O Berardo Expiatório

Quem vir as inúmeras manifestações públicas de virtude a vilipendiar Joe Berardo poderia facilmente ser induzido em erro: Até parece que a Caixa Geral de Depósitos não era o braço armado de sucessivos governos para financiar operações de pessoas amigas do regime. Até parece que os créditos concedidos pela CGD a investidores, para comprarem ações da PT e do BCP, não tinham como propósito fazer pender as decisões das Assembleias Gerais dessas empresas num determinado sentido, pretendido pelo governo (e por Ricardo Salgado). Até parece que os administradores da CGD Santos Ferreira e Vara não se tornaram administradores do BCP depois dos créditos concedidos aos novos acionistas.

O grau de demagogia relativamente a Berardo atinge o cúmulo nas declarações do Primeiro-Ministro, que se manifesta muito indignado pela CGD ficar sem receber a totalidade de um crédito para compra de ações tendo apenas estas últimas como garantia (e isto não é totalmente verdade, pois as garantias foram reforçadas depois), quando isso era a prática corrente do banco na altura e estando a tutela do banco sob um governo do seu partido e de que ele próprio tinha feito parte até umas semanas antes. A lata estanhada do PM é incrível, quase igualada pelo grau de hipocrisia das declarações de José Miguel Júdice, que “ameaça” devolver a condecoração que recebeu se Marcelo não retirar o grau de Comendador a Berardo. Ainda assim o populismo demagógico mais miserável veio de Paulo de Morais, que sugeriu que Berardo enriqueceu à custa do crédito que potenciou esta operações desastrosa para todos os envolvidos, como se tivesse desviado o dinheiro.

Não há inocentes nesta indignação colectiva. Todos os partidos deram para o peditório. O que é extraordinário, tendo em conta que a dita indiganação ajuda a atirar areia para os olhos dos portugueses e esconde as responsabilidades do PS e de vários membros do atual governo num periodo que foi altamente lesivo dos interesses dos contribuintes. Mas nada disso interessa. Todos a bater no peito: Queimem o porco capitalista na fogueira! Malandro! Gatuno! O que interessa a carga fiscal mais elevada de sempre quando o malandro do Berardo conseguiu um crédito sem aval pessoal e não foi morar para debaixo da ponte?

11 pensamentos sobre “O Berardo Expiatório

  1. isso era a prática corrente do banco na altura

    Era a prática corrente não somente da CGD mas também de outros bancos, como ainda ontem ouvi dizer e já tinha visto a Maria Teixeira Alves do blogue Corta-Fitas escrever.

    Ou seja, tratou-se de um crédito perfeitamente de acordo com as práticas correntes do sistema bancário português nessa época.

    O que quer dizer que não terá havido grande vantagem em Berardo ter feito esse crédito junto da CGD – se a CGD lho tivesse recusado, ele ter-se-ia dirigido a outro banco qualquer e tê-lo-ia obtido.

    Não terá, portanto, havido intromissão política – houve um crédito, imprudente é certo, mas feito de acordo com o que era costume à época, por um banco que se encontrava em concorrência direta com outros bancos que também faziam créditos da mesma forma imprudente.

    Que, aliás, não era tão imprudente assim – à época acreditava-se que os bancos eram galinhas de ovos de ouro, instituições de total solidez que davam dividendos chorudos e que jamais poderiam tombar.

  2. Lavoura
    Não é verdade que isso fosse pratica corrente em 2007 . Isso foi pratica corrente sim , mas antes do “crash” das dot.com em 2000 , onde todos os bancos foram apanhados e prejudicados com essas praticas . A partir daí os bancos aprenderam que não podiam fazer isso.
    A sua argumentação visa desresponsabilizar a tomada de poder no BCP por uma determinada matilha que já detinha todo o poder na chamada comunicação social, todo o poder no sistema judicial (ministerio publico e serviços secretos) , todo o poder nas comunicações e claro o poder politico a que só faltaria todo o poder financeiro.

  3. Castanheira,
    eu prefiro acreditar na Maria Teixeira Alves, pessoa que já mostrou (em diversos posts) conhecer bem o sistema económico-financeiro português, e acreditar naquilo que ainda ontem ouvi dizer na televisão, do que acreditar em si, que nem sei quem seja.
    É claro que as teorias da conspiração, tipo Sócrates conspira com Salgado conspira com Berardo conspira com CGD, são uma coisa muito atraente e sedutora. A verdade mais simples é que, no capitalismo financeiro após a década de 1980, fazer um “leveraged buy-out” a uma empresa (comprar uma empresa oferecendo essa empresa como garantia) é uma coisa perfeitamente legal e nada excecional. Nem Berardo nem a CGD cometeram qualquer ilegalidade. E, se fizeram algo de imoral, é porque o sistema o permite.

  4. “a tomada de poder no BCP por uma determinada matilha”

    Castanheira parece achar que essa matilha é de alguma forma pior do que a que lá estava anteriormente.

    Sabido é que o BCP pertencia a uma matilha que praticou diversas ilegalidades, que foram descobertas e condenadas pelo Banco de Portugal, o qual interditou diversos administradores do BCP de voltarem a exercer funções no sistema bancário. Essa é que é a matilha.

  5. Rão Arques

    Todos em coro:
    Se Berardo ainda não somos todos nós estamos muito bem representados nas altas esferas a quem serviu e de que se serviram enquanto chapinhavam na lama que continuam a ocupar.
    Os que agora o condenam, ao contrário do que já ouvi, não chegam nada tarde para a crucificação.
    Novas peças se perfilam para saltar para o tabuleiro dos mitos e vedetas que sempre se multiplicam e atropelam no chiqueiro.
    Não tarda que nada nova remessa prestes a desembarcar serão bem acolhida como heróis no habitual lamaçal até caírem em desgraça graças aos equilibrismos dos bonecos de barro da mesma estirpe.

  6. Buiça

    “Não terá, portanto, havido intromissão política – houve um crédito, imprudente é certo…”
    AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH

    Incrível a quantidade de gente capaz de defender o indefensável para agradar à quadrilha do seu clube…

    Uma coisa é a nossa “justiça” não estar feita para condenar alguém que consiga pagar um bom advogado, outra coisa é fazermos de conta que depois de tudo o que veio a lume da queda do BES, operaçao marquês e outras deixa margem para alguma dúvida sobre a coboiada dos anos Socrates… e que já vinha desde o “pântano”.

    No caso do assalto ao BCP a coisa é do mais corriqueiro que pode haver. Pulhíticos o que querem (além da sua comissão paga na conta de amigo a designar) é controlar a narrativa mediática e entre patrocinios, eventos e publicidade o BCP tinha o maior orçamento de todos, mas o verdadeiro prémio é o monopólio total depois de já controlar cgd e bes. Os media dizem o que o dono mandar e com accionistas falidos o unico dono que têem é quem os sustenta com publicidade. Os exemplos abundam, mas basta ver quantos (e quais) pasquins faliram ou deixaram de fazer jornalismo quando o assalto foi consumado. Ou os episódios do Bes ameaçar cortar toda a publicidade do grupo Impresa quando o assalto a mais esse grupo falhou e Balsemão teve coragem para resistir (sem essa zanga admito que nem o bes caísse nem soubessemos hoje um décimo do que veio a lume).
    Do lado dos arquitectos Salgado e Mexia, creio que não vale a pena explicar as intençoes, são demasiado óbvias.

  7. Rão Arques

    O mais revoltante é como toada a casta de finórios que utilizaram o homem para jogatanas de interesses próprios ou de seita se mostram agora tão indignados.
    Berardo sendo um rural de raíz e vivência não é parvo e não se deixou enganar por pacóvios urbanos engravatados sem salvaguardar a própria pele dos sanguinários predadores que o cercavam.
    O à vontade que demonstra resulta seguramente dos podres que conhece de tanta gente importante.
    Até o atualíssimo indignado Costa lhe renovou o contrato das artes bem recentemente.
    Fala Joe e embrulha todos esses gajos numa quente e fumegante caldeirada.

  8. O Luis Lavoura até tem razão quando diz que o Jo Berardo não fez nada de ilegal e, nem sequer, de imoral : fez o que faz a generalidade dos empresários que colocam os seus patrimónios em sociedades anónimas e as financiam com recurso a empréstimos bancários para fazerem os seus negócios !
    Os ataques em curso contra Jo Berardo, um homem de negócios privado, desviam as atenções do que é essencial : as politicas económicas dos governos.
    Os ataques contra Jo Berardo contribuem, intencionalmente ou incoscientemente (« idiotas » de direita úteis … à esquerda !), para a descredibilização da iniciativa privada e, no fim de contas, trazem água ao moinho de todos aqueles que defendem que é necessário que o Estado intervenha para limitar a liberdade dos agentes económicos.

  9. A história do capitalismo está repleta de casos de investimentos e financiamentos falhados. O risco, o erro e o prejuizo são inseparáveis dos mercados livres. O essencial é que é a liberdade económica que faz com que os efeitos positivos dos investimentos e financiamentos privados superem largamente as consequências negativas das operações falhadas.
    O que deve ser questionado pelos cidadãos não é o que faz cada um dos investidores e/ou financiadores privados mas antes o que são as politicas públicas dos governos.
    O que está mal não é o Jo Berardo ter-se envolvido em negócios visando a tomada de controlo accionistico deste ou daquele banco.
    O que está mal é terem existido governos que procuraram (e muitas vezes conseguiram) envolverem-se em operações que deveriam ter sido exclusivamente privadas, fossem elas quais fossem.
    O que está mal é esses governos terem utilizado um banco do Estado para essas acções.
    O que está mal é haver um grande banco, por sinal o maior, que é do Estado !
    O Jo Berardo é apenas uma árvore que, pelos vistos, não deixa ver a floresta !

  10. O Jo Berardo é um provinciano de origem humilde, poucos estudos, emigrante, fez pela vida, não fala bem português, etc …
    Tudo aquilo que as nossas “elites urbanas” menosprezam e snobam … Encontraram um bode expiatório a jeito para exibirem boa consciência e moralismo …
    Nojento !!

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