Como Marcelo tramou o novo partido Iniciativa Liberal

Todos sabemos que para partidos pequenos uma das coisas mais importantes são as redes sociais. Apesar de em Portugal a grande maioria das pessoas receber informação política pela TV, e não pelas redes sociais, como partidos pequenos não têm acesso a aparecer na TV (tirando o novo partido do velho Santana Lopes que é levado ao colo), as redes sociais são fundamentais.

O PAN, por exemplo, só conseguiu entrar no Parlamento depois de vários anos a crescer e a crescer nas redes sociais. O PAN é o segundo partido com mais seguidores nas redes sociais (o que tem mais no Facebook) e já conta com um deputado, mas apesar disso não há comunicação social nos seus eventos imagine-se. É por isso que as redes sociais são tão importantes para partidos fora do sistema.

Acontece que o novo partido Iniciativa Liberal, liderado pelo Carlos Guimarães Pinto, é o que mais tem vindo a crescer nas redes sociais. A Iniciativa Liberal é até o quinto partido que tem as contas oficias do partido com mais seguidores nas redes sociais (consultar aqui o foxp2) e tem liderado no engagement dos posts partidários (ver aqui). Ainda hoje saiu uma notícia no DN onde se dava conta que:

O Chega e o PAN, no Facebook, e o Iniciativa Liberal, no Twitter e no Instagram, são os projetos políticos com mais eficácia nas redes. Têm a melhor relação entre o número de seguidores e a quantidade de partilhas, gostos e comentários.

Aliás, é exclusivamente nas redes sociais e online que o partido Iniciativa Liberal, que tem cerca de um ano de vida, aparece (penso ter sido mencionado na Tv a correr apenas duas ou três vezes num ou noutro programa). Convém relembrar que o Chega, ao dia de hoje, ainda não é partido oficializado.

Agora vamos perceber como, com ou sem intenção não sabemos, o Presidente Marcelo tramou a Iniciativa Liberal:

Ponto 1: A partir da publicação do decreto que marca a data da eleição os partidos deixam de poder fazer propaganda política através de publicidade comercial, incluindo nas redes sociais. Isto prejudica bastante os partidos pequenos obviamente, já que os grandes passam o tempo a ser anunciados na Tv de forma gratuita, têm representantes em tudo o que é programa político na TV e o mesmo acontece nos jornais. Conclusão, quanto mais cedo o Presidente anunciar a data mais ajuda os partidos grandes/com apoio da Tv e mais prejudica os restantes.

Ponto 2: A Lei diz que o Presidente tem de marcar as eleições 60 dias antes, isto é, dois meses. O Presidente Cavaco marcou as últimas dois meses e uma semana antes. O que faz o Presidente Marcelo ? Marca Três meses antes. São cerca de três/quatro semanas “roubadas” aos partidos fora do sistema, condicionando assim fortemente a campanha.

Ponto 3: Já toda a gente sabia que as eleições europeias eram dia 26 de maio. O Conselho da UE fixou há um ano que as datas das eleições teriam de ser entre 23 e 26 de Maio e até o próprio Marcelo já tinha referido numa nota em Dezembro que seria dia 26 em Portugal.

Conclusão: Se já se sabia o dia das eleições há vários meses, porque motivo o Presidente marcou as eleições com tanta antecedência? Para evitar anúncios de obras do Governo não foi de certeza, porque todas as semanas vemos novos casos. Ora, como foi referido nesta lúcida análise no Público ao trabalho de Marcelo, “Mais do que garantir a estabilidade governamental, ele (Marcelo) procura reforçar os partidos políticos tradicionais”.

Perante tudo isto, não me custa acreditar que isto tenha sido feito para proteger os partidos tradicionais. Olhando para os dados das redes sociais, quem sai mais prejudicado com isto é obviamente o novo partido Iniciativa Liberal (e olhando para as últimas semanas o movimento Chega que ainda não é partido, mas numa escala menor).

Não saberemos se intencionalmente ou não, mas a verdade é que na realidade Marcelo tramou em parte o crescimento da Iniciativa Liberal antes das eleições, ao condicionar fortemente as suas actividades nas redes sociais. Quem sai protegido? Os partidos tradicionais.

6 pensamentos sobre “Como Marcelo tramou o novo partido Iniciativa Liberal

  1. Rão Arques

    E lá do alto desabou mais um peregrino sermão.
    Mal está um país quando as altas esferas reclamam e precisam de
    uma lei que no minimo garanta decência, compustura e moralidade nas condutas dos seus mais graduados agentes.
    Pode concluir-se que um presidente que faz gerência desse tipo de reclamação não passa de um mero cicerone que mostra e representa a mais deplorável e corrosiva elite da sociedade aquietada em desengonçado pedestal.
    Se os assaltantes do poder justificam os abusos que praticam com maus exemplos antigos acaniçado vai o som da banda com o passo trocado.
    Deve ser lembrado que a água apenas se mostra adversa quando se abrem as torneira de enchente que nos inunda mal cheirosa com os boiantes agora descarregados
    Aumenta a dificuldade em digerir tal figura de plástico pelo que é premente e inadiável martelar sem dó no senhor pantominas a quem não chegam Is precisos para rigorosa classificação.. Insipido, inodoro, insalubre, inconsequente, inerte, inútil, insidioso, insignificante, insuportável.
    E para esse heroico batalhar só as redes sociais dão abertura sem armadilhas nem barreiras.
    Marcelo na proa do batelão à deriva com Costa no olho do furacão que lhe mete medo.

  2. AB

    É tramado, mas quem ainda não ouviu as propostas do IL não será votante potencial. Contem com o meu voto.

  3. Marcelo procura reforçar os partidos políticos tradicionais

    Essa não me parece ser uma política errada, tendo em vista, por um lado o esfrangalhamento do espaço político que se verifica noutros países (por exemplo em Espanha, aqui mesmo ao lado), tornando impossível a formação de governos estáveis, por outro lado o perigo do surgimento de partidos nacionalistas e xenófobos, que ainda não existem em Portugal mas já são abundantes noutros países.

    A Iniciativa Liberal é somente um dano colateral da estratégia de Marcelo.

  4. “A partir da publicação do decreto que marca a data da eleição os partidos deixam de poder fazer propaganda política através de publicidade comercial, incluindo nas redes sociais”

    Eu desconheço por completo a lei, mas isto parece-me absurdo (para ser simpático). Por que carga d’água um partido político deixa de poder fazer publicidade paga durante as eleições ?

  5. Jota

    Os partidos tradicionais do Sistema receiam as novas vozes e alternativas, por isso as tentam calar. Os media tradicionais, maioritariamente condicionados, simplesmente as ignoram. Todos eles, incluindo o PR, o Papa das Selfies, falam do Populismo que na mente deles apenas chagarão de outras forças políticas mas ignoram o que já existe no Sistema e que apenas eles pensam fazer correctamente, o deles, “bom” populismo. Nada mais errado, é outro nome para caruncho da democracia.

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