Passos Coelho Vs Tsipras – Quem combateu a desigualdade?

Os anos da troika. Portugal foi o único país a sair da crise com menos desigualdade:

Estudo académico olhou para os países do sul da Europa e, criticando a política da austeridade, destaca Portugal como o único destes países onde o “aperto do cinto” causou menos desigualdade.

Há a diferença entre falar palavras e fazer as medidas. Parabéns Passos Coelho!

Deve Ser Isto O Virar Da Página Da Austeridade Na Grécia

O governo grego acaba de aprovar um pacote de austeridade que inclui corte nas pensões e aumentos de impostos no valor de 5400 milhões de euros ao mesmo tempo que a polícia se confrontava com protestos violentos de manifestantes. Imagem retirada daqui.

Greece

Vale a pena recordar que na longínqua data de 11 de Abril de 2016, António Costa e Alexis Tsipras apareciam juntos contra a austeridade  – imagem abaixo retirada daqui.

Costa_Tsipras

A Grécia não é a Albânia

Foi a Albânia senhores, foi a Albânia. Helena Matos no Observador:

Uma coisa é ser demagogo, fazer bluff, levar o povo para aventuras desastrosas. Tudo isso Tsipras fez mas cedeu quando percebeu que, se não assinasse um acordo com os credores, só lhe restava ver a Grécia transformada no próximo parque temático dos esquerdistas europeus. E esse destino os gregos conhecem-no bem pois têm-no ali mesmo ao lado, na Albânia.

A Albânia que não cedeu ao capitalismo, a Albânia que lutou contra o revisionismo. A Albânia que estava contra os grandes blocos. A Albânia que disse não. A Albânia que acabou tão irrelevante e tão pobre que os albaneses nem têm direito a que se fale da sua crise humanitária, pois a miséria que na Grécia comove, na Albânia chama-se qualidade de vida. Traço pitoresco nas notas dos viajantes, relato de jornalistas em busca do “autêntico”.

E o leitor, quando foi a última vez que ouviu falar nesse paraíso que é a Albânia?

Tirana - Albania

Insultos aos salvadores do governo grego

Greek politics 2015
Pequeno carro da oposição ajuda governo a passar medidas anti-populares do governo do Syriza. Enquanto isso, o Syriza continua a insultar a oposição com insultos como colaboracionistas ou nazis.

Em Portugal também acontece este nível de insultos a quem, mal ou bem, está a salvar o país da bancarrota. Mas na Grécia neste momento ainda é mais evidente: a direita grega apoia o governo do Syriza, sem o qual aquele nem andava, e ainda é “nazi”.

PS: Nazi quer dizer, literalmente, nacional socialista. O que ainda consegue adicionar mais um nível de ironia neste episódio.

 

Vale a pena eleger um partido de extrema esquerda?

Façamos uma cronologia rápida. Eles certamente levam isto ao charco em poucos meses. Depois, como eles só vivem com o dinheiro dos outros, acabam a pedir dinheiro a alguma entidade internacional. Como qualquer credor, essa entidade vai pedir uma mudança de vida. Em contexto de crise, consegue-se aprovar no parlamento um pacote de reformas do mercado laboral, um enorme pacote de privatizações e diversas medidas que estavam há muito em gavetas. Como bónus, a malta que é cega como uma porta e anda por clubismos, ainda acaba a defender essas mesmas medidas. Dá que pensar…

O Euro, a Grécia e a campanha eleitoral em Portugal

Cataventos

Ricardo_campelo_MagalhaesO meu artigo de ontem no Diário Económico:

“A democracia matou o padrão ouro”. Charles Rist referia-se ao aumento da pressão por programas de redistribuição que obrigam governos a obedecer ou a sair na próxima eleição. A situação do euro prova mais uma vez como esta frase foi profética.

O povo não compreende as vantagens de uma moeda forte,as elites políticas acreditam que compensa retirar um euro a dez milhões para dar um milhão a dez apoiantes, e quem devia explicar a falácia da composição prefere tentar beneficiar do sistema, empurrando o problema para a frente.

Assim, o sistema gera políticos como António Costa: no verbo, solidário com todos e disponível para todos os esquemas redistributivos; na ação, focado na sua sobrevivência a qualquer preço e nos que lha possam proporcionar. Logo, ora o Syriza é a esperança da Europa quando ele ganha, ora se distancia quando aquele leva a Grécia ao abismo; ora promete mais despesa do Estado, ora afirma a sua fé no euro para todos.

Nos próximos meses, o PSD será o oposto da Grécia, o PS será o seu reflexo: um partido que defende tudo e o seu contrário, cheio de conflitos e contradições, incapaz de tomar posições firmes, e em que a única certeza é que vai navegar para onde sopre o vento.

Uma Início Auspicioso

Alexis Tsipras encerrou ontem o discurso de apresentação do programa de governo, afirmando que “irá reclamar a indemnização de danos causados pela Alemanha durante a segunda guerra mundial“.

A Grécia tem a obrigação moral para com o seu povo, para com a sua História e para com todos os povos europeus que lutaram e deram o seu sangue contra o nazismo“, afirmou Tsipras. O valor exigido, de 162 mil milhões de euros, representa cerca de metade da dívida pública da Grécia, estimada em 315 mil milhões de euros.

Boa Sorte lá com isso, Tsipras.

Leitura complementarCoisas sérias por decreto: a extinção da austeridade

Um beco sem saída

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Com a argúcia estratégica da ígnea, Tsipras entrou com a Grécia, a reboque do partido que elegeu, num beco sem saída. A posição de espartano confrontador dar-lhe-á aquilo que ele jura não querer, a saída do Euro — embora seja evidente que a quer —, não assumindo porém a responsabilidade por essa decisão. O plano é simples: forçar a ruptura que liberta a Grécia desse despeito que são as regras orçamentais (i.e., a realidade, a responsabilidade fiscal, o dogma ideológico de que 1 + 1 = 2), que o impedem de implantar o sonho venezuelano. Ao mesmo tempo, culpa a Alemanha, a Europa, enfim, os neoliberais, pela inflexibilidade. Uma vitória interna tácita, pois encontra a quem possa remeter as culpas pelo sofrimento que acalentará os gregos, pelo menos os que têm eletricidade grátis, nos anos vindouros, e a certeza que poderá continuar a prometer estender as praias de Corfu a Atenas.

Mas o plano falhará por vários motivos. O primeiro é de ordem económica. O eleitorado grego deixou-se seduzir pela promessa vã, pelos cantos das Sirens, pela demagogia. Em suma, por aquilo que tão bem caracteriza a extrema-esquerda, a irresponsabilidade lunática. Enquanto país soberano são decisões legítimas do seu povo. O que não podem exigir é que sejam os outros a pagar a euforia. Compreende-se que os restantes países, particularmente os que estão sujeitos a fortes medidas de consolidação orçamental e austeridade, não queiram suportar a folga dos gregos. Até porque a Grécia já beneficiou de dois resgates que ascendem a 240 mil milhões de Euros, e beneficia ainda das taxas de juro mais baixas de toda a periferia, em alguns casos com um custo para as próprias instituições europeias.

Mas falhará primariamente por uma questão de ordem política. A cedência da Europa perante o discurso chantagista da esquerda radical, de Das Kapital em riste, abriria perigosos precedentes para outras papoilas saltitantes por essa Europa fora. Em particular em Espanha, galvanizando assim o temerário homem do rabo de cavalo, Pablo Iglesias. E de Espanha a França ou a Itália é um instante. Portugal safa-se, não porque os lunáticos não existam, mas porque têm o carisma de um cabide, embora não esteja imune a desvarios da ala proto-lunática do PS, a dos jovens turcos.

Se a Europa nunca aceitaria a chantagem de um Governo de extrema-direita, e bem, também não deve agora subjugar-se aos ditames de tolinhos que seguram a pistola contra a sua própria cabeça, ameaçando premir o gatilho se eles — nós — não fizermos o que eles querem. Pois que disparem.

Uma grande vitória do Syriza

Alexis Tsipras

Estamos perante uma incontornável vitória do partido da esquerda-radical grego, Syriza. O seu líder, Alex Tsipras — conta-se que terá dado o nome de Ernesto a seu filho em homenagem a esse pacifista sul-americano, Che Guevara — venceu no país onde os resultados eleitorais, incluindo o 3º lugar alcançado pelo partido neonazi Aurora Dourada, fazem tanto sentido como a forma como se governa. Ou seja, nenhum. No país onde ser cabeleireiro é profissão de desgaste e permite reforma aos 53, agradeça-se aos alemães, ganharam aqueles cujo corte de cabelo um dia terá sido semelhante ao de Che Guevara.

Seja como for, e estragando a festa a Rui Tavares, a João Galamba e a todos hábeis capitalizadores do ímpeto eleitoral do discurso anti-austeridade, esta foi, sem dúvida, uma enorme vitória, mas não vossa. Analisemos todos os cenários possíveis:

1. Tsipras modera o discurso, cumpre tratados e obrigações. Neste caso, Tsipras não faz mais do que os seus congéneres franceses e italianos, Hollande e Renzi, que de garanhões anti-austeridade passaram a tíbias libelinhas patrocinadas pela Pfizer. À terceira é de vez, e torna-se ainda mais óbvio que, face à realidade, não resta muito a fazer. Seria mais uma derrota da esquerda e da extrema-esquerda europeia, acantonadas pelo seu discurso idílico do fim da austeridade — vulgo, cumprir regras orçamentais — e da caça ao unicórnio.

2. Tsipras radicaliza o discurso, Grécia sai do Euro. Acontecendo a famigerada Grexit, a Grécia seria atirada para a mais abjecta pobreza. Desvalorização do dracma, default da dívida, saída dos mercados de capitais, intervenção de emergência do FMI, tudo isto faria a austeridade parecer uma história de embalar. E não podem culpar a Merkel: a Grécia, bem ou mal, tem-se mantido no Euro. Olímpia a arder enviaria uma clara mensagem para o eleitorado europeu com propensão para sonhar: os unicórnios não existem.

3. Tsipras não consegue governar, voltando a convocar eleições daqui a uns meses. Neste cenário, confirma-se a inaptidão da extrema-esquerda para tudo o que não sejam marchas LGBT ou propostas de criminalizar o piropo. Desfeita a magia por demérito do próprio, a Grécia perde entretanto preciosos meses no seu ajustamento, agudizando ainda mais o ajustamento necessário.

Destes 3 cenários que decorrem de uma vitória do Syriza, nenhum é positivo para a esquerda ou para os proponentes da posição anti-austeridade, isto é, para aqueles que vêm nas regras orçamentais uma opção ideológica. É uma enorme derrota que cheira a vitória, sabe a vitória, mas não o é.