Cristas, a ministra mais socialista do governo de coligação, cuja morte política foi dos poucos feitos edificantes de uma direita moribunda.

Ainda dava a senhora os últimos suspiros e o silêncio não era de luto, mas de lata. A lata que a uns o manteriam e que em outros se transformaria num recém ganho repúdio à memória da senhora professora. Os que se esgueiravam por qualquer agremiação buscando a selfie com a senhora, se empenhavam em duelos virtuais pela sua honra, batiam fortemente o punho à mesa do almoço de Domingo em defesa à sapiência da dita, prontamente se remeteram a um estado que vacila entre o recato e o repúdio. Esse sonho da mulher do povo – que é o mais próximo do povo que a direita do condomínio fechado consegue estar – que compra um vestido no Colombo na véspera de ir à televisão fazer arroz de atum, essa sede protagonismo que fez o Presidente Marcelo parecer uma pessoa tímida e a nulidade do discurso misturada à futilidade da acção não aparentavam, em vida, incomodar as legiões de defensores da boa nova. As t-shirts com kiwis, as marchas pelo clima ou hashtag usadas pela nossa tia que descobriu ontem as redes sociais não pareceram demover o séquito.

Os burros éramos nós. Uns reaccionários que não entendiam nada de política, da grande estratégia que assessores pagos à peso de ouro haviam delineado para o país. E com a sua arrogância foram apoiando a líder em todos os seus tropeços, mesmo sem propostas, mesmo sem tino nas intervenções, mesmo com as jogadas internas de mafioso, mesmo do número de “a culpa é do Melo”. Entre campanhas inconcebíveis, os amigos do costume e megalomanias avulsas, fez-se às contas do partido o que se prega evitar no país. Os burros éramos nós porque não conseguíamos ver além. Mas do peito feito vieram 4%.


O povo português, o que anda de autocarro, o que está a ponderar que conta deixa este mês por pagar, o que está a recibos verdes, o que viu a fábrica fechar, não esteve para fanfarras e serpentinas. Não percebeu muito bem o porquê da senhora falar de tudo sem falar de nada. Não apanhou muito bem aquela história do IRS porque não ganha para pagar isso. Não gostou de se saber abaixo dos professores. Não foi muito à bola com a direita mansa que não o livra nem da ladroagem de rua nem da de gravata, que tolera discretamente que a sociedade se transforme um experimento de engenharia social ao serviço de quem almeja substituir a luta de classes pela luta de géneros e raças. Ainda hoje está para saber o que era aquela história do Faz Sentido, visto aquilo não ter feito sentido nenhum.

Alguns viúvos da tragédia, ainda com o corpo em câmara ardente, vieram a público como se nada se tivesse passado, como quem, não era nada comigo, não sei de nada, é preciso mudar e refundar e uma série de lugares comuns de vendedor de automóveis. Mas aquilo que os viúvos da senhora não percebem é que a memória não é curta, que nós sabemos quem disse o quê, quem defendeu o quê, quem esteve com quem. E que no dia do julgamento, não o divino, mas o terreno, em congresso, os cúmplices do desastre – de altos dirigentes a membros de claque – não sairão impunes da merda que fizeram. Há, no entanto uma esperança. A esperança de que entretanto o CDS saia do condomínio fechado.

Orbán: Podia ser Pior

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Esta questão do Orbán preocupa-me imenso, pois sou um pessimista e considero que pode sempre ficar pior. Ora imaginem lá que o homem não se dedicava apenas a fechar a Universidade do Soros e apertar uns adversários, mas decidia implementar uma ampla estratégia de censura de modo a condicionar globalmente o debate político?

Imaginem que o Orbán, à semelhança de um certo VP do Parlamento Europeu vinha afirmar que a intenção da UE era afastar determinados partidos do boletim de voto. Equacionem um cenário em que Orbán, ainda que admitindo a falta de provas, empreendia um vigoroso ataque contra um gigante tecnológico estrangeiro alegando interferência externa.

E se ele não se limitasse a correr com os refugiados? E se fosse a casa deles bombardear a malta até à idade da pedra, removendo no processo os líderes de países soberanos e deixando um rastro de morte e miséria? Era capaz de ser bem pior.

E se apostasse em montar um super-estado federal à revelia da população e ignorasse constantemente as decisões desta? Aí teria, claramente, uma grande parte das características de um fascista.

Felizmente a coisa ainda não está tão preta e Orbán ainda não se transformou nisso.

A direita não devia apoiar a recandidatura de Marcelo

Para não fugir à regra, mais um claro e sólido artigo do André Abrantes Amaral no Observador.

 Marcelo não só representa o atavismo da sociedade portuguesa, com a leviandade e a futilidade que caracteriza a forma como exerce o cargo (e que tanto jeito dá à esquerda), como entra em contradição com a necessidade de abertura do país a uma alteração comportamental e a um corte profundo com a protecção injusta atribuída a certos sectores.

[…] PSD e CDS ainda não perceberam que o eleitorado que representam em 2019 não é o mesmo de 2009. Não perceberam estes partidos, nem parece que o tenha percebido Marcelo.

O CDS Feminista

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Foi ontem anunciado que será aprovada na AR a mudança da funesta Lei da Partidade, com o aumento da percentagem prevista para 40% e o alargamento do critério a todos os órgão politicos electivos. Na minha curta jornada pelo mundo da política já conheci, pessoalmente e pela via literária, uma imensidão de opiniões dentro das próprias ideologias, mesmo dentro das direitas, diversidade essa, em muitas ocasiões, bem fundamentada. Ora eu já conheci pessoas de direita, incluindo bons conservadores, defendendo a legalização das drogas leves ou da prostituição e socialistas que se lhe opunham. Já conheci quem de direita se opusesse à liberalização do porte de arma para defesa pessoal ou fosse um ambientalista fervoroso – como este que vos fala – e socialistas que optassem pelas posições contrárias. Muito se pode escrever acerca destas questões e muito se pode e se tem teorizado sob o seu enquadramento, legítimo ou não, à luz das ideologias relevantes.
O que eu nunca conheci pessoalmente, nunca encontrei nos livros, nem nunca ouvi num podcast foi uma feminista – nos moldes em que actualmente o feminismo se enquadra, na sua terceira via – que fosse de direita. Sendo improvável a existência de um cavalo com asas, nem pelas leis da biologia nem pelas da física, é mais provável eu ter exagerado nos shots de tequila do que estar na presença da mítica criatura. O que me leva a concluir que, dada a diferente natureza entre os fenómenos da própria e os ideológicos, quando me deparo com a primeira pessoa, supostamente à direita, que se diz feminista, é mais provável essa pessoa não ser, de facto, de direita do que estarmos na presença de um cisne negro, terminando eu a indagar acerca do escombro do espectro político em que a Presidente do CDS habita. Dito isto, revivo o debate que se acendeu pelas posições tomadas, na AR, por um deputado do partido, debate esse que gerou páginas de discussão na imprensa, no Facebook, na blogosfera e nas suas caixas de comentários, pois dizia-se ser impensável o partido ser tão complacente a uma suposta violação grave da matriz do partido.

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CDS – Uma Reflexão Pré-Congresso

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O CDS padece, desde a sua génese, de uma lamentável disposição a ser bengala. Esta disposição, originada, a meu ver, por um medo de parar, permite-lhe ir andando, mas também o impede de correr. Nas ocasiões, poucas, em que o CDS resolveu tentar aspirar a marcar a sua posição no espectro político, ora obteve votações expressivas da parte do povo português – ver este artigo de Richard A. H. Robinson -, ora foi esmagado por circunstâncias da época, como o foi o choque de Lucas Pires e do Grupo de Ofir – ver artigo do Adolfo MN – com a ascensão do Cavaquismo. Faz falta pensar, sobretudo pensar. Os tecnocratas que nos apoquentam, os que nos bombardeiam diariamente com chavões como challenge e leadership e branding, não entenderam, ou não quiseram entender, o poder da marca na política: e essa marca é a ideologia, firme, segura de si.

Ao ambicionar diminuir-se ideologicamente, para com isso assaltar o eleitorado ao centro, o CDS consolida a desconfiança já tremida daquela que é a sua base: a direita. E porque um mal nunca vem só, enxota de vez os desapontados, aqueles que nos mais de 40% de abstenção não se reconhecem neste sistema putrefacto do arco da governação. Hipoteca o futuro por umas migalhas no presente, apesar de ser, mais tarde do que imaginam os arautos da serenidade do bom povo português, Pinheiros de Azevedo desta vida que tomam por fumaça o êxodo dos jovens da política, candidato a como os outros perecer na poeira do tempo, olhado daqui a uns anos como relíquia de uma época menos afortunada.

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UGT contra coligação de esquerda

Carlos Silva, Secretário-Geral da UGT, falou hoje à Antena 1 sobre os devaneios de Costa:

Ficaremos mais tranquilos se efectivamente a decisão do PS for de encontrar um compromisso com o PSD e o CDS. Não me parece que efectivamente as forças à esquerda do PS dêem, na minha opinião, a garantia de estabilidade em relação ao futuro. Há dúvidas. E portanto o PS só conseguirá fazer maioria se tiver maioria na assembleia quer do PCP quer do BE. É uma maioria instável que não dá garantias de que no futuro a governabilidade será assegurada por 4 anos.

O PSD – ou o CDS – é o “Partido dos Ricos” ?

alfaiateÉ praticamente impossível cruzar o Facebook de uma ponta a outra sem nos depararmos com lamentos perante este resultado eleitoral e pela afluência às urnas dos ricos e da classe média alta que elegeu os “bandidos”. Ora este tipo de discurso ainda parte daquela velha visão aparvalhada de quem imagina uma sociedade que vota nos partidos segundo o nível de rendimento, com o maior dos capitalistas a votar no CDS, num extremo e a plebe a votar no BE e no PCP, no outro.

Esta teoria teria desde logo como consequência mostrar ao país os magníficos índices de desenvolvimento social dos distritos a norte, como Braga, Bragança ou Vila Real, onde aparentemente a percentagem de pobres é bastante diminuta e a de ricos, em alguns conselhos, é avassaladora. Concelhos como Ponte de Lima, Valpaços ou Boticas deviam ser estudados a par de Hong Kong em matéria de desenvolvimento económico tal é, no ideal esquerdóide, a concentração de capital nestas áreas. Aos eleitores do BE só poderíamos apontar aquela grande fatia, na sua maior parte gente de classe média para cima, muito letrada e urbanizada, como possíveis sabotadores infiltrados.

É portanto um exercício de demagogia aparvalhada lançar a ideia de que no PSD e no CDS votam os ricos e que quem tráz a carteira mais leve vota à esquerda. Até porque quem se debruçar sobre os programas dos partidos à esquerda da coligação observará uma série de propostas para obras públicas, reforço da função pública, subsídios às artes e regulações económicas que pretender redistribuir o dinheiro de quem está na penúria – juntamente com uma série de privilégios – por secções da sociedade bem mais abastadas.

O real problema é que a alta burguesia que comanda a esquerda em Portugal nunca engoliu bem o facto de que o zé povinho não tenha absorvido a doce melodia dos amanhãs que cantam e teime em preterir os seus fiéis defensores a troco dos servos do grande capital. A este povo sereno falta-lhe valores revolucionários. Esses senhores que vêm o mundo dos seus gabinetes nas universidades, dos seus palcos culturais , entre outros nobres poleiros, não conseguem descodificar o que vai na cabeça da plebe. E entende-se o porquê: eles nunca o foram. Não é portanto estranho que à esquerda caviar irrite que essa gentalha de pé rapado, incapaz de interpretar um parágrafo de Marx , que enche concertos do Tony Carreira e vira costas à magnificência do cinema lusitano, vote de acordo com a sua vasta ignorância. É o socialismo snob pseudo-intelectual da capital que ainda há uns tempos lançou uma Jihad a um puto de 16 anos que fez pela vida, que troça da escolha de roupa de Passos Coelho e que já veio aqui defender que o povo era parvo porque via muitos American Pies. São estes os Revolucionários de ténis Lacoste.Como escrevi há uns tempos no Mises, estamos condenados a aturar o “maoista de rolex. Gente que afronta diariamente o modo de vida do mundo ocidental, com os seus supostos vícios, luxos e as suas injustiças, mas não dispensa um bom sapato de boutique italiana ou um voo de primeira classe para um show no Olympia em Paris.”

Felizmente para si, o povo terá sempre nestas figuras de alto garabito no mundo intelectual um guia para compreender o que é melhor para si, não vá pelo meio alguém descobrir que um foram um conservador autocrático alemão e um liberal inglês – um conde e um barão, respectivamente –  quem construiu as bases do Estado Social. Reza a lenda que se o país pacato que (sobre)vive na crise viesse a saber como vivem e falam as altas cúpulas do PSD/CDS – e arrisco dizer do arco da governação – a esquerda radical teria uma votação avassaladora. A mim parece-me mais correcto admitir que, descobrisse o país como se vive e fala nas cortes da esquerda caviar esta estaria há muito a debater-se com a extinção. Esses sim são pobres. De espírito.

Rescaldo das Eleições Autárquicas

PSD perde. Não por penalização esmagadora da sua política a nível nacional, mas por uma gestão descuidada de processos como Porto, Gaia, Sintra, entre outras. Mais: onde perdeu 7 (sete!) câmaras foi na despesista Madeira – o que penaliza a política despesista de Jardim e reforça a política de austeridade de Passos Coelho.

PP triplica o seu número de câmaras. Ponte de Lima mantém-se (passa de 6-1 para 5-1-1, com o último vereador para o “independente”, que há 4 anos concorreu pelo PSD), conquista Vela (3-1-1, nos Açores) e Santana (3-2, na Madeira). Além disso, ganhou ainda Vale de Cambra e Albergaria-a-Velha e lançou Abel Baptista para Monção passa de PS 6 – PSD 1 para PS 3 – PSD 3 – PP 1, tornando-se o fiel da balança no concelho.

PS de Seguro perde 4 sedes distritais: Beja (CDU), Évora (CDU), Guarda (PSD) e Braga (PSD). Além disso vê Costa ganhar Lisboa com um resultado histórico – uma catástrofe para Seguro. Aproveita alguns deslizes (como Coimbra e VN Gaia), mas não consegue sequer ganhar o Porto, onde já foi poder e depois de ter 6, 5 e 5 vereadores, fica com 3.

CDU conquista Beja e Évora. Desta vez, CDU é mesmo uma das vencedoras da noite. Eu sei que o discurso de Jerónimo é indistinguível de umas eleições para as outras, mas desta vez…
BE teve uma noite catastrófica. Depois do desastre nas legislativas, perde a única câmara que tinha. Nem a coligações foi chamado. Muito mau mesmo.