Muito bom o texto do Tiago Dores, deixo aqui um excerto:
Entretanto, amanhã comemora-se o 25 de Abril. Tempo para celebrar mais uma grande conquista da democracia portuguesa: a proposta para legalizar os convites para viagens feitos por entidades privadas a titulares de cargos públicos, elaborada pela Comissão Eventual para o Reforço da Transparência. A partir de agora é tudo à balda em termos de ofertas de empresas privadas aos políticos. Tanto é que depois da paralisação dos motoristas de matérias perigosas, os próximos a avançar para a greve vão ser os testas-de-ferro: não tarda deixa de haver trabalho para estes clássicos intermediários de negociatas obscuras. A ideia que dá é que esta nova lei é uma espécie de Simplex para a aldrabice. É um Trafulhex. Ou um Moscambilhex, vá. (…)
Mas atenção. Uma consulta mais atenta a esta proposta revela grande visão dos nossos parlamentares. Hoje em dia quando uma empresa paga a um político está a fazer lobby. À medida que o Estado toma conta de uma parte cada vez maior da economia o lobbying aumenta porque as empresas ficam mais dependentes do Estado para fazer negócios. Com as empresas mais dependentes do Estado para fazer negócios só as que têm capacidade financeira para fazer lobby sobrevivem. Resta pois um Estado gigante e meia dúzia de empresas que fazem lobby. Ao fim de algum tempo as relações entre o Estado e estas empresas são tão intrincadas que já só se vive de lobbying. Na prática, deixa de haver lobbying. É só tudo o Estado. Calhando está-se a legislar com este cenário em perspectiva.
Ao que parece, esta proposta de lei vai contar com a abstenção do PSD e com o voto favorável do PS e PCP. O que no caso do PCP é bastante compreensível. O partido tem mesmo de aceitar todas as viagens que lhe forem oferecidas. Caso os comunistas tivessem de pagar do próprio bolso cada vez que revisitam a União Soviética estalinista não conseguiam financiar o partido nem com uma Festa do Avante bi-diária. É que parecendo que não estas viagens dos comunistas ao reino da utopia acabam por sair bem caras. E ironicamente quem paga o preço mais alto é quem não embarca nelas.
Mudem-me as condições que eu mudo as regras:
“O ministro das Finanças disse esta quarta-feira que, sem reduzir a dívida pública, o país não tem futuro, reforçando que, após a descida da dívida em percentagem do PIB, a estratégia é começar a reduzir o valor em termos nominais.”