O Ambientalista Apologético

O artigo de Michael Schellenberger censurado pela Forbes, republicado no Quillette, sobre o seu livro «Apocalypse Never: Why Environmental Alarmism Hurts Us All»:

On behalf of environmentalists everywhere, I would like to formally apologize for the climate scare we created over the last 30 years. Climate change is happening. It’s just not the end of the world. It’s not even our most serious environmental problem. I may seem like a strange person to be saying all of this. I have been a climate activist for 20 years and an environmentalist for 30.

O ódio espanhol

A minha crónica hoje no i.

O ódio espanhol

No melhor livro que li este ano, e um dos melhores que li nos últimos anos, “O teu rosto amanhã”, de Javier Marías (Alfaguara), já mesmo no fim do terceiro e último volume, dois homens, o narrador e protagonista, o espanhol Jacobo Deza, e um nonagenário inglês, Peter Wheeler, conversam sobre cartazes de propaganda da Guerra Civil Espanhola. Comparando-os com os britânicos da ii Guerra Mundial, Wheeler conclui que nos espanhóis há mais ódio.

“– Nos espanhóis? [pergunta o espanhol Deza]

– Sim, repara que os nossos (…) advertiam sobretudo do perigo (…) mas não diabolizavam o inimigo oculto nem faziam finca-pé na sua localização, na sua perseguição e na sua destruição (…).”

Esta obra de Marías é extraordinária. Não só porque descreve o comportamento das pessoas, as fronteiras que cada um de nós pode ultrapassar tornando muito difícil adivinhar o nosso rosto amanhã, mas também porque, sendo espanhol, Marías nos descreve cruamente a Espanha. Uma Espanha ferida pela guerra civil que marcou irremediavelmente o seu séc. xx.

É difícil para nós, portugueses, imaginarmos o que seja vizinhos matarem vizinhos, amigos a suspeitarem uns dos outros. As pessoas desconfiam até dos membros da própria família porque o inimigo se esconde em nós, não se diferenciando sequer pela língua, nem pela região, nem pela cidade. Está em todo o lado, em qualquer lugar. É difícil para nós, portugueses, imaginarmos o que isto seja porque a nossa guerra civil foi há 184 anos e desde então não houve qualquer guerra neste retângulo.

“Quando eu passei por lá [continua Wheeler], pela vossa Guerra, notei-o logo no terreno. Havia um ódio abrangente que saltava à menor faísca. (…) Um inimigo podia ser boa pessoa e ter sido generoso com os seus adversários políticos, ou mostrar piedade (…). Nada disso importava. Um inimigo nominal era sobretudo isso, um inimigo.” No livro, o britânico, que assistiu àquela guerra de perto e viveu intensamente a de 1939-45, conclui depois: “Foi uma coisa estranha a vossa Guerra, não me parece que tenha havido outra igual.”

Uma coisa estranha, aquela guerra. Uma guerra que se passou mesmo aqui ao nosso lado, mas que não se estuda e pouco ou nada se referencia. Talvez porque a violência nela demonstrada pelos espanhóis, que são nossos vizinhos e parte de nós, como nós somos parte deles, fosse demasiado horrenda, um abismo assustador, o pior em que um país se pode transformar.

Mas é importante que olhemos para a Espanha. A encaremos de frente, saibamos o que se passou, para que percebamos, de uma vez por todas, a gravidade do que se passa na Catalunha, o risco que significa o esboroar do poder em Madrid, com um governo não eleito, sem maioria e sem força. As guerras são sempre coisas estranhas quando vivemos em paz, como a paz é uma coisa estranha quando vivemos em guerra.

A Legacy of Spies

Para a minha crónica de hoje no i pedi ajuda a George Smiley.

A Legacy of Spies*

Diplomatas dos dois lados da nova cortina fazem as malas e regressam a casa. Cansado, George Smiley respira fundo e afunda-se na cadeira. É em Freiburg, no sul da Alemanha, que nos diz adeus, precisamente agora que os espiões do seu tempo regressam.

Há precisamente dez anos leu “The New Cold War”, do jornalista Edward Lucas, e percebeu tudo. Primeiro, a negação; depois, a indiferença; a seguir, a raiva e a desorientação habitual dos governos que não se prepararam para a visão que Putin tem da Rússia. Presentemente, com o envenenamento de um ex-espião russo que trabalhou para os britânicos, ouve os noticiários, comentadores incluídos, a falarem do medo.

Olha pela janela e recorda-se do medo que serve para definir tudo. Sentiu-o em plena Guerra Fria, mas cedo o transformaram em certeza perante a incerteza do novo mundo. Sem URSS, e com os EUA como única potência mundial, a ameaça terrorista fazia isso mesmo: aterrorizava. De acordo com o que se dizia, o medo do tempo de Smiley era seguro, certo, concreto. Houve quem, no mercado livre que conquistava o mundo, no crescimento da China e na redução da pobreza em África, nas novas democracias no leste da Europa, visse uma ameaça mais grave que a que pairava na Guerra Fria; na sua guerra.

Tudo passa menos o medo, que é uma constante, nem damos valor ao que temos excepto quando o perdemos. Verdades eternas que se ignoram. Os que clamaram contra a abertura dos mercados chorarão os efeitos do fecho das fronteiras e do aumento das tarifas aduaneiras. A falta de diálogo conduzirá ao armamento, com dinheiro que podia, devia ser usado noutros domínios. Espiões serão mortos em Londres e em Paris (em Moscovo também), vidas secretas caminharão ao nosso lado, com a pequena grande diferença que são as novas tecnologias.

E enganem-se os que acalentam que o novo equilíbrio mundial porá termo ao terrorismo islâmico. Numa guerra fria, de nervos, tudo vale. Na primeira, EUA e URSS combateram no chamado Terceiro Mundo guerras indiretas com soldados que não eram seus. Nada nos garante que os extremismos islâmicos não sejam utilizados como novas armas para novos ataques numa nova guerra fria sem envolvimento direto dos seus principais intervenientes. Uma certeza podemos ter: George Smiley não terá saudades. Acena-nos da janela, deixando o legado para outro.

*Título do último romance de John le Carré

Mad World

Na sequência das denúncias de assédio e abuso sexual por figuras públicas, uma mãe da vila inglesa de North Shields resolveu subir a parada e exigir a retirada de um perigoso livro da lista de leituras da escola do seu filho de seis anos. Trata-se da Bela Adormecida, estando Sarah Hall preocupada com o impacto no seu filho do comportamento predatório do príncipe (que beija Aurora sem o consentimento desta). Se ao menos Harvey Weinstein e Kevin Spacey não tivessem sido expostos ao livro dos irmãos Grimm ou mesmo, quem sabe, ao filme da Disney…

Com notícias destas e outras como a das Rainhas Magas vem-me à cabeça o refrão da canção: “It’s a very very mad world…” (na versão de Gary Jules para o Donnie Darko).

70 por cento do actual governo, a dona Câncio e @s d@m@s de honor já terão tido conhecimento deste assunto?

José Sócrates, está acusado de dezasseis crimes de branqueamento de capitais, nove crimes de falsificação de documentos, três crimes de corrupção passiva de titular de cargo político e três crimes de fraude fiscal qualificada.

Anatomia de um crime.

Foto: António Carrapato-Lusa

Porreiro, pá!

Viciados em proibir

O meu texto desta semana no Observador.

‘Sabem quem deu indicação à Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG) que ‘recomendou’ (pois) retirada dos cadernos da Porto Editora? O ministro da tutela, Eduardo Cabrita. O deputado socialista que em 2013, para fins políticos, chamou ‘frígida’ a Maria Luís Albuquerque. Cabrita é, além de malcriado e censor, um protozoário machista que não sabe debater política envolvendo uma mulher sem ir buscar ataques sexuais. Donde, para António Costa e PS, é o ministro ideal para tutelar a promoção da igualdade de género.

Mas cheguemos ao caso em concreto. Simples: as editoras publicam os livros que entendem, respaldadas no conhecimento de mercado, e os consumidores compram ou não. Umas publicam livros para meninas e/ou para meninos, outras para ambos, ilustrações ao gosto do freguês. Quem incentiva as filhas a gostar de princesas e os filhos de piratas, compra(va) os da Porto Editora. Quem apreciava mais outras temáticas, ou é um indefetível dos produtos unissexo, compra para outros lados.

E o estado não tem que vigiar o bem-estar das criancinhas? Tem, claro. Tem que assegurar que os pais alimentam devidamente a criançada, cumprem a escolaridade obrigatória, dão cuidados médicos, não os espancam nem os torturam psicologicamente, não os violam nem deixam violar por outros. E cuidados semelhantes. O estado também deve certificar manuais escolares que promovam a igualdade de direitos e oportunidades entre os sexos. Fora desta esfera, e nos livros não obrigatórios, é desandar.

Mas desmascarada a mentira ‘os exercícios são mais fáceis para as meninas’, há razões incontornáveis para o marialva Cabrita e a CIG banirem dois livros? Há, porque para a CIG tudo o que tenha vagamente a ver com o universo feminino merece esgares de desprezo e é para proibir. De resto, qualquer pessoa com neurónios mirrados percebe que a forma das famílias estupidificarem as filhas é comprar-lhes cadernos para estimularem as capacidades cognitivas.’

O resto aqui.

The fascists of the future…

…will call themselves anti-fascists. – Winston Churchill

Segundo a Rita Ferro Rodrigues “São imensas as publicações sexistas disponíveis no mercado” e eu concordo absolutamente. Já se for para as denunciar e “recomendar” que se retirem do mercado, sugiro começar pela “Odisseia” do Homero onde a pobre da Penélope, fiel ao marido, espera pelo herói Ulisses durante vinte anos a tecer e a desfazer um sudário. Daí, sei lá, é ir por aí fora, denunciar a literatura clássica quase toda, o Shakespeare (Romeu e Julieta? Otelo?), o Camões (“Andando, as lácteas tetas lhe tremiam” – Camões, ‘Os Lusíadas’, canto II, estância 36), a Jane Austen (que raio de personagem é aquele cavalheiro Mr Darcy?), o Bocage, o Jorge de Sena (aquilo do Sinais de Fogo é hipersexismo), a Sophia (a Fada Oriana? Qué isso?), ao Kafka (qual Josef K.? Mude-se o nome para Josefina K.), Corin Tellado, aos livros da “Anita”, do “Lucky Luke”, o “50 Shades of Grey”, o Harry Potter, o Tolkien, o Nabokov e praí 98,3% da literatura desde Homero. Pronto, tudo denunciado à CIG e “recomendado” que se retire das livrarias. Ficamos, que sei eu, com as obras da Rita e do Boaventura esses vultos gigantescos da literatura Mundial. Ah! E com o “A Doutrina do Fascismo” do Benito Mussolini e do Giovanni Gentile, claro. Na mesinha de cabeceira da Rita, pelo menos.

O PS já começou a construir o seu Index

Com a desvantagem que o Índex da Igreja Católica, além de já ter sido extinto há umas boas décadas, era seguido voluntariamente pelos católicos que o quisessem (no meu caso, e sou católica, já gozei abundantemente por a IC também não ‘recomendar’ os livros do Harry Potter às impressionáveis mentes cristãs), enquanto que o Índex do PS tem força de chantagem estatal às empresas que lá caem.

Enfim, quem se coliga com comunistas e alucinados derivados é porque tem afinidades de valores totalitários. O PS não espanta por aqui.

À criatura que se diz feminista, Rita Ferro Rodrigues, recomendo que alguém lhe faça chegar uma versão do Animal Farm. Pode ser aquela em desenhos animados, que a senhora não parece ser capaz de grandes abstrações. Talvez consiga perceber a parte dos que lutaram contra a ditadura que terminaram replicando, para pior, a ditadura que derrubaram. Se tiver um assomo de consciência, perceberá que é a história da sua família.

Mas se pensam que Rita Ferro Rodrigues é do pior que nos pode calhar, é lerem Inês Pedrosa, que quer proibir os supermercados de arrumarem a mercadoria que têm para venda como bem entendem. Estamos entregues a doidos varridos. Doidos varridos.

inês pedrosa