Mário Centeno em 2011 e 2015: o neoliberal

Adivinhe quem disse:

O Estado paga muito mais do que os privados às pessoas com menos qualificações e isto distorce tudo. Incluindo o próprio Estado, que não consegue atrair os bons quadros porque não lhes paga o suficiente, e não lhes paga o suficiente porque arrasta o peso daquela mole de pessoas não-qualificadas a quem paga acima do mercado.

É impossível instalar uma fábrica no interior de Portugal com câmaras municipais que são as maiores empregadoras, com programas operacionais disto e daquilo, com subsídios de desemprego… Não há maneira de concorrer com isto.

Quem foi o perigoso neoliberal que disse isto? Mário Centeno. Antes de ser político, antes de ter amarras políticas, em 2011. E agora um conjunto de 3 notícias divertidas de 2015.

2 pensamentos sobre “Mário Centeno em 2011 e 2015: o neoliberal

  1. ATAV

    Finalmente!!! Estava a ver quando é que alguém pegava nisto para demonstrar como há imensas fraudes intelectuais aninhadas em instituições que supostamente estudam economia de forma desapaixonada.

    Como diz o post, a especialidade do Centeno era o mercado laboral. E o quê que a “pesquisa” dele apontava? Que a liberalização era benéfica para os trabalhadores porque ao despedir facilmente, contrata-se facilmente. Na realidade uma liberalização excessiva baixa salários, aumenta o desemprego durante recessões, desincentiva o investimento em qualificações e aumenta o poder dos patrões sobre os seus trabalhadores. Ah! E os contratos a prazo raramente são convertidos em contratos sem termo. Mas é claro que ele nunca viu isso ou se viu não achou relevante. Ups!!!

    Claro que ele também defende outras coisas:

    A redução da TSU das empresas para aumentar o emprego (mas esquece-se que isso vai deixar um buraco na segurança social que os trabalhadores vão ter de pagar com cortes nas pensões);

    A baixa da TSU dos trabalhadores que basicamente é uma privatização de parte da Segurança Social (aqui ele esquece-se que os prestadores privados levam comissões imensas nos descontos das pessoas reduzindo-lhes a pensão);

    Um complemento salarial para baixos salários como o dos Estados Unidos (mas não refere que isso também pode incentivar o pagamento de salários mais baixos).

    Enfim, mais esquecimentos certamente…

    E há muitos Centenos distribuídos pelo FMI, Banco Mundial, BCE, Fed, BdP, etc, etc, etc…

    E nota-se exactamente a mesma coisas em muito outros assuntos. A ver:

    Ainda me lembro quando se dizia que os acordos de livre comércio iam enriquecer-nos a todos. O Trump foi eleito e, voilá, descobriu-se subitamente que ficavam muitos para trás que perdiam tudo, que as cláusulas ambientais e laborais desses acordos eram letra morta e que o mecanismo ISDS era basicamente um tribunal para multinacionais ricas coartarem o poder regulatório dos estados. Ups…

    A Lei Laboral queria-se flexível. Para benefício dos trabalhadores, obviamente. Agora sabe-se que isso beneficia principalmente os donos das grandes empresas. Ups…

    O salário mínimo aumenta o desemprego porque reduz as contratações. Na prática, aumentos moderados do salário mínimo, são uma boa forma de diminuir as desigualdades e afecta pouco o emprego ou as horas trabalhadas. Ups…

    A negociação colectiva só era boa quando era dentro da mesma empresa. Se fosse sectorial favorecia os incumbentes e afectava os novos concorrentes. Vai-se ver repara-se que se uma empresa aumentar salários e os concorrentes directos não, essa empresa fica em desvantagem. Logo, todas as empresas têm um incentivo para esmagar salários. Ups…

    Baixar os impostos directos, liberta capital que será reinvestido na economia aumentado a receita fiscal (trickle-down economics). No mundo real baixar impostos directos apenas aumenta a poupança dos ricos que têm uma propensão marginal a consumir menor que a dos pobres (leia-se estimula menos a economia). Ups…

    Tudo isto já foi defendido por nobres “académicos” que parasitavam as instituições supracitadas e limitavam-se a debitar a politica que gostavam esquecendo-se de mencionar os efeitos nefastos delas.

    Hoje em dia está na moda impingir a variante do trickle-down economics que promove a substituição dos impostos directos por indirectos alegando que “distorcem” menos a economia. Claro que isto é basicamente transferir o fardo fiscal dos ricos para os pobres.

    Vira o disco e toca o mesmo. Fico à espera do “ups!” colectivo dos economistas que estão no BCE, OCDE, FMI, etc…

  2. ATAV

    Apesar da minha longa diatribe contra economistas como o Centeno, reconheço que existem muitos economistas em instituições internacionais e nacionais que estudam os assuntos de forma séria e advogam uma determinada politica mencionando os possíveis efeitos nefastos. Economistas como o Olivier Blanchard, por exemplo…

    E, mais importante que tudo, que acertam… Nada de encolher os ombros e dizer “Ups, desculpem lá. Na próxima acertamos”

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