A falsa dicotomia de Rio para nos convencer da falsa necessidade de união nacional

“Em Portugal, terra imensa de onde não se vê para além da fronteira, naturalmente, tudo é patriótico. A bola, o festival da Eurovisão, a política. Não apoias a selecção? Não gostas do país. Não consegues ouvir os gemidos do baladeiro que vai “representar” a pátria ao palco festivaleiro? Ah, sacana, deves ser espanhol de segunda geração. Não concordas com a política desastrosa do governo, achas que falta estratégia e seriedade, não suportas o constante desmentir do dia anterior, a trapalhada, a patranha, o desnorte e o ridículo? Ui, só podes ser anti-patriótico. És contra o governo? És indecente. És oposição? Não fazes parte da solução. Do oito ao oitenta, sempre o mesmo esquema.

O Dr. Rio, esse arauto do respeito pela opinião dissidente e “líder” da “oposição”, logo tratou de explicar: com ele, todos acertam o passo pelo mesmo diapasão – o do Governo, naturalmente. Duas breves notas. Primeiro, o natural atavismo tão típico do patridiota que, à falta de argumento, apela ao último reduto que nos une a todos: a circunstância da nacionalidade. Quando se apela à pátria, precisamente pela altura do valor ao qual se apela, nada mais sobra acima do apelo. Não se discute, portanto, tal como o Doutor Salazar, aliás, explicou de forma consistente. Se se vende a acção como sendo pela pátria então quem não é pela acção é contra a pátria.

Nem todos, infelizmente, alcançam o vislumbre do truque de limitar todas as acções possíveis, e sobre os méritos das quais a discussão deveria versar, ao objectivo que todas visam alcançar. No caso, a salvação nacional. Em termos maquiavélicos, para ver se se percebe melhor: quem não concorda com o meio é acusado de não concordar com o fim. Isto como se apenas houvesse um meio, precisamente aquele que é proposto, para cada fim. Um embuste, pois claro, um embuste no qual cavalga sempre o ditador, seja ele académico como o Doutror Salazar, seja ele um venezuelano de fato-treino. O Dr. Rio e o Dr. Costa? Algures no meio. O primeiro, que fala alemão e percebe de contas, mais ao estilo vintage português com retoque linguístico, já o segundo, que engole as palavras e troca o passo, mais ao nível do fato-treino. Naturalmente, o povoléu prefere o segundo. Depois, segunda nota, a insuportável predisposição para a unanimidade. Por detrás da ideia do Dr. Rio estipulando que em tempos de cólera discutir política é anti-patriótico está o velhinho instrumento regimental romano da ditadura: quando as coisa apertam o chefe dita, e o que está ditado ditado está. Haverá limite à coisa, quer para um lado quer para o outro, isso é certo, crises maiores, outras menores, situações onde o ditado é a única solução, outras não. Mas até aí o linguarajar da crise do COVID tão bem propagandeado pelos avençados do comentário do jornal e da TV convida à noção de excepção democrática: estamos em guerra, dizem-nos todos os dias. Ora, se é guerra, se é salvação nacional, então aplica-se o ditado, pois claro.

A verdade é que não estamos em guerra nenhuma, estamos em crise, uma crise médica também, mas em crise não obstante. Como sempre, aliás. E saídas para a crise discutem-se, não se ditam. Compreender isto é a diferença entre os democratas e os outros, sejam eles académicos contabilistas ou trampolineiros de fato-treino. O PSD, infelizmente, parece estar a revelar uma certa capacidade profética nos seus presidentes: Passos adivinhou o Diabo, Ferreira Leite a suspensão da democracia. Resta saber se o Dr. Rio adivinhou a ditadura. Por ele, está bem de se ver, se não for a ditadura será coisa parecida. Um bloco central de salvação nacional, imagina-se. E quem for contra a ideia só pode ser anti-patriótico e contra a salvação do país. Uma espécie de fascista, naturalmente.”

Nuno Lebreiro aqui.

Contexto: “Rui Rio acusa militantes do PSD que criticam Governo de falta de ética e patriotismo”

4 pensamentos sobre “A falsa dicotomia de Rio para nos convencer da falsa necessidade de união nacional

  1. Rão Arques

    O Dr. Ru Rio está com o governo de Costa a qualquer preço?
    Com quem sabe do oficio da trafulhice, e desta vez disse a verdade da mentira.
    Que não haverá austeridade depois do Cofidis, disse ele, mas abano-lhe a cabeça para deixar cair que nem é preciso ser apenas depois, porque tendo começado o trabalhinho antes, já esta a tratar de nos fecundar nos durantes.
    É caso para dizer, rio abaixo, enchente de destroços.

  2. A bem da nação

    Não gostam não votassem nele! Não sabiam ao que iam? Justiça lhe seja feita, sempre disse ao que ía.
    Ai o PSD(2) foi tomado, o partido é maior que o seu líder, existe mais PSD(2) e gente que pensa, pois uns tipos tipo morgados e coisas parecidas. Meus amigos mudem de partido, ou criem um novo. Mas isso dá uma trabalheira e trabalhinho é coisa que a gente não gosta, o que sabemos é dar umas aulinhas e criar uns qualquer coisa think, … Já dizia o outro homens trapo… Estou tão indignado. Que se FD o psd

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Imagem do Twitter

Está a comentar usando a sua conta Twitter Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.