A culpa não é sempre dos alemães

Rui Ramos no Observador

Não foi, porém, a Alemanha que forçou a adesão dos países do sul à moeda única. Os alemães desconfiavam do euro, e os seus governantes receavam a companhia da Grécia. Foram os países do sul que se impuseram, e se os nórdicos têm culpa, é talvez a de não terem resistido mais. Entretanto, a paixão grega pelo euro não acabou. Os gregos, hoje, parecem não querer pagar a dívida ou ajustar a despesa ao produto nacional. Mas continuam a querer o Euro, ou mais exactamente, o dinheiro estável e barato que o Euro significa, e que nunca a Grécia conheceu noutro regime. Mas querendo os benefícios, dispensam as regras. Porque é que julgam que isso será possível?

Uma cautela imperativa

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O Bundesbank anunciou esta Segunda Feira uma posição que já vinha sendo aconselhada pela BCG (Boston Consulting Group), mas que agora se torna premente dada a adopção institucional da proposta. O banco central alemão afirma que não fará sentido socorrer países em dificuldades financeiras sem que, primeiramente, estes taxem os seus cidadãos. Medida similar à efectuada no Chipre, o bail in tem dois objectivos imediatos: garantir internamente o capital necessário para onerar as dívidas externas do Estado e, não menos importante, reduzir o risco moral associado à garantia implícita de um programa de assistência financeira. Esta segunda nota é especialmente relevante para Portugal, o único país da União Europeia que teve três programas de assistência em 37 anos.

Uma de três e meio

Findo o programa de assistência financeira, existem três possíveis desfechos: a) um segundo programa de resgate;  b) um programa cautelar; c) uma saída limpa. No primeiro caso, o programa de assistência financeira garantiria a liquidez necessária por mais uns anos mas ao mesmo tempo sinalizaria aos mercados a já por demais evidente debilidade da economia e das finanças públicas portuguesas. A segunda hipótese pressupõe uma linha caucionada pelos mecanismos de estabilidade europeia, já sem FMI, mas com a presença de entidades externas que pressionarão a tomada de importantes reformas estruturais. A última, e talvez mais arriscada, seria uma saída a nú. É esta última que acarreta os riscos de um bail in.

Uma saída limpa, mera ilusão de quem a aclama, não seria menos débil. Portugal ainda recupera de uma recessão; as famílias, as empresas e o Estado ainda estão em processo de consolidação e, talvez mais relevante, a trajectória da dívida soberana ainda não foi travada, longe de ser sustentável. A despesa corrente foi freada iminentemente com recurso a medidas espúrias que serão revertidas assim que o congelamento dos salários e as taxas e sobretaxas caduquem. Como também vem sendo hábito, parte da consolidação foi feita recorrendo a receitas extraordinárias.

Bail in, o pior desfecho para Portugal

É precisamente esta terceira hipótese e meia que poderia conduzir a um bail in, o pior dos cenários para Portugal e para os portugueses. A economia portuguesa está descapitalizada. Taxar mais os portugueses, ainda que de uma só vez, iria condicionar drasticamente a poupança, o investimento e o consumo e, por conseguinte, o crescimento da economia e a criação de emprego. Iria submeter Portugal a uma profundíssima recessão, recessão essa que iria fazer com que o mais arauto dos anti-austeritários ansiasse pelo retorno a 2013.

A imposição do bail in é compreensível quando nos colocamos na posição do credor. Basta recordar a reacção do português continental perante o anúncio dos desvarios cometidos pelo outro português, o insular. Seria, contudo, o pior que poderia acontecer a Portugal. Como tal, e para bem de todos nós, urge pedir às instâncias europeias um programa cautelar que garanta, ainda que não seja utilizado, os recursos financeiros necessários e mantenha uma delegação europeia que supervisione a implementação das reformas estruturais. Esta posição não deverá ser interpretada como submissão mas como um racional e imperativo sentido de responsabilidade. À cautela.

Nota: este artigo deverá ser complementado com as oportunas reflexões do Ricardo Arroja e do Camilo Lourenço, aqui e ali.

Adenda: em comentário, o JT refere que o estudo da BCG recomenda um one-off capital levy a todos os países da União Europeia e não apenas ao país visado. Isso muda radicalmente as implicações políticas do estudo da BCG. No entanto, a posição do Bundesbank mantém-se. O imposto seria ao país.

FDP

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O Free Democratic Party (FDP) é um partido liberal clássico alemão que apoia fortemente os direitos humanos, as liberdades civis e o internacionalismo. Mais ainda, defende a liberdade económica e a prossecução de políticas de mercado livre e de privatização.

O FDP geralmente coliga-se com o CDU, o partido democrata cristão, mas a votação é independente. Das últimas votações resultou a seguinte distribuição de deputados:

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Os liberais têm, portanto, uma relevante representação parlamentar. Quase 1/6 do Bundestag, o Parlamento Alemão.

Em Portugal, FDP não seria mais do que um dos frequentes e pouco criativos insultos que se atiram a tudo e todos que se oponham ao progresso socialista. Vulgo, os neoliberais. Acresce a outras acusações menos diretas mas igualmente inusitadas: que queremos empobrecer o mundo em geral e os pobres em particular, e que, previsivelmente, estamos ao serviço do grande capital e da grande ordem financeira global.

De facto, contrapondo com o espectro político alemão, existe uma enorme pobreza intelectual e política em Portugal. A Assembleia da República é, em menor ou maior grau, socialista. E assim é a maioria da população.

Quanto a nós, liberais e mesmo socialistas portugueses, resta-nos agradecer a existência de um Partido Liberal Alemão que tem, direta ou indiretamente, placitado um apoio financeiro a Portugal. Sempre atual, hoje e sempre, o socialismo é isso mesmo. Gastar o dinheiro dos outros. Portugal fá-lo com uma enorme mestria.

Reality check

Two thirds of Germans think they would be better off with the Deutschmark instead of the euro, according to a survey published on Monday (17 September) by Bertelsmann Stiftung, a German foundation

As sondagens mostram que a chanceler é, de longe, o político mais popular do país. Se as eleições fosse hoje, Merkel ganharia com 50% dos votos

ADENDA:
Jens Weidmann said that efforts by central banks to pump money into the economy reminded him of the scene in Faust, when the devil Mephistopheles, “disguised as a fool”, convinces an emperor to issue large amounts of paper money. In Goethe’s classic, the money printing solves the kingdom’s financial problems but the tale ends badly with rampant inflation.

Comenta a propósito o Luciano Amaral: Só um alemão para introduzir dimensão literária no prosaísmo da economia. Não é bem coisa que se veja Carlos Moedas a fazer.Mas Weidmann esteve mesmo muito bem, já que afinal Goethe também foi ministro das Finanças. É como diria Maria Teresa Horta: a literatura está por todo o lado.

Demora muito?

Públco

O aviso foi dado pelo vice-presidente do grupo parlamentar do partido de Angela Merkel, Michael Fuchs, em declarações ao jornal diário Handelsblatt, numa entrevista que será publicada na segunda-feira.

De acordo com o responsável, a Alemanha está preparada para recorrer ao seu poder de veto, caso entenda que a Grécia não está a cumprir o acordado com os credores internacionais (União Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu).

Nem os alemães gostam da Angela Merkel

Sondagem mostra que alemães querem Grécia fora do euro

O estudo, feito pelo Infratest para o canal de televisão público ARD, mostra que 65% dos alemães quer que a Grécia saia da moeda única.(…)

Os entrevistados germânicos mostram-se (…) satisfeitos com Angela Merkel e pensam que é a melhor pessoa para os liderar nesse momento. Uma percentagem de 70% diz que a Zona Euro está “em boas mãos” com a chanceler alemã. É uma subida de dois pontos percentuais face ao mês anterior, renovando-se assim a mais elevada pontuação desde Dezembro de 2009 nestas sondagens do Infratest.

Segundo a Bloomberg, o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, é o segundo político melhor visto para salvar a união monetária, com uma percentagem de 67%.

Uma medida para combater o desemprego

Em 2003 o chanceler Gerhard Schroeder (um conhecido “neoliberal”) propôs a criação dos “mini-jobs”. Empregos a tempo parcial cujo salário máximo seria 400 euros, isentos de impostos sobre o rendimento e cujas contribuições para a segurança social seriam voluntários. Foi duramente criticado mas parece que a ideia resultou em pleno. Mas há que ache que é preferível manter as pessoal no desemprego.