Porque ainda há quem acredite que somos mais produtivos quando nos obrigam a mudar hora do relógio duas vezes por ano.
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SATA: lições sobre “serviço público”
Hoje, no “Primeiro Jornal” da SIC, vi reportagem sobre acumulação de dívida na companhia aérea SATA/Azores Airlines. Passou de €5 milhões em 2007 para €250 milhões em 2017.
Francisco César, deputado PS Açores, filho do líder parlamentar do PS Carlos César, admite ter sido uma opção política para “prestar serviço público” em época de crise a fim de “garantir fluxos turísticos à região”.
Só que easyJet e Ryanair conseguiram aumentar tais fluxos com muito menores custos… Ou seja, os contribuintes açoreanos (e do Continente) agora têm de pagar pelos “voos políticos” do Governo de Carlos César.
Face à situação financeira da SATA, Governo dos Açores procura um “parceiro estratégico” para adquirir 49% do capital. Estratégico? O termo mais adequado é masoquista.
Socialistas (de todos os quadrantes políticos) justificam sempre prejuízos como a necessidade de oferta de “serviço público”. Numa economia de mercado (capitalismo) as trocas são voluntárias. Só ocorrem quando todas as partes acreditam poder beneficiar da transacção. Quando políticos decidem manipular esse harmonioso equilíbrio, alguém terá de ser involuntariamente prejudicado para que outros possam beneficiar. Não é só em política que tal acontece. Só que a essas outras situações chamamos de roubo!
FADO – Futebol, Autoridade, Deus e Osgas
Sobre o endeusamento ao futebol clubístico que vai grassando em Portugal e as consequências e análises fica muito dito no artigo de Alberto Gonçalves no Observador de 10 de Março, cujo link aqui fica para os que quiserem reler.
http://observador.pt/opiniao/jonas-vende-me-a-tua-camisola/
Mas tenho pena que o Alberto Gonçalves não tenha feito a ligação, que me parece bastante óbvia, de que muita da argumentação “ao nível da osga” dos defensores do clube A ou de B no futebol português seja a mesma que em muitos fóruns televisivos e jornalísticos vemos na discussão da coisa política Portuguesa para assuntos sérios e importantes na nossa vida em sociedade, como sejam a sustentabilidade da segurança social, a carga impositiva e regulatória do Estado Centralista, o primado do colectivo sobre as liberdades individuais e tantas outras matérias que nos vão deixando relativamente mais pobres enquanto País.
Simplesmente a objectividade e a racionalidade desaparece quando falamos com a emoção e a paixão clubistica e na política partidária e dos comentadores nada de fundamentalmente diferentes se passa. Há iluminárias (pós) modernas que usam a justificação de que tem que ser assim, ou seja com argumentos “simples” defendendo custe o que custar, contra tudo e contra todos, para poder arregimentar os seguidores dos canais, dos blogs ou das redes sociais para uma causa clubistica ou política .
Como se a razão se obtivesse pelo maior número de adeptos ou número de votos. Dois terços do antigo Bundestag deu o poder absoluto a Adolph Hitler, só para citar a perversão do número, como critério de razão na sociedade (obrigado ao Pedro Arroja por nos lembrar isso ontem). Mais recentemente pouco mais de metade dos britânicos impuseram à outra metade condições de convivência com os europeus que irão trazer pouca prosperidade para eles mesmos nas próximas décadas .
Como ontem ouvíamos alguns de nós numa interessantíssima tertúlia liberal no Porto com a presença de Miguel Morgado, Pedro Arroja e Rui Albuquerque, a Autoridade baseada nas pessoas com conhecimento e na ciência , está , infelizmente , em vias de extinção numa sociedade ela própria em mutação para um Novo Mundo em que o combate passa pelos exércitos de analfabetos a tweetar influenciando o voto de todos. Mas de borla, se quiserem acreditar.
Tal Mundo Novo representa uma clara evolução para os analfabetos que há centenas de anos empunhavam lanças e espadas no campo de batalha em que os exércitos se enfrentavam, ainda que a troco de terras ou pão que a Autoridade lhes prometia.
Nota de Rodapé (para quem tiver lido o Alberto Gonçalves até ao fim): haja uns doutorados no estudo da igualdade do género no ISCSP (a casa onde Pedro Passos Coelho irá leccionar) que a extinção da raça humana será melhor debatida no próximo Prós e Contras, que terei o desprazer de financiar com a taxa que a EDP me cobra ilegitimamente.
Incendiários
Sugiro que a reforma da floresta comece por reformar os incendiário através de uma prisão efectiva, sem comutação de pena, redução de pena ou substituição de pena de qualquer tipo. Ou com qualquer atenuante que permita a prisão domiciliária. Simplesmente os mais de 400 incendiários conhecidos e catalogados na Justiça pirtuguesa iriam passar férias de Maio a Outubro com trabalho comunitário FORA das matas portuguesas.
E como o Estado está envolto numa neo-austeridade socialista proponho que se concessionem prisões especiais ao Grupo Barraqueiro que tenham sido construídas por agentes privados do Regime.
A coerência no primeiro dia após o fim da Campanha Autarquica
Como se não bastasse um timing “ideal” na entrevista concedida ao DN pelo quinto elemento da Lista do PSD à Assembleia Municipal de Lisboa, os ataques à sua lider de Lista em que participa, Sofia Vala Rocha revela uma coerência parecida com Antonio Costa na sua Governação: vale tudo e o seu contrário para sair bem na foto.
Taiwan, Trump e o início da terceira grande guerra
A capacidade que Trump tem, involuntariamente, em proporcionar a exposição de profundas contradições de discurso à esquerda e à direita deverá, a seu tempo, servir de case study nos mais prestigiados cursos da área por este globo fora. Argumentar que o presidente-eleito da maior potência mundial não deveria conversar ao telefone com uma governante democraticamente eleita de forma a não ofender terceiros é próprio de uma geração de políticos e paineleiros cujos problemas de coluna me ofereceram uma pseudo-carreira como blogger.
Já no Brexit, à direita, pesavam os argumentos económicos, não fosse a soberania, esse artefacto que pouco diz à modernidade estabelecida, incomodar negociatas. Os tecnocratas de serviço, uma classe formada no economês das business schools desta vida, para quem a história e a cultura são luxos parasitários de rodas dentadas pouco produtivas e cuja profundida ideológica, por escrito, caberia numa nota de 5, querem convencer-nos que fazer o correcto de nada vale sem o lucro como amparo.
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O PS e Salazar – uma admiração revelada
O voto que o Partido Socialista apresentou a chorar Fidel Castro serviria sem muitas alterações para branquear Salazar. Na verdade pode ler-se assim sem grande imaginação.
Nem falta a violação dum povo inteiro ao assinalar-se o luto que os cubanos assinalam do falecido ditador. Como cá no Estado Novo, também o povo cubano é prostituído para servir de bandeira de quem branqueia um ditador que morre num sistema que não permite a celebração de quem sofre e sofreu 50 anos no criminoso regime – e é obrigado a assistir que no estrangeiro isso seja motivo de gozo e diversão por supostos democratas.
O PS do Tempo Novo é afinal o PS do Estado Novo. Do de foice e martelo, em vez do de Deus, Pátria e Família, mas igual no essencial. Depois estranhem o sucesso dos Trumps e das Le Pens desta vida.
Todos os fascistas são gordos
O Ricardo Paes Mamede, sujeito de que nunca ouvi falar mas que, segundo me indicam, reúne alguns afectos cá no burgo, decidiu estabelecer uma relação de causa-efeito entre a obesidade, o alcoolismo, a diabetes e a falta de exercício físico e a vitória de Donald Trump. Em Portugal, onde Gramsci reina, cultura e esquerda andaram sempre numa partilha de lençóis nada púdica e pouco saudável. Isso conduz a que, por um lado, todo o cantor, escritor ou pintor – basicamente todo o criador – tenha palco para debitar alarvidades e que, por outro lado, uma inspiração quase que artística invada as luminárias da academia, atingindo estas o pleno da sua criatividade nas mais bizarras propostas e declarações.
No entanto, uma ressalva. Desde que deixei o ginásio que reparo em sintomas de que as minhas posições se têm extremado. O que, há uns anos, era uma sujeita simpática que de mim discordava, hoje é uma temível feminazi. Pinochet tornou-se uma piada recorrente e não são poucas as vezes em que me vejo evocar Salazar com um carinhoso Tio. Depois temos outros casos. O Colectivo Insurgente é maioritariamente constituído por gente que gosta de lhe dar no copo, no Mises o problema é igual ou maior. Ora há aqui, de facto, uma interessante correlação entre a pinga e as tendências facho-neoliberais que merece tratamento estatístico. Hão-de reparar, por exemplo, que os deputados da direita são bem mais gordos que os da esquerda, o que me leva a crer que o processo de acumulação de riqueza contemporâneo de que nos fala David Harvey atingiu uma nova etapa: a da acumulação de gordura.
Convém recordar que tendências pós-modernas como lanchar comida de passarinho, não comer carne, frequentar aulas de zumba ou pilates, atraem tendencialmente mais malta de esquerda, tudo pessoal muito boa onda e moderno que considera que fazer uma peregrinação à bairrada para assassinar porquinhos e tomar banho em espumante é uma actividade demodé, desprovida de consciência de classe, mais própria do patriarcado opressor. E assim, caros amigos, podemos concluír que o senhor não estava, de modo algum, errado. Ler o Observador engorda. E os gordos não sabem votar.
As vacas do Brexit
Consta que no Reino Unido não havia vacas voadoras há uns anos atrás, por isso prefiro mantermo-nos afastados de referendos sobre a UE neste cantinho luso, não vão as “vacas loucas” pensar que os juros da dívida em escudos seriam os mesmos que em Euros.
(Nota de edição de 28/06/2016 – o gráfico da direita é falso, aliás a doença das vacas loucas teve um surto em 2002 e não 1992. Espero que tenham gostado da ironia).
A Europa e os Ingleses, por mim e por Paulo Portas
Dos saudosos tempos em que Paulo Portas era o líder que a Direita merecia, por contraste com o líder que a direita veio a ter – numa versão desfalcada dele próprio, como aqueles filmes que se perdem na sala de edição e nos deixam para a posteridade a dúvida pertinente de como teriam ficado sem as cenas cortadas. A dicotomia entre “dúvida dos lúcidos” e a “fé nos espertos” expõe com brilhantismo o pensamento conservador – assente em mecanismos arcaicos como o bom senso – em confronto com o pensamento progressista – que sem muita conversa abre as pernas às serenatas dos amanhãs que cantam.
Berço da democracia moderna, o velho reino não aceita lições sobre a vontade popular nem diktats regados em Bruxelas a bom vinho pago pelo contribuinte. Como PP apontou, Bruxelas tem um efeito nefasto nos nossos políticos, já de si abestalhados de nascença. A transformação do político que vai de Lisboa para Bruxelas é semelhante áquela do que vai do Porto para Lisboa, a não ser no grau de aburguesamente, que é exponencialmente maior. Um tipo estava aqui descansadinho a debater os impostos ou os pensionistas levado com um bairrada e, quando dá por si, já se ocupa em longas dissertações, lubrificadas a champanhe do melhor, sobre a socialização dos porcos – literalmente os porcos, não os colegas.
Quem pensam então que são estes velhacos bárbaros da “Old Britain” que ousam optar pela via radical de seguir o seu próprio destino sem dar satisfações a uma vasta gama de poderes maioritariamente não eleitos ? Desta feita até que afrontam o brilhantismo dos comissários europeis, cuja passagem pelas mais nobres instituições de ensino do continente e arredores e o longo convívio com o luxo e o glamour de plástico dos novos ricos da política lhes forneceu o direito divino de saber o que é melhor para nós, independentemente da inoportuna opinião que nós – leigos ingratos – pudéssemos tecer sobre o assunto.
Para certos bandalhos, a democracia, essa só aceitável quando o resultado lhes é favorável. Aí estamos perante a vontade soberana do bom povo. Se assim não for, a democracia não é mais que um atraso de vida para a revolução em curso. Os velhos, os analfabetos e toda a essa gente de pé rapado desprovida de canudo – esses traidores de classe – venceram as elites aburguesadas na corte de Estrasburgo e os jovenzinhos diplomadas de mentezinhas muito abertas e tão multiculturais que boicotam o Natal para não ofender ninguém. Os tais que ameaçam despejar milénios de civilização eurpeia na sarjeta de um quarto de banho misto.
Pelo meio da fanfarra esganiçada só faltou intimar o Reino Unido de guerra, entre um discurso de medo que não se ouvia desde a guerra fria, abusivas intrusões de chefes de estado estrangeiros na campanha e diversas comparações de Farage e Boris com Hitler e Trump, que teriam graça não tivessem sido os próprios apoiantes do Leave a utilizar as mesmas tácticas e o mesmo registo das referidas personagens.
Para mim, mais que a saudável vitória da liberdade e a chapada de luva branca aos eurocratas, enche-me de regozijo o ruidoso sofrimento de inúmeras criaturas de carácter e craveira duvidosas a que vimos assistindo. Eu, como “mau cristão”, não consigo deixar de ficar feliz pela irritação patente no rosto dos burocratas de Bruxelas, nos socialistas, na direita envergonhada e, especialmente, numa comunicação social que nos prestou um horripilante e desonesto serviço nas últimas semanas. Sempre tive para mim que a forma mais fácil de distinguir o bem do mal é ver de que lado estão os vermes. E aqui, é certo, os vermes perderam.
