Subsídios…

Depois de ter defendido um modelo de negócio (?) para os jornais, em que estes não deveriam ser orientados pelo lucro, tentando perpetuar, como muito bem diz Jorge Costa aqui n’O Insurgente, “esta mania de ter direito a parasitar alguém para poder fazer qualquer coisa cuja justificação está acima do consentimento das pessoas comuns expresso no ato simples, honesto, inequívoco e livre de pagar para a poderem ter”, Alexandra Lucas Coelho insiste na mesma tecla, desta vez com um texto sobre os coitadinhos dos escritores que não têm subsídios para poder investigar e escrever as suas obras.

No entanto, quando me falam de subsídios do Estado para apoiar actividades de criação intelectual como, por exemplo, a literatura ou o cinema, a minha pergunta é a de sempre: por que haveriam de os receber?

Nunca ninguém me conseguiu dar uma boa explicação.

É certo que Alexandre Lucas Coelho também fala de um outro facto: de muitos organizadores de eventos literários esperarem que os escritores compareçam à borla nos eventos que organizam. Para este problema, penso que, como posição de princípio, este artigo Borlas nunca mais de Miguel Esteves Cardoso responde bem à questão.

 

Entretanto, em França…

… o dono de uma padaria, que até ganhou o prémio da melhor baguete tradicional de França em 2014, está a ser importunado pela justiça porque está aberto 7 dias por semana e uma decisão da prefeitura de 1999 impõe um dia de descanso obrigatório.

Stéphane Cazenave a reçu une convocation devant le tribunal, car sa boutique, ouverte depuis 3 ans à Saint-Paul-lès-Dax (Landes) est ouverte sept jours sur sept. Ses 22 salariés eux bénéficient bien de leurs deux jours de repos hebdomadaire

[…]

Sauf qu’un arrêté préfectoral datant du 25 mars 1999 impose en effet aux boulangeries du département des Landes de fermer au public au moins un jour par semaine

[…]

Devant les caméras de France 3, Stéphane Cazenave admet être «très en colère», et a l’impression d’être «pris comme un petit voyou, alors que je demande juste à travailler. Je pense que travailler ca n’est pas un délit en France». Selon lui, le jour de fermeture qui lui est imposé pourrait lui coûter autour de 250.000 euros, et l’obligerait à séparer de plusieurs salariés.

E assim se promove o trabalho.

Autonomia (4)

É possível que Beethoven tenha cultivado as suas excentricidades de conversação e trato como um trunfo social. Beethoven era recebido como amigo em casa das mais nobres famílias de Viena. Tinha mecenas dedicados e generosos, mas as relações que mantinha com eles eram muito diferentes das que existiam entre Haydn ou Mozart e os seus patronos: durante a maior parte da vida Haydn usou uma libré de lacaio, e Mozart foi um dia expulso de casa do arcebispo por um secretário. Beethoven não se curvava perante os príncipes para obter os seus favores; tratava-os com independência e ocasionalmente até com extrema rudeza, ao que eles reagiam, encatados, com propostas de apoio financeiro. Como o próprio Beethoven disse um dia, «é muito bom conviver com aristocratas, mas é preciso saber como impressioná-los». […] Deste modo. conseguiu deixar ao morrer, um património relativamente avultado e, mais importante do que isto, nunca se viu obrigado a escrever música por encomenda e raramente teve de cumprir prazos. […] E precisamente por Beethoven escrever para si mesmo – ou seja, para um público ideal, e não para um mecenas ou para um função imediata e bem definida – é que a sua música tem um cunho tão pessoal […]

História da Música Ociedental, Donald J. Grout e Claude V. Palisca, Gradiva, pags. 555-556.

Afinal parece que é possível criar em plena liberdade sem o apoio do Estado.

E pur si muove!

Afinal, embora muito a custo, até os cientistas que acreditam no aquecimento global antropogenético reconhecem que a temperatura da superfície da Terra não subiu entre 1998 e 2008, embora não saibam bem porquê.

Através do blog Watts Up With That, cheguei a este artigo “Reconciling anthropogenic change with observed with observed temperature 1998-2008” (numa publicação com peer review) os autores começam assim:

Given the widely noted increase in the warming effects of rising greenhouse gas concentrations, it has been unclear why global surface temperatures did not rise between 1998 and 2008.

É claro que, no final, eles concluem que o aquecimento global é antropogenético mas que, pelo, caminho, de vez em quando, esse aquecimento é interrompido:

The finding that the recent hiatus in warming is driven largely by natural factors does not contradict the hypothesis: “most of the observed increase in global average temperature since the mid 20th century is very likely due to the observed increase in anthropogenic greenhouse gas concentrations (14).”

[…]

The 1998-2008 hiatus is not the first period in the instrumental temperature record when the effects of
anthropogenic changes in greenhouse gases and sulfur emissions on radiative forcing largely cancel. In-sample simulations indicate that temperature does not rise between the 1940’s and 1970’s because the cooling effects of sulfur emissions rise slightly faster than the warming effect of greenhouse gases.

E é claro que é por esse prisma que a Reuters pega no assunto: “Asia pollution blamed for halt in warming: study“.

De qualquer modo, já não é mau reconhecerem que a temperatura não subiu. Quanto ao resto, penso que estamos muito longe da “settled science” que muitos reclamavam.

Nos cem anos da república

Fernando Pessoa, num texto bastante conhecido e abundantemente reproduzido, sobretudo em blogs monárquicos, na blogosfera por estes dias (p. ex., aqui), publicado no livro Da República (Ática, 1979, pp. 149-151) diz o seguinte (destaques meus):

É alguém capaz de indicar um benefício, por leve que seja, que nos tenha advindo da proclamação da República? Não melhorámos em administração financeira , não melhorámos em administração geral, não temos mais paz, não temos sequer mais liberdade. Na Monarquia era possível insultar por escrito impresso o Rei; na República não era possível, porque era perigoso insultar até verbalmente o Sr. Afonso Costa.

Por muito ideais que a 1.ª República tivesse, na prática, a única coisa que os republicanos fizeram foi, após a tomada do poder, manterem-se nele por todas as formas, sendo para isso bons todos os meios: redução do universo eleitoral, redesenho à medida dos círculos eleitorais, intimidação violenta dos adversários, confronto violento com a Igreja (não estava em causa uma simples separação da Igreja do Estado), sendo que este último confronto foi particularmente negativo para a república, etc. Por isso estou com Vasco Pulido Valente quando escreveu no Público, na edição de 02/10/2010:

E , em 2010, a questão é esta: como é possível pedir aos partidos de uma democracia liberal que festejem uma ditadura terrorista em que reinavam “carbonários”, vigilantes de vário género e pêlo e a “formiga branca” do jacobinismo? Como é possível pedir a uma cultura política assente nos “direitos do homem e do cidadão” que preste homenagem oficial a uma cultura política que perseguia sem escrúpulos uma vasta e indeterminada multidão de “suspeitos” (anarquistas, anarco-sindicalistas, monárquicos, moderados e por aí fora)? Como é possível ao Estado da tolerância e da aceitação do “outro” mostrar agora o seu respeito por uma ideologia cuja essência era a erradicação do catolicismo? E, principalmente, como é possível ignorar que a Monarquia, apesar da sua decadência e da sua inoperância, fora um regime bem mais livre e legalista do que a grosseira cópia do pior radicalismo francês, que o “5 de Outubro” trouxe a Portugal?

Por isso, eu, que até sou republicano convicto (no sentido em que gosto mais da forma de governo “República”), não sinto vontade nenhuma em comemorar os cem anos da implantação da República, pois a 1.ª República que se lhe seguiu não foi, certamente, um regime democrático. Como diz Rui Ramos (“O dia dos equívocos” in Outra Opinião – Ensaios de História, O Independente, Lisboa, 2004, p. 14):

Porque é que uma democracia pluralista insiste em fazer feriado em memória de um regime que, pelos padrões do princípio do século XXI, não foi democrático nem pluralista?

Um mistério a que eu também não sei responder.

Era uma vez o Reino Unido

É absolutamente impressionante esta notícia vinda do Reino Unido: Six arrested in Gateshead over ‘Koran burning’.

Ao que parece a liberdade de expressão ficou esquecida pelo caminho. Eu sei que o Reino Unido não tem uma 1.ª emenda, mas parece que queimar o Corão (uma acção que não é propriamente muito inteligente) é mais grave do que proferir ameaças de morte numa manifestação como foi o caso da manifestação em Londres, frente à embaixada da Dinamarca, aquando da crise das caricaturas, tal como este vídeo o bem demonstra.

Tudo o que meta o Islão faz medo aos governantes politicamente correctos e isso está a matar, aos poucos, a liberdade de expressão no Ocidente. As minorias fundamentalistas muçulmanas são hipersensíveis, qualquer crítica é vista como islamofobia e isso mete medo a políticos cobardes. Por isso, esta entrevista a Abdel-Saman no Der Spiegel é bastante interessante e também interessante a forma como acaba:

SPIEGEL: You accuse your fellow Muslims of continuing to search for scapegoats.

Abdel-Samad: Yes, instead of seeking faults within themselves. Perhaps the process I experienced is the process Islam needs as a whole, namely that everyone looks at themselves critically and stops constantly blaming others for their own misery and feeling like a victim. They should also liberate themselves from constraints. Bitterness and finger-pointing only lead to violence, and we have enough of that in the world.

Vale a pena ler toda a entrevista.

E agora fomos aos excedentes da Alemanha nazi (2)

O Renato parece pensar que a Vergeltungswaffe 1 reinventada dos aiatolas iranianos me troca o sono. Lamento desiludi-lo, mas o facto do Eng. Pinto de Sousa (des)governar Portugal é para mim muito mais preocupante de que uma arma do século passado reciclada para épater le bourgeois.

Só não compreendo por que é que o Renato pôs lá a fotografia do Xá da Pérsia. A dedução de quem não é pelos aiatolas então é porque apoia o regime do Xá é no mínimo errada (para não dizer mais e ser simpático). O Xá foi-se e não deixou saudades. Quando a República Islâmica desaparecer também não deixará saudades.

Mas quem quiser pode continuar a sonhar (nem que seja com um regime que lapida mulheres).

Adenda: O Renato ainda não percebeu que o Irão não me tira o sono. O Irão é uma ameaça paz, mas está longe de ser a única no mundo e, além disso, os dirigentes iranianos não são burros e conhecem bem as suas fraquezas e sabem que qualquer acção mais idiota terá graves consequências. Por isso, não há que ter pânico. No tempo da guerra fria a Europa Ocidental tinha centenas de ogivas apontadas para ela. Isso sim, era uma ameaça bem real e nem eu nem ninguém, nesse tempo, entrou em pânico. Por isso, todos os anúncios de armas de fancaria feitas por Irão são apenas para não levar muito a sério.

Quanto à lapidação, concordo que se tem que olhar para o Irão para além disso, mas o que se vê é que as eleições no ano passado foram tudo menos transparentes, a oposição é silenciada (e não me parece que esta oposição esteja ao serviço do Estados Unidos ou de Israel) e as minorias religiosas oprimidas (de modo especial os Bahá’is). Ou seja, o retrato não é bonito. Eu não espero uma mudança vinda do exterior, mas uma vinda do interior. Pode demorar é anos. Mas isso é a vida…

E agora fomos aos excendentes da Alemanha nazi

Com o devido beneplácito de conhecidos inimigos da liberdade, o Irão fez mais um dos seus extraordinários anúncios de terríveis castigos para os infiéis: agora eles têm um avião não tripulado.

É claro que o facto do referido drone parecer uma V1 de pacotilha não tem importância nenhuma. E de aquilo não ser avião não tripulado coisíssima nenhuma. O Irão, com estes seus anúncios grandiloquentes sobre armamento e de terríveis ameaças sobre os seus supostos inimigos, deveria ter mais em atenção os conselhos de Boileau:

N’allez pas dès l’abord, sur Pégase monté,
crier à vos lecteurs, d’une voix de tonerre:
«Je chante le vainqueur des vainqueurs de la terre.»
Que produira l’auteur après tous ces grands cris?
La montagne en travail enfante un souris”.

Apesar de não se poder menosprezar a ameaça que o Irão representa para a paz na região, também não há qualquer motivo para entrar em pânico, pois o Irão continua a ser, por enquanto, um tigre de papel.

De qualquer modo não deixa de ser irónico e divertido ver muitos esquerdistas comunistas aparar o jogo do Irão teocrático e defender o Irão contra o grande Satã americano.

O novo anti-semitismo

Shmuel Rosner entrevista por escrito Robert Solomon Wistrich, autor de “Lethal Obsession”, em que este explica o que é o novo anti-semitismo:

The “new” anti-Semitism is a somewhat unsatisfactory term often used to denote extreme hostility to Israel – a hatred which aims to demonize its actions, defame its character and delegitimize its existence. In fact, there is no clear or neatdividing-line between “old” and “new” anti-Semitism beyond the greater focus today on the negation of Israel’s right to exist and the fact that contemporary anti-Semites more frequently tend to be Muslim rather than Christian or that they come from the Left as much as they do from the Right. The “new” anti-Semitism often claims to be no more than justified “criticism” of Israel’s policies. There are, however, a number of ways to test this. The “critics” will usually be covert or overt anti-Semites if they engage in any of the following manoeuvres:

a.) They will blame Israel for all the problems of the Middle East and of the contemporary world from the financial crash to global terrorism.

b.) They ignore virtually all infringements of human rights around the globe except for those allegedly perpetrated by Israel against the Palestinians. Naturally Palestinian Jihadism and terror is downplayed.

c.) They firmly believe or assume that there is a Jewish/Israeli Lobby which controls American foreign policy or manipulates the West – especially against the Islamic world and the Palestinians.

d.) They systematically turn Israelis into “Nazis” and Palestinians into “Jews.”

e.) They apply classic antisemitic myths and stereotypes about Jewish greed, rapacity, cruelty, exploitation, bloodthirsty vengefulness and “racial” superiority to the behavior of the Jewish State. The result is to portray Israel as a fusion of Samson, Joshua and Shylock.

Cinema Português quer (o nosso) dinheiro

Através do Público fiquei a saber que os realizadores e produtores de cinema portugueses fizeram um Manifesto pelo cinema português, onde alegam que “nunca como hoje ele esteve tão ameaçado”.

E por esse motivo, e após vários considerandos, rematam a petição da seguinte forma:

O cinema português, que vale a pena, tem hoje em dia, apesar da paralisia, quando não da hostilidade, dos poderes públicos, um indiscutível prestígio internacional. Os seus realizadores, actores, técnicos, produtores, não deixaram de trabalhar apesar de tudo o que se tem vindo a passar. Está na altura de os poderes públicos assumirem as suas responsabilidades.
É necessária uma nova Lei do Cinema, mas é urgente uma intervenção de emergência no cinema português.

Para mim não está em causa a qualidade ou falta dela do cinema português, tal como me é indiferente se fazem filmes para o público ou não (no cinema, nunca andei atrás dos blockbusters), pois, mais uma vez o que está aqui em questão é haver uma actividade subsidiada por dinheiros públicos. Por que raio é que o pessoal das actividades ditas culturais pensa que tem que ser subsidiado pelo Estado? Por ser culto e ilustrado? Enfim…