A ignorância económica dá nestas coisas

Daniel Oliveira “Anatomia de um assalto (III): Estratégia de empobrecimento”

A estratégia foi explicitada numa das conferências de imprensa da troika. O objectivo é reduzir drasticamente os custos com o trabalho (…), reduzir o consumo interno e aumentar as exportações. Através de uma desvalorização da economia, que substitui a impossível desvalorização monetária, pretende-se intervir para reverter a balança comercial portuguesa, bastante deficitária.

Algumas questões ao “douto” cronista:
a) Qual é efeito que ele julga que teria uma desvalorização monetária?
b) Qual foi a estratégia escolhida na crise 1983-85 e quais os seus efeitos sobre os rendimentos do trabalho?
c) Porque razão é necessário “reverter” o défice da balança comercial portuguesa?

Queriam que falhassemos por mais?

Peço desculpa por me repetir. Era só para dizer que continuo maravilhado com a consistência da argumentação daqueles que ao mesmo tempo que criticam o falhanço das metas orçamentais criticam os (magros) cortes na despesa pública. Nem é preciso ir nuito longe. Têm toda a última década para demonstrar o bonito resultado dessa “estratégia de crescimento”.

A germanofobia tem destas coisas

Com a germanofobia a atingir por estes dias o estatuto de religião laica é natural que qualquer noticia negativa sobre a Alemanha (veja-se o recente europeu de futebol) seja, para muitos, motivo de júbilo. Ainda assim seria conveniente manter um mínimo de racionalidade coisa que neste post parece ter-se ausentado para parte incerta . 

A  autora parece acreditar que coisas que dão pelo nome de “liderança” ou “visão europeia” poderiam ter salvo a Grécia ou Portugal (ou mesmo a Espanha) da bancarrota. Aliás, não é difícil perceber que se tivesse havido maior empenho (leia-se endividamento) alemão em favor do Clube Med em vez de um simples “negative outlook” teriamos já assistido a vários descidas na notação da dívida alemã. E também não parece credível que a ameaça da Moody’s torne os alemães mais generosos.

Na cabecita deles vai dar tudo ao mesmo

Conhecida a recente avaliação feita pelo Ministério das Finanças às contas da Madeira e os avisos dela decorrentes, notícia a TSF que “PS e CDS rejeitam novas medidas de austeridade para a Madeira” o que indicia posições idênticas dos maiores partidos da oposição regional. Certo? Errado.

Enquanto o CDS rejeita novas apenas medidadas do lado da receita,o PS-M rejeita quaisquer medidas adicionais. Quer do lado da receita quer da despesa. Nem se percebe muito bem a alternativa. Provavelmente, nenhuma.

A Alfama School of Economics tal como ela é

Rui Alpalhão oferece aqui uma excelente descrição da mentalidade dos “doutorados” na Alfama School of Economics.

Ver televisão em Portugal no início do Verão de 2012 é reconfortante. (…) Salvo honrosas excepções, todos têm a solução para o problema que atravessamos, e oferecem-na barato (o preço da assinatura dos canais por cabo, ou, felicidade suprema, a borla nos canais abertos).

Neófitos como Merkl e Schäuble não percebem nada do assunto, e com a sua ignorância teimam em lançar a Europa, e sobretudo Portugal, nas trevas. São maus. Por pura maldade, não querem abrir a torneira do Banco Central Europeu, quando para o comentador televisivo português é óbvio, entra pelos olhos, que com a torneira aberta se retoma o crescimento, na Europa, em Portugal, na Tasmânia e na Papua Nova Guiné. Desaparece o desemprego, acabam as insolvências, o Bruno Alves acerta na baliza, o “penalty” guardado religiosamente para o CR7 acontece. Tudo com o simples abrir de uma torneira. Qual ciclo económico, qual quê.

Há neste consenso algo de comovente, e de suprema confiança no Homem. Se se inventou a electricidade, se viajou à Lua, se encontrou o bosão de Higgs e a cura para a calvície está iminente, então não se sabe como dominar uma coisa básica como o ciclo económico? Que disparate, claro que se sabe, ou seja, os comentadores televisivos sabem, ou, pelo menos, acham convictamente que sabem.

Os sábios do regime (2)

“não recolher os impostos previstos por causa da recessão, ou ter um crescimento exponencial das despesas da segurança social devido ao desemprego, já são consequências do modelo escolhido para controlar o défice.”

Eu até me vou esquecer da conjuntura internacional. Que já no governo anterior andavamos a pedir dinheiro para pagar os encargos da dívida. E que, de qualquer forma, os credores já não estavam dispostos a financiar-nos os défices públicos pelo que se não fizessemos um acordo com os credores o défice orçamental era imediatamente ZERO e teriamos de cortar despesa muito mais rapidamente pela simples razão de não haver dinheiro para além do que conseguissemos extorquir aos contribuintes ou a vender património. Posto isto, gostava imenso que o Pacheco Pereira apresentasse propostas para reduzir o défice público em Portugal sem causar

a) Contração da actividade económica
b) Redução da receita com impostos
b) Aumento do desemprego

Conhecimento por osmose (versão Daniel Oliveira)

Daniel Oliveira neste comentário: “Todos nós pudemos falar de economia. Todos nós temos e tivemos contacto com ela.”

Possíveis variantes:
– “Quem vive numa casa adquire automaticamente conhecimentos de construção civil”
– “Toda a gente que anda nos autocarros da Carris percebe de política de transportes”
– “Se já fizeste o Inter Rail estás habilitado a falar de redes trans-europeias”
– “Ontem joguei na lotaria e fiquei a conhecer a teoria das probabilidades”
– “No ano passado conheci umas inglesas no Algarve e adquiri créditos para a licenciatura de Relações internacionais”.

Ui! Aposto que a Sra Merkel até ficou com a pernas a tremer

Daniel Oliveira no Arrastão

Na realidade, nós estamos todos a pagar para a Alemanha manter, numa Europa disfuncional, um poder económico para o qual não tem, sem a União e o euro, dimensão. E está na altura de pensarmos como um alemão e dizermos à senhora Merkel: ou faz parte da solução ou prepare-se para umas décadas de penúria. Quer mesmo arriscar o fim do euro? Não? Então ponha-se fina. O problema é que temos todos sido os anjinhos no meio de um jogo de poker. Está na altura de desfazer o bluff alemão.”

O deputado Pedro Nuno Santos é que tinha razão. Vamos então dizer à Sra Merkel que ou ela nos dá todo o dinheirinho que queremos (e sem exigências!) ou então ela que vá ressuscitar o Marco Alemão. Está-se mesmo a ver que após cortar o financiamento ao “Clube Med” (um termo mais simpático que PIGS) a Alemanha irá enfrentar a penúria. Como ontem dizia o par da esquerda no P&C, vamos descobrir onde é que o dinheiro está escondido.
e nós entraremos (finalmente) no paraíso socialista.

E pensar que os gregos queriam tanto entrar para o euro que até aldabaram as contas. Ainda estou para descobrir como é que os alemães os convenceram enganaram obrigaram a fazer isso!