Viver num T2 no centro da cidade por menos de 400€? Sim, é possível.

O Jornal i coloca hoje na capa que os jovens estão a ser empurrados para a periferia para fugir do centro da cidade. Resolvi então ir investigar para perceber se as rendas estão mesmo caras nos centros das cidades e descobri algo surpreendente: não estão.

Por exemplo, em Santa Maria da Feira, por 360€ podem alugar este fantástico T2 mesmo no centro da cidade a menos de 5 minutos do Castelo. Em Braga na Avenida da Liberdade, pode ter também um T2 por 400€. Na Covilhã, as possibilidades são melhores ainda. Por apenas 300€ pode alugar um T3 e viver mesmo no centro da animação. Por mais 100€ consegue o mesmo em Beja.

Viver no centro da generalidade das cidades portuguesas não é caro. Viver no centro da única cidade que parece interessar é que é. E é aí mesmo que começa, e acaba, o problema.

Como ser xenófobo? Lição número 1.

A xenofobia é um instinto básico como a inveja ou o medo. Há motivos evolucionários para estes instintos básicos. Mas nem só de instintos básicos se faz o ser humano. A cultura tem uma forma de causar impacto e aliviar algumas destas heranças biológicas. Nós aprendemos a não ter medo de automóveis, comboios ou aviões que assustariam um dos nossos antepassados se fossem transportados no tempo para o presente. Apesar da popularidade do socialismo em muitas sociedades, também aprendemos (com esforço) a não sentir inveja e reconhecer que uns podem obter mais bens do que nós sem que isso signifique estar-nos a privar de alguma coisa. Também aprendemos a livrar-nos da xenofobia e do racismo.

Mas alguns leitores certamente não terão tido acesso à educação certa ou não tem a capacidade para domar esse instinto. Para o leitor para quem esse instinto seja muito forte, o melhor que tem a fazer é direccioná-lo de forma politicamente correcta para que os outros não o julguem por isso. Em alguns países mais, chamemos-lhe assim, “desenvolvidos”, estão a pensar criar bonecas sexuais com a forma de crianças para que os pedófilos possam aliviar os seus “desejos” (pessoalmente, acho que uma dose de cianeto funcionaria muito melhor, mas eu não sou especialista no assunto). Em Portugal a boneca de plástico dos xenófobos de armário são os turistas.

Daí o objectivo desta lição: como ser xenófobo de forma politicamente correcta sem afectar a sua imagem pública? A primeira lição é: escolher o alvo. Alguns exemplos abaixo sobre a forma certa e errada de extravasar a sua xenofobia:

Errado

“Ninguém quer ter uma família de ciganos no andar de cima: fazem muito barulho, não cumprem as regras do condomínio, acumulam lixo à porta, e entram e saem a qualquer hora do dia com malas de produtos que vendem nas feiras. É preciso limitar o número de apartamentos que famílias ciganas podem alugar em Loures.”

Certo

“Ninguém quer ter um apartamento com turistas no andar de cima: fazem muito barulho, não cumprem as regras do condomínio, acumulam lixo, e entram e saem a qualquer hora do dia com malas que trazem para as férias. É preciso limitar o número de apartamentos que podem ser alugados a turistas em Lisboa.”

Note-se como o leitor xenófobo pode exibir o seu preconceito à vontade se o direccionar para o alvo certo. É verdade que há muitas famílias ciganas que exibem esse comportamento, mas a maioria não o faz. Assim como os turistas. Mas se a primeira generalização é preconceito, a segunda já é xenofobia socialmente aceitável porque toda a gente sabe que ingleses e alemães são uma espécie barulhenta. Vejamos outro exemplo:

Errado

“Os imigrantes estão a destruir os centros das cidades: onde antes havia lojas históricas onde o meu bisavô comprava as suas bengalas e chapéus de coco, hoje estão instaladas lojas de chineses, indianos ou africanos, onde esses imigrantes compram a sua comida barata, descaracterizando as zonas históricas”

Certo

“Os turistas estão a destruir os centros das cidades: onde antes havia lojas históricas onde o meu bisavô comprava as suas bengalas e chapéus de coco, hoje estão instaladas lojas de souvenirs e fast-food, onde turistas compram álcool barato, descaracterizando as zonas históricas”

Esta mensagem tem o benefício de o leitor xenófobo também poder exibir toda a sua dimensão intelectual ao mencionar, sem nunca detalhar, as características das zonas históricas. Se o preocupa ver coisas novas em sítios por onde passa todos os dias, então liberte-se desse sentimento criticando as lojas dedicadas aos turistas.

Se o leitor é um xenófobo daqueles mesmo incontrolável, então o próximo exemplo é para si:

Errado

“As cidades hojes estão cheias de pretos e monhés. Passeia-se pela rua e quase não se vê um branco como antigamente: eles ocupam os autocarros, os parques e os cafés. Já não se pode estar à vontade em lado nenhum. Lisboa aos lisboetas! Porto aos portuenses! Portugal aos portugueses!”

Certo

“As cidades hojes estão cheias de turistas. São alemães, ingleses, espanhóis e chineses por todo o lado. Passeia-se pela rua e quase não se vê um português como antigamente. Eles ocupam os autocarros, os parques e os cafés. Já não se pode estar à vontade em lado nenhum. Lisboa aos lisboetas! Porto aos portuenses! Portugal aos portugueses!”

Repare como com esta frase o leitor pode ir para além de preconceitos em relação ao comportamento de estranhos para demonstrar a sua irritação com a simples presença deles. Mas, como dito antes, tenha muito cuidado com o alvo que escolhe.

Finalmente, se mesmo assim o leitor for confrontado com a sua xenofobia, pode sempre usar o argumento de “que lá fora é igual”. Mas, mais uma vez, tenha cuidado na forma de o utilizar:

Errado

“São inúmeros os casos na Europa de cidades descaracterizadas pela imigração. As populações estão fartas dessa invasão. Muitos movimentos de extrema direita anti-imigração estão a ganhar popularidade por isso.”

Certo

“São inúmeros os casos na Europa de cidades descaracterizadas pelo turismo. As populações estão fartas dessa invasão. Muitos movimentos de extrema esquerda anti-turismo estão a ganhar popularidade por isso.”

Agora sim, os caros leitores xenófobos de armário podem exteriorizar esses sentimentos reprimidos sem que isso afecte o seu futuro na política, jornalismo ou comentário televisivo. Não tem nada que agradecer.

 

Bem-vindos à Damaia: uma solução para o problema da falta de vagas nas escolas de Lisboa

Nos últimos dias tem-se sentido um forte reboliço nas redacções dos jornais. Aparentemente há 2 ou 3 escolas sem vagas em Lisboa porque um grupo de pais não residentes arranjou forma de inscrever os seus filhos nessas escolas (um esquema que, como todos sabemos, é novo e nunca tinha acontecido antes noutras zonas do país). O motivo pelo qual esses pais se dão a tanto trabalho para colocar os seus filhos numa escola longe de casa é que permanece um mistério em quase todas as notícias sobre o caso.

O nervosismo parece que está a toldar a capacidade de decisão do Ministério porque existe uma solução muito fácil para o problema. A Escola Secundária Dom João V, na Damaia, tem muitas vagas. Ali, a apenas 15 minutos de Lisboa, dificilmente seria um desafio os alunos deslocarem-se para aquela escola. Até existem autocarros que podem levar os alunos directamente de Entrecampos. Quem mora fora de Lisboa sabe que 15 ou 30 minutos é um tempo normal de deslocação em transportes públicos até à escola mais próxima. Aliás, o ministério da Educação acabou com muitos contratos de associação fora de Lisboa baseado no pressuposto de que 20 minutos de autocarro para chegar à escola não era um grande problema.

Por muito que pense, não consigo encontrar problemas com esta solução. Como nos repetem constantemente o ensino público é igualitário, ao contrário dos colégios que segregam, portanto as escolas do centro de Lisboa oferecem a mesma qualidade de ensino que a secundária da Damaia. Para além disso, a escola da Damaia tem um perfil muito mais multicultural, o que só enriquecerá os alunos das classes média-alta que para lá forem deslocados. E, finalmente, se há crianças da Amadora que (por um motivo qualquer que permanence misterioso) vêm a Lisboa roubar as vagas aos alunos lisboetas, nada como uma pequena vingança e ir para lá fazer o mesmo.

Caros pais lisboetas, não precisam de abaixo-assinados ou andar a perseguir crianças depois da escola para verificar onde moram. A solução é fácil: bem-vindos à Damaia!

Falta de experiência?!?!?


Hoje a capa do Jornal de Notícias, possivelmente aproveitando o período de férias do seu director, fala do mal-estar entre os bombeiros pela falta de experiência das estruturas de comando. Nada podia ser mais injusto. O governo mudou as estruturas de comando em Abril, uns bons dois meses antes de começar a época de incêndios. Mesmo contando com os feriados, tolerâncias de ponto, uma ou outra baixa e as 35 horas semanais, deu imenso tempo para ganhar experiência. As estruturas de comando, para além de terem para mais de 3 meses de experiência no seu posto, são veteranas do pior incêndio e pior época de incêndios de que há memória. Se isto não é experiência, não sei o que é experiência!

Esta acusação é ainda mais injusta se olharmos aos casos concretos. Em Janeiro deste ano noticiava-se que:

“Os 25 comandantes de bombeiros do distrito de Aveiro reuniram de emergência, ontem à noite, para decidir medidas a tomar tendo em vista impedir a nomeação de Augusto Vidal Leite para segundo comandante operacional distrital (CODIS).
Augusto Vidal Leite, de 32 anos, tem o posto de terceira classe – a mais baixa da classe de bombeiros – na corporação da Murtosa. É presidente da concelhia do PS da Murtosa e, segundo várias fontes contactadas pelo CM, a sua nomeação é vista como política.”

Note-se como o PS sacrificou um presidente de uma concelhia para servir o país e ajudar no combate aos incêndios. Parafraseando a melhor primeira-dama que o país já teve: foi feito tudo o que podia ser feito.

O choradinho centralista

Ficamos hoje a saber que, sem qualquer concurso público, a televisão Pública decidiu atribuir a organização do Festival da Eurovisão a Lisboa, alugando para isso um recinto privado: o MEO Arena. Não foi nenhuma surpresa. Afinal, apesar de todo o fingimento posterior, duas horas após a vitória de Salvador Sobral a própria RTP já tinha anunciado que a Eurovisão seria em Lisboa. Ficamos sem saber exactamente quanto vai custar o Festival organizado num recinto privado em Lisboa e quanto teria custado organizado noutras cidades, possivelmente utilizando recintos mais baratos pertencentes ao Estado, como é caso do Europarque. Ficou também por saber quanto pagará a cidade de Lisboa pelo privilégio de receber o Festival e quanto será pago pelos restantes contribuintes. Até a ultra-corrupta Ucrânia fez um concurso público para decidir o local de Organização do Festival. Mas em Portugal não precisamos disso. Nada de novo num país habituado a engolir faltas de transparência na utilização de dinheiros públicos (afinal, são só 30 milhões de euros) e a aceitar esta macrocefalia como algo normal. Nada mais seria de esperar de um país que vê a presidência da Câmara de Lisboa como um degrau natural para liderar o país (António Costa, Santana Lopes e Jorge Sampaio foram todos presidentes da CML e Marcelo Rebelo de Sousa chegou a ser candidato).

Lisboa tem o melhor sistema de transportes públicos, as melhores escolas, os melhores hospitais, uma companhia aérea e televisão pública dedicadas a servir os seus interesses, capta quase todos os organismos públicos, redacções de jornais, televisões e, por arrasto, boa parte das empresas privadas. Lisboa tem assim os melhores empregos e recebe a maioria dos eventos de renome. Lembrem-se disso da próxima vez que ouvirem o choradinho habitual sobre o valor das rendas no centro de Lisboa, o alojamento local, o turismo, o aeroporto sobrelotado ou a falta de estacionamento. Se os Lisboetas querem rendas mais baratas, então que apoiem a descentralização de organismos, serviços e eventos. Se não o fizerem não têm qualquer autoridade para se queixarem das rendas. Se não querem suportar rendas altas, podem sempre ir viver para fora dos 10 quilómetros quadrados à volta do Marquês onde acham que cabe todo o país.

Racionamento

“Durante 5 anos ninguém morreu” . Não, não é o início de um romance desaparecido de Saramago, é uma história real de uma aldeia da Roménia onde estive há uns anos. A economia centralizada de Ceausescu falhava muitas vezes em produzir os bens necessários (enquanto produzia outros em excesso). Era comum o racionamento de bens essenciais como o leite e cereais. Cada pessoa recebia uma senha e tinha direito a um certo montante de cada um dos bens. Quando morria deixava de ter acesso aos bens em causa. Excepto, claro, se ninguém soubesse que tinha morrido. Nesse caso, a família podia receber um pouco mais de leite e cereais do que o planeador central tinha alocado a cada um. Nas aldeias mais isoladas, onde era mais fácil de esconder estas situações, passavam anos sem que morresse uma pessoa.

Em Portugal, felizmente, não temos esse problema com bens alimentares que são abundantemente produzidos e distribuídos por cadeias privadas de supermercados. Em Portugal, como no resto do mundo desenvolvido, a produção e distribuição dos bens alimentares pela economia de mercado fez com que o problema se invertesse: hoje os excessos alimentares matam muito mais do que a fome, que é virtualmente inexistente na maioria dos países desenvolvidos.

Mas nem todos os sectores foram poupados a esse destino. Os serviços de educação continuam a ser geridos centralmente. Sem surpresa, estão também sujeitos a racionamento. E tal como os aldeões da Roménia que não morriam, há habitantes no centro de Lisboa que são encarregados de educação para muitas crianças, muitos dos quais sem qualquer relação familiar. Há notícias de problemas com moradas falsas nas principais escolas de Lisboa e pancadaria à porta das escolas no período de inscrições (as filas de racionamento na Roménia também eram frequentemente palco de confrontos e violência). Numa economia de mercado, a Filipa de Lencastre já teria aumentado a lotação ou teria sido construída uma escola ao lado para absorver todos os residentes que ficam sem lugar. Mas no sector da educação não há mercado: há estado. E enquanto os funcionários públicos do Ministério da Segurança Social, do INE e da CGD continuarem a poder inscrever os filhos nas melhores escolas públicas, enquanto, para todos os efeitos, tiverem direito aos seus colégios privados dentro da rede pública, ninguém mexerá uma palha para alterar o sistema e tirar incentivos à fraude.

Como não consigo culpar os aldeões romenos que não enterravam os seus mortos, também não culparei quem inventa moradas falsas para dar a melhor educação possível aos seus filhos. Eu faria o mesmo.

Cenas da vida autárquica a 3 meses das eleições

No Porto, Rui Moreira decide a criação de uma empresa municipal a 3 meses das eleições. Na reunião da Assembleia Municipal, o mais fervoroso defensor da ideia é um recente dissidente do PSD, agora apoiante de Rui Moreira. Esperemos então que Moreira, depois de limpar o seu nome no caso Selminho, seja capaz de dizer quem será a administração desta nova empresa municipal ANTES das eleições para evitar qualquer suspeita de compra de favores. Seja como for, decidir a criação de uma empresa municipal a menos de 3 meses de uma eleição (que teoricamente até poderia perder) nunca é boa ideia. Certamente que a criação da empresa municipal podia esperar mais 3 meses.

Em Lisboa, a Câmara Municipal atribui um contrato de outdoors a uma empresa criada 6 dias antes do fim do concurso. Para além de ter sido criada 6 dias antes das eleições, teve a imensa pontaria de num concurso de mais de 3 milhões de euros com ofertas confidenciais, conseguir oferecer mais 10 mil euros do que o segundo colocado. Atribuir grandes contratos a 3 meses das eleições nunca é boa ideia. Atribuir contratos publicitários levanta ainda mais dúvidas. Se por azar esses contratos são atribuídos a empresas criadas 6 dias antes e com imensa pontaria na oferta que fazem, então a necessidade de esclarecimentos é ainda maior. Para esclarecer qualquer dúvida, convém saber exactamente quem tem interesses nesta empresa vencedora e garantir que não são os mesmos com interesses na gestão da campanha de Medina. Por transparência, Medina devia também divulgar quanto paga a quem faz a gestão de imagem na sua campanha e que não está a ter “preço de amigo”.

Moreira e Medina são, até prova em contrário, pessoas sérias, e certamente não terão problemas em acabar com qualquer dúvida que possa existir em relação a estes dois temas.

Os robots que paguem a segurança social

Tenho visto por aí muitas pessoas, algumas até bastante inteligentes, a alimentar a ideia de que vem aí uma onda de desemprego por causa dos robots e que estes devem começar a pagar IRS e segurança social na proporção dos empregos que “roubam”. Não vou discutir esse argumento. Prefiro desafiar os defensores desta ideia a falar em casos concretos. Primeiro exemplo:

Este robot trabalha 52 semanas por ano, 7 dias por semana e 24 horas por dia. Um polícia sinaleiro trabalharia 46 semanas por ano e 35 horas por semana. Ou seja, o robot da imagem rouba o emprego a 5.4 trabalhadores. Contas por alto, cada polícia sinaleiro pagaria cerca de 7 mil euros por ano de IRS e segurança social. Concordamos então que cada semáforo deveria pagar 37800 euros por ano de impostos ao estado?

Voltarei amanhã para falar das bombas de água e dos aguadeiros.

Centralismo, mentiras e spin – A Telenovela da Agência Europeia do Medicamento

Comecemos pelo meio da história. A 29 de Abril, Álvaro Almeida, especialista em economia da saúde e candidato à Câmara Municipal do Porto, fez notar na sua página do Facebook que o governo tinha decidido candidatar Lisboa à Agência Europeia do Medicamento sem nunca ter ponderado a possibilidade de candidatar o Porto.

Ninguém presta muita atenção ao assunto e o próprio não voltaria a pegar no tema durante algum tempo (cinco dias depois foi referido aqui no Insurgente). A 15 de Maio, a propósito da realização do festival da Eurovisão, Rui Moreira toca no tema pela primeira vez. No princípio de Junho mais alguns comentadores juntam-se ao coro de protestos e é aqui que começa a parte engraçada.

1 de Junho: a presidente do Infarmed, situado em Lisboa, afirma que apenas Lisboa pode receber a Agência Europeia do Medicamento porque é necessária “infra-estrutura hoteleira enorme, um aeroporto com capacidade, escolas, jardins-de-infância de língua estrangeira”

7 de Junho: Augusto Santos Silva diz que “Dos estudos que realizámos e da ponderação que fizemos das nossas vantagens face aos concorrentes entendemos que Lisboa era a localização que oferecia mais condições” e que “a eventual relocalização da Agência Europeia do Medicamento em Lisboa terá benefícios para todo o país”

8 de Junho: Rui Moreira exige ver os tais estudos

13 de Junho: De acordo com todos os jornais, António Costa escolhe Lisboa para captar agência do medicamento apontando como razões “a existência de Escola Europeia, que só Lisboa poderá vir a ter” e pela “conveniência da proximidade do Infarmed”.

15 de Junho: As fracas justificações redobram os protestos expõem cada vez mais a mentira de que teria havido estudos. Desesperado, o PS decide utilizar a Lusa e o Diário de Notícias para lançar o spin: Costa sempre tinha preferido o Porto, mas depois da visita à actual sede a Londres tinha mudado de opinião. De acordo com a “fonte do governo” do Público “Foi explicado ao primeiro-ministro que Lisboa oferecia melhores garantias de segurança do que o Porto e que a opção pela capital portuguesa era a única que reunia condições mínimas de êxito da candidatura”
E é aqui que vale a pena voltar atrás ao dia 10 de Fevereiro, quando a decisão ainda estava a ser tomada. Nessa altura, a Renascença noticiava a tal visita a Londres que Costa falava. Noticia a Renascença antes da visita que “O Governo anunciou que está disponível para acolher a Agência Europeia do Medicamento, actualmente localizada no Reino Unido, e vai enviar segunda-feira a Londres o ministro da Saúde para a realização de uma visita àquele organismo.(…)Convictos de que Lisboa é a cidade mais adequada para esta relocalização, o Governo português irá transmitir os méritos da capital portuguesa e assegurar o empenho nacional”

17 de Junho (sim, dois dias depois!): Depois de garantir que havia estudos que declaravam Lisboa como a melhor opção, governo reabre o processo de candidatura à Agência do Medicamento

22 de Junho: Cinco dias depois começa-se a perceber a generosidade. Sai num jornal alemão o rumor de que a nova sede da Agência do Medicamento já tinha sido escolhida: Lille. Qualquer que fosse a cidade portuguesa candidata, a candidatura estaria perdida.

13 de Julho: Depois de ter garantido que só Lisboa poderia receber a Agência do Medicamento pela proximidade ao Infarmed, que só Lisboa tinha a capacidade aeroportuária, que só Lisboa tinha escolas internacionais e capacidade hoteleira, depois de garantir que havia estudos que apontavam Lisboa como melhor opção, depois de garantir que uma visita à actual sede tinha determinado que só Lisboa poderia receber a Agência Europeia do Medicamento, depois de se tornar claro que Portugal dificilmente teria hipóteses de ganhar o concurso, o governo decidiu que, afinal, a melhor candidatura seria a do Porto. Está completo o golpe de teatro.

Entretanto, faltam menos de 10 meses para o Festival da Eurovisão e a RTP ainda nem sequer lançou o concurso para decidir a cidade que o irá receber.