No programa Project Runway, que a SIC Mulher tem transmitido, vários concorrentes têm de superar diferentes provas desenhando e fazendo roupas para mulheres. Numa competição na qual se desenham e fazem vestidos com a facilidade e intuição que eu gostaria de ter na escrita, os 15 concorrentes iniciais vão sendo eliminados até restarem três, que podem participar com uma colecção da sua autoria na semana da moda em Nova Iorque.
Dos três finalistas escolhidos, Chloe é irmã de mais sete raparigas e, juntamente com toda a sua família (10 pessoas, contando pai e mãe) fugiu, em 1979, do Laos, onde se encontrava presa num campo de refugiados. Fugiu para a América e por lá ficou. Chegou aos EUA, como ela disse, ‘com algumas cáries’ e uma enorme vontade de fazer o que gostava: Roupa.
O feito de Chloe, não está apenas em ter vencido o programa (que conta com, entre outros, Michael Kors como júri), mas em, já antes de concorrer, ser dona de uma loja em Houston. Uma loja que vende roupa feita por ela, para uma clientela que quer algo exclusivo mas ainda não muito caro.
O sucesso de Chloe leva-nos à pergunta essencial: Em que outro país uma ex-refugiada consegue adoptar uma nova nacionalidade, abrir uma loja, ter um negocio seu, depender de si própria? No fundo, em que outro local, uma pessoa nas condições de Chloe poderia vencer?
O exemplo desta rapariga leva-nos a concluir que a força que fez a América ser o que é ainda existe: A recompensa do esforço e da abnegação. A ideia de que tudo é possível. Principalmente, quando comparado com Portugal, onde o paternalismo, os ‘contactos’, os ‘conhecimentos’, não são apenas essenciais, mas indispensáveis. Onde tanta gente, percebendo isso mesmo, desiste de fazer os trabalhos de casa e faz-se passar por aquilo que não é. Acabamos por ser um país onde se vende a imagem que cada um gostaria de ter de si próprio e muito raramente o verdadeiro conteúdo.
O preço a pagar é muito caro. Consiste em viciar o mérito: Muitos dos que sobem não estão à altura do posto, razão pela qual somos um país de decisões adiadas; some-se ainda que quem quer subir percebe, desde cedo, qual o melhor caminho a percorrer.