Fala-se que os detentores de uma percentagem entre 70% e 80% de dívida grega aceitaram o programa de troca de títulos. Parece que o sistema de chantagem em cascata funcionou e nem sequer será preciso ir aos maiores extremos na coerção. Resta saber para quanto tempo será esta “solução”.
Autor: Luciano
Evento de crédito? To be or not to be
“1. Barring a “miracle” (…) Greece will almost certainly have to activate collective action clauses to get sufficient participation in the debt swap, and the ISDA has said all along that:
the use of [CACs] to effect a reduction in coupon or principal or one of the other events set out in the definition of the Restructuring Credit Event could trigger [a credit event] if the other requirements of the Restructuring Credit Event were met (for example decline in creditworthiness), as its effect would be to bind all holders of the relevant debt.
2. It is prudent for ISDA to be prepared in the event that a credit event is determined to have occurred.
That was the declaration yesterday from the International Swaps and Derivatives Association, which is the body that officially decides when a “credit event” has occured, and credit default swaps (CDSs) paid out.
In fact, the ISDA is so prepared that it has drawn up a list of “potential deliverable obligations“ that market participants “reasonably believe are likely to be delivered into standard credit default swap contracts”.
In other words, financial institutions have submitted to the ISDA a list of bonds they think are covered by CDS insurance. These bonds will be reviewed by the ISDA if a “credit event” occurs – although the ISDA warned that:
Inclusion of an obligation in the list does not imply that the contributor, ISDA or the EMEA Determinations Committee has verified that the obligation actually is deliverable under the terms of a standard credit default swap contract“. (fonte)
Em resumo: esta notável trapalhada grega vai servir para saber se os credit default swaps ainda valem alguma coisa ou são apenas uma pilha de contratos assinados em papel molhado (como o Ricardo já tinha notado). Saber isto vai permitir-nos também saber se ainda existe um mercado financeiro internacional digno do nome.
Suspense
Falta pouco (mais ou menos um dia) para sabermos se ficará claro para toda a gente que o incumprimento da Grécia tem pouco de “voluntário” da parte dos credores. Foi graças a alterações legislativas recentes na Grécia que ficou estabelecido que, desde que os detentores de 75% da sua dívida aceitem a redução dos compromissos, os detentores dos restantes 25% terão de o aceitar também. Ou seja, começa logo por não ser voluntário da parte, pelo menos, dos detentores de 1/4 da dívida. Mas mesmo os detentores de 75% ou mais que venham a aceitar até amanhã, fazem-no com uma pistola encostada à cabeça: basta que os detentores de 66% aceitem para que o governo grego accione as cláusulas de acção colectiva que tornam aplicáveis as reduções de compromissos não só a esses 66% mas também aos restantes credores. E, para completar o quadro, o governo grego ameaçou todos com um incumprimento total caso o limiar dos 66% não seja atingido. Se tivesse um maluco com um serra eléctrica a ameaçar cortar-me o braço caso não o deixasse cortar-me a mão, se calhar também aceitava “voluntariamente” que me cortasse a mão.
Mesmo assim, ainda tudo pode acontecer. E caso esta magnífica maquinaria não funcione até amanhã, o abandono do euro pela Grécia tornar-se-á uma prática inevitabilidade e, depois, sabe-se lá o que acontece.
Privado de mercado
O presidente da Comissão executiva do BPI defende que se deve “privatizar parte da Caixa Geral de Depósitos”. Para quê? Desde há três ou quatro anos que percebemos que os bancos não podem falir. Ao primeiro estremeção, multiplicam-se as garantias e os apoios públicos: ainda hoje, são eles os beneficiários directos dos programas de liquidez do BCE. Valeria a pena privatizar a caixa se todo o sector bancário (incluindo a Caixa) se sujeitasse a uma efectiva disciplina de mercado. Senão, é mais ou menos indiferente.
Mas repare-se que a sugestão não é privatizar todo o capital da Caixa, apenas “uma parte”. Assim percebe-se melhor: uma vez cotada, a Caixa poderia adquirir bancos, fundir-se ou ser adquirida. E como seria excelente para qualquer banco dito “privado” colocar-se sob a sombra protectora da montanha de depósitos da Caixa e da garantia estatal que a protege e não precisa de ser accionada nem tem custos de comissão. Tinha a vantagem de ser mais explícito do que a ficção actual.
Still born
A questão levantada pelo artigo citado pelo Ricardo e pelo Ricardo sobre a legitimidade da interrupção da vida de recém-nascidos é a questão essencial sobre o aborto: qual o limiar da vida humana? Quem sempre se recusou a discuti-la tem poucas razões para se indignar com isto. No tempo do referendo (e noutros) escrevi umas coisas sobre o assunto. Destaco o seguinte, poque se apropria directamente:
não estou de acordo que o aborto seja despenalizado se feito “até às dez semanas”, muito simplesmente porque é um limite (ou um limiar) que não entendo. Não há nenhuma razão para pensar que a partir das dez semanas exista um ente em desenvolvimento na barriga da mãe diferente do que existia à nona ou à oitava. As dez semanas não trazem nenhuma alteração qualitativa à vida em gestação que tornem aceitável a despenalização de quem pratica o aborto até então. Não existe, a partir da décima semana, uma vida que passe a merecer protecção jurídica diferente da que existia antes e, por isso, também este aspecto da pergunta é suficiente para eu votar Não
QREN: a continuação da política fiscal por outros meios
Ainda não percebi se isto (Álvaro Santos Pereira perde gestão de fundos comunitários para Vítor Gaspar) é verdadeiro ou não. Mas, entre notícias e desmentidos, parece que sim. Ou seja, entrámos também no período da caça ao fundo (uma espécie de caça à multa mas de proporções épicas e sem ter de gastar dinheiro com polícias). Seria bom pedir já uma auditoria permanente ao destino destes fundos, não vão servir de receita extraordinária para cumprir o défice em 2012.
Draghing the can down the road
Quem diz que o Banco Central Europeu, ao contrário do que se passa na América, não “sustenta a economia” com liquidez praticamente ilimitada?
Ver aqui: O Banco Central Europeu (BCE) concedeu 529,5 mil milhões de euros de liquidez à banca da Zona Euro, um valor que superou as estimativas e o montante total do último leilão. Foram 800 os bancos que recorreram a esta linha de financiamento do BCE a três anos.
Face ao último leilão que a autoridade monetária fez a três anos (21 de Dezembro), houve um aumento de 277 entidades a recorrer a esta medida do BCE, ou seja, mais 52,9%, de acordo com os dados que foram divulgados esta manhã.
No que respeita ao valor total financiado, houve um acréscimo de 8,24%, ou 40,3 mil milhões de euros. Foram concedidos 529,5 mil milhões de euros, o que compara com os 489 mil milhões de euros observados na operação de Dezembro. Este montante é um novo recorde e compara com os 470 mil milhões de euros estimados pelos economistas consultados pela Bloomberg.
Este é a segunda operação de financiamento a três anos realizada pelo BCE desde Dezembro. O objectivo é dotar a banca de liquidez suficiente para conseguir superar a actual situação, que congelou praticamente todo o sistema financeiro, com os bancos a não conseguirem financiar-se e, como consequência, têm vindo a reduzir o financiamento da economia.
Mais qualquer coisinha aqui.
Multa: a continuação da política fiscal por outros meios
O pacato cidadão que circule de carro numa cidade portuguesa por estes dias depara-se com um espectáculo notável: récuas de agentes da autoridade, em cada esquina (normalmente vias de grande circulação), incomodam uma multidão de pacatos cidadãos pacatamente dirigindo-se de carro para o emprego. É provável que quanto mais caiam as receitas fiscais mais se multipliquem estas operações stop, na esperança de umas migalhas para o saco roto do Orçamento.
A balbúrdia no trânsito que provocam, o tempo que fazem perder devem colocá-las na mesma política de estímulo à produtividade em que se incluíram a supressão de feriados e da tolerância de ponto do carnaval. Deve ser isto a opção estratégica de apoio ao sector dos bens transaccionáveis.
É preciso denunciar isto
Escândalo: pobre recusa ajudar rico. Para onde vai o mundo?