O País das Vacas Voadoras

No Sábado passado, o jornal Expresso destacava na capa da ediçaõ de Economia um anúncio que estava por dias de um “Mega-Investimento Aeronáutico” (fonte).

O jornal Expresso desenvolvia (fonte):

Está por dias o anúncio de um grande investimento no sector da aeronáutica em Portugal que poderá vir a igualar o que a Embraer já realizou desde que se instalou em Évora e que já soma cerca de €400 milhões. Vai ter lugar no Norte do país, não muito longe da cidade do Porto, e deverá gerar perto de 400 empregos. O Expresso sabe que há já vários anos que Portugal perseguia este projeto, que foi disputado por vários países europeus, sendo que, na reta final, a escolha foi decidida em desfavor de dois concorrentes do Leste. Espanha também chegou a estar na corrida.

“Poderia igualar a Embraer”, “será da ordem de 400 milhões de euros”, “deve gerar 400 empregos”, “disputado por vários países europeus”, “perseguido há vários anos” – a claque socialista estaria a salivar.

Eis que, a notícia deste “mega-investimento aeronáutico” é apresentada hoje assim pelo mesmo jornal:

Não deixando de saudar investimento, acho que existem aspectos dignos de nota sobre a comunicação deste “mega-investimento aeronáutico”:

  • Em vez dos 400 milhões de euros anunciados pela notícia de Sábado, são apenas 40 milhões (apenas dez vezes menos – algo que o Expresso omite, apenas destacando “como o Expresso antecipou”).
  • Em vez dos 400 empregos, são 240… sendo que empregos qualificados serão uns numerosos 30 – sim, trinta!
  • Com este volume de investimento, o mais provável é que esta unidade em Portugal irá fabricar… assentos de avião (fonte), essa grande tecnologia aeronáutica de ponta!

Anyway, a claque socialista já tratou de espalhar as boas novas pelas redes sociais, mas convem colocar estes 40 milhões em perspectiva: usando dados oficiais da OCDE, só a Irlanda entre 2015 e 2018 obteve de investimento estrangeiro directo cerca de 280 mil milhões de euros, algo como cerca de 192 milhões de euros de investimento estrangeiro por dia, todos os dias, durante quatro anos. Já agora, no mesmo período, Portugal recebeu cerca de 27 mil milhões de euros (cerca de um décimo da Irlanda), mas mesmo este valor equivale a cerca de 19 milhões de euros por dia – o “mega-investimento aeronáutico” acima referido representa dois dias de investimento estrangeiro.

Coloquemos ainda os 40 milhões de euros noutras perspectivas. Por exemplo, apenas ontem, os contribuintes acabaram de perder um valor equivalente na Caixa Geral de Depósitos, o banco público que é de todos nós (fonte):

Entre 2000 e 2015, o mesmo banco público que pertence a todos nós, a Caixa Geral de Depósitos, perdeu 1200 milhões de euros em empréstimos de risco  – em benefício com certeza da sociedade em geral (fonte).  Este valor, daria para fazer 30 investimentos de 40 milhões.

Sempre é verdade. Em Portugal existem vacas voadoras.

14 pensamentos sobre “O País das Vacas Voadoras

  1. E nem estes tinham vindo para cá se o governo de Sócrates não tivesse apostado forte e feio no melhoramento das infraestruturas de Portugal que estão a permitir agora acomodar empresas altamente dependentes de internet de alta velocidade, rodovias modernas, qualidade e fiabilidade da rede eletrica, etc.
    E se já houvesse TGV e aeroporto novo, ainda mais empresas podiam vir para cá. Só os tacanhos de direita não conseguem ver isso.

  2. Filipe Bastos

    Sem dúvida, Manuel: e depois do TGV e do aeroporto fazíamos mais dez estádios, desta vez todos olímpicos, vinte autoestradas e uns trinta aterros na Cova da Beira. Tudo, claro, obra da Mota-Engil e do Grupo Lena, usando a tecnologia Cagalhães da JP Sá Couto.

    V. até parece uma pessoa razoável; como pode louvar esse trafulha, mafioso, ladrão, aldrabão, canalha, FDP, que enterrou o país e saiu impune; o mais reles verme que já rastejou deste esgoto partidário?

  3. “E se já houvesse TGV e aeroporto novo, ainda mais empresas podiam vir para cá. Só os tacanhos de direita não conseguem ver isso.”

    Ou deslocalizar mais facilmente. O comboio é o avião pode ir cheio e chega vazio.

  4. As realizações, em termos de infraestruturas, feitas nos governos de Sócrates não podem ser confundidas com o alegado mau caráter deste governante,
    Objetivamente Portugal atingiu um nível de excelência comparável com a Europa Central, somente após as legislaturas em que Sócrates foi 1º ministro.
    Só a partir de meados de 2011 foi possível instalar em Portugal empresas estrangeiras de elevado nível tecnológico, tipo fabricas da IKEA, fabricas de componentes para automóveis e aviões, etc.
    Não sei se Sócrates é trafulha e mafioso como foi largamente sugerido pelos média, mas mesmo que seja, não devemos misturar isso com a sua obra.
    De resto, tudo o que foi feito nas suas legislaturas foi fortemente sugerido e apoiado por Bruxelas, que viam com maus olhos a existência de uma zona da UE pouco atrativa para o investimento estrangeiro, a ficar para trás…

  5. Uma verdadeira vitima do imobilismo pátrio!
    Um homem que, todos temos os nossos defeitos (roubava e deixava roubar), fazia e fazia acontecer … veja-se o TGV, símbolo de tudo aquilo que não o deixaram realizar, que em velocidade e conforto transportaria as próximas carradas de emigrantes, forçados a procurar onde desenvolver o seu potencial já que por cá o mercado estará limitado à carreira de coveiro. Pela inversão da piramide etária, única de futuro promissor, já que a de apanhar a bosta das vacas voadoras também vai deixar de ser atractiva pois previsivelmente procurarão outras paragens ainda não exauridas.

  6. Ó Sr, Nuno, já agora também podia defender que deixássemos de ter voos diretos de Lisboa para Paris, Berlim, Copenhaga, Roma etc. Sempre podíamos ir apanhar o avião a Madrid, no comboio cá do burgo, em bitola peninsular…
    O TGV nunca foi concebido para responder a necessidades de transporte de passageiros. Serve para transportar mercadorias.
    Consegue transportar o equivalente a 30 ou 40 camiões semi-reboques em 48 horas de Sines a Berlim, e vice versa, com 2 tripulantes. A opção camião necessita 60 a 80 tripulantes e leva mais do dobro do tempo, mesmo indo sempre em autoestrada.
    O comboio elétrico é uma opção estrondosamente mais limpa que a rodovia.
    Eu sei, há o lobby dos transportadores terrestres de e para o centro da Europa, e mais o lobby dos vendedores de camiões, e talvez até haja um deputadozinho a defender os reparadores de camiões na Assembleia da República.

  7. A maior transportadora de contentores por mar, a MSC, comprou a CP Cargo portuguesa em 2015.
    Detentora dos maiores navios porta-contentores do mundo (19.000 contentores por barco) faz, entre outras, a rota China – Mar do Norte com paragem em Sines.

    É mais que sabido que, quando precisar de enviar contentores para Paris ou Lyon, leva-os para Badajoz num velho comboio da CP e lá carrega-os no TGV espanhol. Porca miséria!

    Aqui o Insurgente acha isso naturalíssimo…

  8. “Só a partir de meados de 2011 foi possível instalar em Portugal empresas estrangeiras de elevado nível tecnológico, tipo fabricas da IKEA, fabricas de componentes para automóveis e aviões, etc.”

    Não mostre a sua ignorância assim em publico. Sabe que nos anos 80 a fábricas de componentes e montágem para automoveis Renault fizeram o Governo Português ter quotas de importação a limitar os outros fabricantes? estamos a falar dos anos 80, e já ouviu falar da autoeuropa?

  9. Ó Luky, lembro-me perfeitamente que em 1980 foi o reino dos bips! Quando a fabrica de Citroen 2CV tinha falta de guarda-lamas pra prosseguir a montagem, mandava um bip ao fornecedor. Ele já sabia do que se tratava.
    Já na altura as empresas sofisticadas beneficiavam das nossas infraestruturas de bips…

  10. André Miguel

    Manuel, não escreva sobre o que não conhece.
    Se a MSC quiser levar contentores para Paris ou Lyon faz por via marítima desde Sines para Le Havre, demora 2 dias e custa menos de metade do que levar por via terrestre.

  11. Tiro ao Alvo

    Decididamente o Manuel Galvão não sabe ler. Sabe escrever, mas não sabe ler.
    Cheguei a pensar que o Manuel Galvão era pseudónimo do Sócrates, nosso ex primeiro. Mas admito que estava enganado.

  12. Galvão,

    “O TGV nunca foi concebido para responder a necessidades de transporte de passageiros. Serve para transportar mercadorias.”

    Sabe que TGV significa Train de Grande Vitesse, não sabe? Em lado nenhum os comboios de velocidade transportam mercadorias.

    A burrice de um socialista ou a assumpção de que todos os outros são burros leva a dar um novo cunho à expressão “só em Portugal é que…”.

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