Em defesa do ensino presencial

O ensino a distância (ou, como se diz agora, “on-line“, conceito bastante redutor do que é o ensino a distância) não substitui o ensino presencial. Em alguns nichos é possível mitigar e até fazer do ensino a distância uma modalidade poderosa. Mas como regra, e sobretudos nos ciclos de ensino básico e secundário, e nas licenciaturas universitárias, estamos muito longe de ter conteúdos, professores, e abordagens suficientemente maduras para substituírem o ensino presencial. Tendo eu defendido o não encerramento das escolas, enquanto fosse possível mantê-las abertas, em coerência, e a meu ver, enquanto for possível adaptar o calendário escolar para que se privilegie o ensino presencial, esse deve ser o Plano B, em alternativa a ter escolas abertas. Tal não tem a ver com a capacidade das escolas, públicas ou privadas, para ministrarem aulas a distância/on-line, mas com a convicção que tenho que não devemos sacrificar o ensino presencial em favor de uma solução menos efectiva. E, lamento, nenhuma escola – nenhuma – consegue assegurar que um mês a distância tem a mesma efetividade que um mês de ensino presencial.

É evidente que a atitude do Ministério da Educação é inadmissível, se impedir que as escolas possam desenvolver qualquer tipo de acompanhamento a distância dos seus alunos, desde que isso não substitua, no futuro, as aulas presenciais. Se for essa a lógica do Ministério da Educação, estou contra: o Ministério não pode impedir que as pessoas, livremente, possam aprender e/ou ensinar. Se a exigência for apenas a de ajustar o ano escolar, exigindo que as aulas venham a ser ministradas presencialmente, por redução das férias, então sou a favor.

Podem dizer-me que a suspensão das aulas por 15 dias, decretada, é insuficiente, e que a pandemia poderá impor várias semanas de confinamento. Se assim for, poderemos no futuro ter de sacrificar as aulas presenciais, na medida do tempo que não possamos compensar por sacrifício de férias. Nessa altura, será melhor permitir as aulas a distância, a quem delas possa beneficiar. Este será um plano C. Mas será importante que tenhamos consciência que será sempre uma solução indesejável, por impossibilidade de se ministrarem aulas presenciais. Enquanto for possível ajustar o calendário para que haja aulas presenciais, essa deverá ser, a meu ver, a solução preferencial.

Dito isto, tenho vergonha deste Ministério da Educação, que não consegue dar estabilidade e consenso ao ensino, e gerir politicamente esta crise, sem forçar divisões e utilizar maniqueísmos ideológicos para justificar a sua evidente falta de competência política. Virar uns contra outros é a arma dos fracos.

O meu voto é no Mayan

(Republicação e adaptação do texto de opinião, originalmente publicado no Observador, a 12 de janeiro de 2021).

No próximo dia 24 de Janeiro vou votar no Tiago Mayan Gonçalves. Os fundamentos do meu voto são bastante simples: irei votar no Mayan pelo que ele épor aquilo que ele representa – e, finalmente, por aquilo que ele não representa.

Conheci o Mayan na faculdade, algures nos anos 90, quando ambos frequentávamos o curso de Direito. À época, presidia ao núcleo português de uma associação europeia de estudantes de direito – a “ELSA” (“The European Law Students’ Association”) – à qual o Tiago, uns anos mais novo do que eu, se havia juntado como sócio do núcleo local da Católica Porto. A ELSA é seguramente o projeto associativo em que me envolvi com mais empenho e entusiasmo (próprios da juventude, mas também dos tempos de esperança que se viviam), numa fase em que não havendo nem Twitter nem Instagram, as ações cívicas se faziam junto das pessoas e não no sofá ou na bolha nas redes sociais. Viviam-se tempos de mudança, distintos dos da época revolucionária (não andámos a partir mesas nem nos envolvíamos em atividades bombistas, até porque a extrema-esquerda estava profundamente demodé, o que tinha para oferecer era a UDP, o PSR, ou o PCTP-MRPP,), mas nem por isso menos interessantes. Por esses anos, era muito mais apelativo defender valores cívicos dos que ideológicos: na ELSA organizámos ações no estabelecimento prisional de Paços de Ferreira, várias iniciativas de sensibilização a favor da criação do Tribunal Penal Internacional (“TPI”); exibições de documentos e provas recolhidas pela Cruz Vermelha Internacional na guerra dos Balcãs, ainda não havia sido bombardeada Belgrado, entre diversas iniciativas relacionadas com os temas mais prementes no direito internacional. Eram tempos em que vivíamos o suficiente para vermos com alguma consequência os resultados das nossas ações. Por exemplo, os participantes das sessões de Moot Court, dos cursos sobre direitos humanos, dos estágios nas Nações Unidas junto do Comité Preparatório do TPI, ou os que se interessaram pelo genocídio dos Balcãs, viram em 1998 o Tribunal Penal Internacional a ser efetivamente criado, e a julgar indivíduos pela prática dos mais graves crimes internacionais.

O Mayan foi, desde o início, uma das pessoas mais colaborantes e empenhadas, não tendo sido surpresa para mim que, anos mais tarde, se tenha ele próprio tornado presidente da ELSA Portugal. Não foi, porém, um presidente qualquer: é pacífico e consensual que o Mayan é o melhor representante do ELSA spirit, o mais emblemático e respeitado alumni da ELSA Portugal, e o seu principal bastião. A sua capacidade de unir, agregar, e manter a cidadania viva – que vários portugueses têm vindo a conhecer e a sinalizar nesta campanha – é o traço mais marcante da sua personalidade. Exemplo disso é que, num mundo cada vez mais agreste e polarizado, a 10 de Abril de 2015, vários amigos, com simpatias políticas antagónicas, e em jeito de brincadeira (mas visivelmente avant la lettre), tenham lançado na rede social Facebook um grupo privado (que junta hoje 1300 membros) designado “Mayan a Presidente da República”. Toda a história deste grupo é bom exemplo da saudável leveza, do carisma e da mundividência de um candidato que, sendo desconhecido de muitos, tem o apoio indefetível de muitos daqueles que o conhecem bem.

Mas se o Mayan vale pelo que é, a sua candidatura vale muito mais por aquilo que ela representa – um espaço político em construção em Portugal, que o candidato tem sabido reforçar e valorizar.

Num tempo em que a política partidária e os valores que os suportam estão em clara redefinição, Mayan representa o espaço político dos que acreditam na liberdade e na civilização, na democracia liberal e no pluralismo. Tem o apoio da Iniciativa Liberal, mas é mais do que um candidato partidário: é o candidato liberal, no sentido em que tem conseguido trazer uma visão liberal para uma série de problemas que estão na primeira linha da agenda política, como o resgate da TAP, dos bancos, a gestão da crise pandémica, a pobreza que o Estatismo acarreta para Portugal ou o retrocesso civilizacional que simbolizam quer as extremas esquerdas quer os populismos de direita. Tem-no feito de uma forma que pôs a pensar muitos cidadãos que, até hoje, não tinham tido a possibilidade de os ponderar fora dos pressupostos socialistas. A candidatura do Mayan tem vindo a alargar o espaço de compreensão sobre o que é o liberalismo, dissipando vários fantasmas, assinalando diferenças sem gerar crispações, criando consenso e simpatia para lá do seu eleitorado natural. Ora, também por isso, o Mayan merece o meu voto.

A candidatura de Mayan tem ainda a virtude de permitir que vários eleitores não fiquem órfãos de representação, nesta eleição. 

Há um núcleo de eleitores que, tendo votado em Marcelo Rebelo de Sousa, em 2015, não faz hoje um balanço positivo do seu mandato. Noto, em qualquer caso, que ao contrário de uma boa parte da direita que se divorciou de Marcelo Rebelo de Sousa, continuo a ter simpatia pela persona. Por exemplo, não esperava, como alguns, que o Presidente da República fosse o suporte da direita e, sobretudo, do PSD/CDS, contra a governação da Geringonça. A meu ver, os grandes responsáveis pelos desaires eleitorais, à direita, são desde logo os líderes políticos que não souberam cativar os eleitorados e desmontar a Geringonça; e os próprios eleitores, pelas escolhas que fizeram nas urnas. 

Marcelo Rebelo de Sousa é, contudo, responsável pelas suas próprias escolhas, e são elas que criam reservas ao meu voto na presente eleição. Na verdade, no quadro do semipresidencialismo vigente – em que o primeiro-ministro lidera o executivo em clara minoria, suportado numa coligação complexa que lhe impõe uma permanente negociação com os restantes órgãos de soberania – Marcelo Rebelo de Sousa optou por anular o seu papel de garante em situações críticas (como nos casos de Pedrógão, Tancos, na recondução da Procuradora Geral da República, na indigitação de Centeno para o Banco de Portugal ou, mais recentemente, no caso do SEF), sem que isso seja compreensível no plano do que são as responsabilidades presidenciais. Na sua catedrática inteligência, Marcelo Rebelo de Sousa durante a campanha teve já a oportunidade de nos apresentar explicações criativas para todas as críticas que lhe são movidas, as quais, porém, não tiveram o condão de me convencer. Em 2015, num jantar-conferência, uma das convivas pediu a Marcelo Rebelo de Sousa três razões para lhe entregar o seu voto. À época, o candidato respondeu, de uma forma que todos considerámos divertida, que só lhe daria uma, a qual seria suficiente: ele era a única alternativa decente à direita. Passados cinco anos, o cenário mudou, e a existência de mais candidaturas permite ao eleitorado ter mais escolha, e ser por isso mais exigente.

A maior reserva que tenho em relação ao mandato de Marcelo Rebelo de Sousa prende-se, porém, com algo que não tenho visto discutido na presente campanha eleitoral: a incapacidade que demonstrou em evitar a ascensão dos populismos. O Presidente da República poderia ter escolhido como espaço para a sua reeleição a área política da direita, e absorvido o descontentamento. Ao ter-se esvaziado junto de vários setores da direita, ao ter exercido um mandato em que nos momentos críticos diluiu a sua função institucional, Marcelo abriu o espaço para o descontentamento, para um certo sentimento de despeito, e para o consequente crescimento de um núcleo eleitor que, sendo minoritário, pode bloquear as soluções à direita, em alternativa à Geringonça, empurrando Portugal para um indesejável “centrão”. Tendo escolhido ser o presidente dos afetos, a forma como distribuiu os carinhos no seu mandato deu espaço para a emergência de uma direita emocionada que parece ter abdicado de pensar.

Neste sentido, a candidatura de Tiago Mayan é providencial, pois representa uma alternativa a André Ventura para todos os que não se sentem representados por Marcelo Rebelo de Sousa. Se havia dúvidas em relação à natureza do Chega, elas dissiparam-se nesta campanha presidencial. Há no programa do Chega propostas políticas com interesse, em matéria económica e fiscal, na educação e na saúde, que facilitariam uma convergência à direita, mas as prioridades escolhidas por André Ventura, a postura deselegante e agressiva num estilo adolescente de “gatarrão” zangado e, sobretudo, as suas frases de ordem, são motivos suficientes para qualquer eleitor assinalar fora-de-jogo ao ponta-de-lança sem necessidade de recurso ao VAR. Aliás, depois de ouvir o candidato defender “ditaduras de pessoas de bem” (seja lá o que isso signifique), exibir fotografias de pessoas em concreto, habitantes de um bairro social, negros, apelidando-os de “bandidagem”, e recusar tratamento médico a imigrantes e refugiados, os quais chamou de “marroquinos”, pergunto-me – e digo-o sem qualquer ponta de ironia – quem é que leva André Ventura a sério. André Ventura diz que quer “mudar o regime”, mas durante toda a campanha eleitoral, não só não explicou nenhuma das boas medidas que tem a espaços no seu programa (dando razão aos que dizem que não só não as conhece, como não acredita nelas, sendo apenas o ator principal de um enredo desenhado por um qualquer Rasputin), como se tem limitado a atacar os mais pobres e os mais frágeis, os que não têm voz para se defender, ciganos, habitantes de bairros sociais, pequenos delinquentes, imigrantes e refugiados, manipulando o ego e o pior que ainda persiste num certo eleitorado de direita, fugindo das grandes questões essenciais que são a causa do nosso atraso, sendo sintomáticos os silêncios em relação a tudo o que são poderes estabelecidos, como se viu na forma como anuiu no saneamento da TAP. Ventura está a tornar-se, ironicamente, no seguro de vida da esquerda que diz combater, pois dá-lhe uma razão para existir (sem ter de dar muito mais explicações), bloqueia a direita, distrai o eleitorado para questões irrelevantes, sendo conivente com os grandes dossiers do Regime. 

Termino, como comecei. No próximo dia 24 de Janeiro vou votar no Tiago Mayan Gonçalves. Agradeço a coragem que teve ao candidatar-se, para nos representar e tornar, por esta vez, o voto de muitos, mais fácil. 

Academia Insurgente

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Na quinta-feira passada, na Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, a nossa Graça Canto Moniz prestou provas de doutoramento, tendo sido aprovada por unanimidade, com nota máxima e louvor, por um exigente júri que incluiu três arguições. A Graça junta-se assim ao extenso quadro de honra de doutorados do Insurgente, sendo a primeira mulher insurgente a concluir com êxito provas doutorais. Em nome do coletivo Insurgente, parabéns!

Por um espaço de centro-direita em Portugal

Votei pela primeira vez em eleições legislativas no CDS, e não me arrependo. Como não se deve arrepender o partido de ter tentado ir além daquilo que era o seu nicho, e falar, não para dentro, mas para todo o espaço de centro-direita. Faz bem o partido em analisar o que aconteceu, desde janeiro deste ano, quando todas as sondagens apontavam para um resultado superior a 10%, tentando perceber que erros de percurso terão existido, mas também, porque razão, desde essa altura, boa parte do eleitorado de sempre do CDS entrou numa estranha autofagia, quase masoquista, como se crescer fosse em si uma heresia inaceitável.

Enquanto cidadão português, não militante de qualquer partido, espero que o espaço não socialista se reorganize, sem populismos, dogmatismos ou demagogias, de forma a voltar a ser uma alternativa relevante aos olhos dos portugueses. E neste processo de reorganização espero que o CDS não se deixe desanimar por um mau resultado, continuando a apostar na linha de renovação e abertura ensaiada desde 2015. Porque pior do que o resultado de ontem, será tentar fechar o CDS a uma série de bandeiras que, tendo a sua relevância, não são suficientes para dar corpo a um partido com expressão eleitoral. Os partidos servem para resolver problemas, e para representar pessoas. Para poder ser eficaz na defesa da missão e dos valores próprios do CDS, o partido terá de ser relevante, e para isso representar várias formas de ver o centro-direita. Terá de ser portador de uma forte mundividência, e não, ser sectário. Importa agregar, não dividir. Espero, assim, que os futuros líderes do CDS aspirem a representar vários grupos do centro direita, com abertura, cosmopolitismo e sentido de tolerância, com sabedoria e rigor técnico, para que possam ser uma força relevante e alternativa ao socialismo, abordando os temas de hoje, fugindo à tentação de se tornarem um partido de nicho, capturado e identitário, e por essas razões, necessariamente sem ambição nem expressão.

Os resultados da presente eleição, na sua distribuição de forças, e até na sua babelização, exibem uma completa capitulação moral do país, em detalhes que me escuso a comentar. Grande parte em qualquer caso da capitulação do eleitorado ao socialismo e a partidos estatizantes e protectores reside num medo patológico de enfrentar a mudança, de perder o pouco que se tem, que os partidos de centro-direita não souberam desmistificar, e até denunciar nos seus enganos. Em 1975, quando Portugal discutia a sua Constituição, e o socialismo nas suas diversas expressões se apresentava como via única para cumprir Portugal, homens de coragem souberam, com a sua voz, mostrar e pensar diferente. Lucas Pires, um amante da tolerância e das sociedades abertas, foi uma dessas vozes corajosas:

“(…) Se se quiser acabar com o medo como problema político, é pelo Homem e não pelo Estado que tem de se começar. O medo é, de facto, o peso e a sombra de um ente estranho e sobre-humano que nos ladeia e espreita desde a nascença. Ora a verdade é que o Estado só existe depois de pensado, só depois de nós (…)”.

Como em 1975, o CDS será relevante se souber mostrar às pessoas que o caminho para cumprir Portugal passa por recusar o socialismo, radicando no humanismo, na realização da pessoa face aos problemas contemporâneos, e só depois no Estado, que deverá ser pensado em função do Homem e da sua realização. Um humanismo porém que deverá ser tolerante, bebendo no pluralismo que é próprio das sociedades abertas, que os fundadores do CDS, e os seus líderes históricos, como Francisco Lucas Pires, tão bem souberam representar.

Porque devo votar no CDS? Onde posso encontrar conteúdos e informação à minha medida?

As redes sociais vieram aproximar as pessoas mas, numa certa medida, criaram também algum ruído que por vezes dificulta a comunicação. O mesmo se pode dizer dos media que, infelizmente, preferindo difundir fait divers, exibem níveis de captura que não ajudam os partidos fora do status quo a passar as suas mensagens. Não são poucas as pessoas com quem falo que criaram uma ideia menos positiva do CDS e das suas atuais lideranças, baseada sobretudo naquilo que são as posições veiculadas pelos seus opositores e críticos, e pelos media, sem contudo terem formado uma opinião a partir daquilo que são as propostas e a ação real do partido.

Da mesma forma, há os que me desabafam que não sabem onde podem encontrar informação e conteúdos sobre as propostas do CDS, para fazerem o seu próprio juízo e até as divulgarem a terceiros.

A boa notícia é que informação existe, está aí, disponível, em vários formatos, para quem quiser consultá-la e divulgá-la. O CDS produziu conteúdos claros, simples e não sensacionalistas que ajudam a perceber aquilo que tem a propor aos eleitores. Podem assim encontrar o CDS no Instagram (clica aqui), no Twitter (clica aqui), no Facebook (clica aqui), na página do programa Faz Sentido (clica aqui), e até no YouTube (clica aqui). Podem também receber aderir o canal do WhatsApp, enviando mensagem pelo WhatsApp para o número 935.450.529. Além do Programa Eleitoral, sempre mais denso e compreensivelmente menos consultado, mas que importa também divulgar, para os que gostam de analisar com detalhe.

Têm nestes links todos os conteúdos que necessitam para escolher em quem votar, em liberdade, e partilhá-los, para que ninguém se sinta desinformado ou influenciado pelo espírito negativista e enviesado que domina hoje as redes sociais e os media. Nunca se fez tanto para chegar junto dos eleitores; mas não esqueçamos, desde o PREC, nunca o CDS foi tão atacado.

Há por isso que fazer mais um esforço. Não se deixem enganar. O CDS preparou-se como nunca, com antecedência, com propostas consistentes e testadas, que servem melhor do que nenhum outro partido as aspirações de democratas-cristãos, conservadores e liberais, sem demagogia, propondo um realista desagravamento fiscal, mais liberdade na saúde, na educação, mais apoios para as famílias, para o mundo rural, apresentando-se com a equipa mais jovem de todos os partidos com assento parlamentar, e aquela que mais mulheres coloca, sem exigência de quotas, em posições de liderança e relevo, como são o caso das cabeças de lista em Lisboa e Porto, os dois maiores círculos eleitorais do país. A informação existe, está disponível, tudo se está a fazer para que não falte nada ao cidadão eleitor, em vários formatos, acessíveis a todos. Só falta agora que cada um de nós seja suficientemente responsável, se informe, e procure escolher, sem preconceito e em consciência. Divulgando uma mensagem e um voto que são tão importantes para combater a hegemonia da esquerda.

O meu voto: CDS

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Para um liberal, o voto é um ato de compromisso, e não uma manifestação de vanguarda ou entusiasmo. Os partidos são organizações necessárias para resolver problemas e assegurar a representação dos cidadãos, devendo um liberal olhá-los sempre com uma epistemológica desconfiança no momento da sua escolha e seleção, entre o cardápio que lhe é exibido no boletim de voto.

Os partidos com aspirações de Poder devem desejavelmente ter uma mundividência suficientemente ampla que lhes permita acomodar várias sensibilidades e correntes, por vezes até relativamente conflituantes, mas suficientemente abrangentes e representativas de uma sociedade que se deseja necessariamente plural. Partidos demasiado consensuais, com soluções lineares, não são interessantes para o exercício da governação, pois anulam o pluralismo que é a marca de qualidade das sociedades democráticas saudáveis.

Numa altura em que a nossa democracia vive momentos difíceis, com uma degradação significativa da vida pública, o CDS, nos seus inúmeros defeitos, é o partido que mais garantias me dá de poder protagonizar um programa de ação política distinto daquele que a Geringonça impôs ao país. Assinalo com tristeza o afastamento do PSD do seu eleitorado, enfraquecendo a frente de resposta ao socialismo em Portugal. Em sentido inverso, Assunção Cristas merece uma palavra de elogio, pela capacidade que tem demonstrado em procurar construir um CDS menos entrincheirado, liderante de uma direita mais cosmopolita onde haja espaço para todos os que, com mundividências distintas, procuram soluções para os problemas do país a partir de uma matriz mais próxima do humanismo, da liberdade, e do respeito pela propriedade. O CDS lidera hoje a oposição ao socialismo, sem hesitações, mais orientado para as soluções, de uma forma mais aberta e ampla do que aquilo que é a matriz histórica do partido, em benefício da direita em Portugal. Foram fundamentalmente estas as razões que me levaram a votar CDS, no domingo passado.

Um liberal não deixa de apreciar a existência de escolha, e por isso assinalo com simpatia o alargamento de possibilidades que a presente eleição apresenta aos eleitores, em particular no espaço político com o qual me identifico. Não antecipo longa vida ao Aliança, por não me parecer que este venha acrescentar nada de novo, nem no quadro das soluções, nem dos protagonistas. Não tendo particular apetência por vanguardas partidárias, e estando convencido que o caminho das ideas se faz na sociedade civil, e não nos partidos, tão pouco bebo do entusiasmo juvenil de muitos Insurgentes pela “Primavera Liberal”, nem estou disposto a entregar o meu voto a um partido que encerre ou capture as possibilidades do liberalismo. Mas a existência destas duas alternativas, onde não faltam pessoas de valor, que admiro e por quem tenho amizade, são ainda assim positivas e podem servir para combater em favor da direita o maior inimigo da democracia: o derrotismo e a abstenção. Ajudam também a reforçar a oposição ao socialismo, que dificilmente será bem sucedida com os votos num só partido.

Por isso, no domingo, espero que possamos todos olhar com satisfação para os resultados, e que CDS, IL, e Aliança, possam ter scores que ajudem a consolidar uma frente de resposta consistente ao marasmo que se instalou em Portugal.

Da responsabilidade orçamental

Costa a queixar-se do CDS/PSD por irresponsabilidade orçamental, faz-me lembrar aquele bom pai de família, o verdadeiro tuga da estirpe macho latino, que depois de ter torrado o plafond do mês com o PCP/Bloco de Esquerda em copos e gajas, ameaça ir-se embora de casa porque descobriu que a mulher – “essa grande p…” – esteve a flirtar sem consequências com o carteiro, e lhe prometeu umas gorjetas lá para o Natal.

“Ideologia do género”, ou a nova vanguarda rumo ao socialismo

Numa frase apenas, Joana Mortágua dá-nos a razão que justifica uma forte oposição à auto-proclamada “ideologia de género”, e mostra-nos porque motivação essa oposição não se traduz em nenhum “retrocesso civilizacional”, como tantas vezes nos querem fazer crer os promotores de tão estranha “vanguarda”:

A compreensão dos papéis feminino e masculino como uma construção social que interage com os outros sistemas de poder, de dominação social e de exploração, seja o capitalismo, o colonialismo ou o racismo, foi essencial para desnaturalizar a desigualdade de género.

(via Jornal i, aqui)

Para estas pessoas, a desigualdade entre homens e mulheres é uma construção social do capitalismo, do colonialismo e do racismo. A ideologia do género não é assim uma forma de promoção da igualdade de direitos de homens e mulheres, ou da possibilidade de afirmação da identidade sexual de cada um, em liberdade, mas uma captura destas ideias legítimas para promover o socialismo. Pois para estas pessoas, só em sociedades socialistas e marxistas deixarão de existir os tais “sistemas de poder e de dominação social” que oprimem as mulheres. Por isso, não sejamos ingénuos: defender a igualdade entre sexos, e a liberdade sexual, não se faz na promoção da ideologia de género, nem no apoio a quem representa partidos, ONG’s e outras organizações como o Bloco de Esquerda e seus satélites, por uma razão muito simples: como podem defender a liberdade, os maiores inimigos da liberdade?

O que é estranho é que tantos se deixem capturar por este paradoxo do extremismo, promovido por um núcleo minoritário radical. Em clara chantagem cultural, qualificam-se de “retrógrados”, “ultras” e “extremistas” todos os que não alinhem na sua construção social artificial. Para se afirmar, não lhes basta ampliar as possibilidades – que seria o caminho adequado num cenário de pluralismo -, não, estas minorias querem desconstruir as bases da nossa sociedade (não apenas as ideias de família ou parentalidade, que obviamente numa sociedade plural podem ser fluídas, mas também as bases do sistema económico, cultural e social), impondo sem debate uma sociedade socialista, um modelo de sociedade que está nos antípodas das sociedades tolerantes e plurais ocidentais, que valorizam um ideal de liberdade que é compatível, quer com a tradição judaico-cristã da Europa, quer com os valores laicos nascidos da Revolução Francesa. Chega a ser impressionante como o eixo da moderação, assente no pluralismo e na liberdade, está a ser dilacerado e classificado de radical, por minorias ruidosas e militantes, terraplanando dessa forma o espaço do debate e as soluções que fariam sentido em sociedades abertas.

É fundamental encontrar caminhos para a igualdade de direitos entre homens e mulheres, e garantir que num quadro de pluralismo e tolerância todos têm um espaço de liberdade para a afirmação da sua identidade sexual, sem que isso resulte de uma transformação radical da sociedade europeia, ou corresponda à destruição dos laços e raízes que nos unem, por imposição de uma vanguarda que, em todas as sociedades onde conseguiu implementar as suas ideias, apenas trouxe pobreza, desigualdade, e destruição moral. Basta, a esse título, ver o que nos reporta a insuspeita Newsweek, sobre a saída que o regime socialista da Venezuela trouxe para as mulheres locais: a prostituição em massa como fórmula de sobrevivência.

Pensem nisso, quando vos venderem o socialismo e a destruição da sociedade plural e livre que a tanto custo construímos nos últimos duzentos anos, como solução para a afirmação da mulher, ou vos oferecerem soluções bizarras que se apresentam como fórmula para projetar supostas identidades individuais. E leiam o artigo da Joana Mortágua com atenção. Está lá tudo isto, sem disfarces ou maquilhagem.

 

Louçã, o bom pai de família

Há algo que me chamou a atenção na Convenção do Bloco: o papel assumidamente tutelar de Louçã, que se desmultiplicou em intervenções, recomendações e afirmações, qual pater familias, a explicar-nos o que o Bloco é, deve ser, e irá ser. Menorizando a liderança, retirando-lhe palco, enaltecendo as virtudes dos que são @s seus/suas discipul@s preferid@s. Toda esta performance teve lugar num ambiente de reverência embevecida dos media, que nunca questionaram Louçã pelo exercício desta magistratura honorária e quase aristocrática. Pensei para com os meus botões: “imaginem o que seria se Cavaco Silva, Passos Coelho, Paulo Portas, ou até José Sócrates ou Carlos Carvalhas, assumissem idêntico papel nos seus partidos“. Pois é, o Bloco pode querer ser Governo, e até vir a ser Governo, mas o seu Congresso mostrou-nos uma organização que ainda funciona como um Kindergarten, em que políticos-mirim são levamos à escola pela mão do papá.