A estratégia da Irlanda (e repare-se que uma estratégia de um país não é a mesma coisa que uma aposta táctica de um partido que quer ser governo nesse país) de baixos impostos para as empresas só não é um sucesso para quem não quer ver (que são muitos por essa Europa fora) e foi conseguida através de vários mecanismos entre os quais uma taxa de IRS elevada aceite com alguma naturalidade pela população (que como qualquer europeu adora o seu estado social) como o custo de atrair as ditas empresas. A lógica era e é que seria preferível ter os empregos com IRS alto do que ver as empresas deslocadas para outros lados e ninguém se espantou quando veio a crise que o IRC permanecesse intocado enquanto a mão de obra viu as suas contribuições aumentarem (claro que só foi possível e fácil fazer esta decisão mesmo quando os “parceiros” europeus tudo tentaram para subir o IRC porque se trata de uma estratégia e não de uma táctica partidária).
A crise lá foi passando, o desemprego lá foi descendo e as multinacionais continuaram a assentar por aqui arraiais o que faz com que a Irlanda venha hoje a deparar-se com um problema da sua estratégia: não há mão de obra qualificada (em certos sectores como informática e saúde) para fornecer todas as empresas que querem fazer da Irlanda a sua porta para a Europa. A crise ajudou (e muito) a que os emigrantes dos PIGS viessem colmatar esse problema mas entretanto, se excluirmos os apoiantes do Syriza, essa torneira fechou e não há volta a dar: a elevada taxa de IRS (para padrões civilizados) é hoje um grande entrave à atracção de mão de obra especializada (que por o ser está normalmente bem instalada sem necessidade de emigrar).
Caso não rebente a bolha brevemente (isso é outro assunto) convém que se pense bem o que por aqui se vai fazer com a recuperação economica. A tentação é obviamente enorme para voltar ao despesismo (a função pública contará já este ano com uns aumentos valentes) agravado por as eleições estarem próximas mas se o modelo é para ser continuado a opção terá que ser para baixar os custos de mão de obra via redução das contribuições de quem trabalha. De outra forma os custos para as empresas não se podem justificar a longo prazo e a única coisa que terão na Irlanda é uma pequena força de trabalho que lhes permita fazer vendas a baixo IRC enquanto o trabalho especializado e centros de decisão vão para outras paragens Continue a ler “Problemas de primeiro mundo”