Não deixa de ser profundamente irónico que um governo de frente de esquerda enfrente bastantes mais greves do que o governo liderado por Passos Coelhos que na altura teve de executar um duro programa de ajustamento. Esse programa, recorde-se, foi solicitado, negociado e assinado pelo governo do partido socialista, na altura liderado por José Sócrates, em resultado da situação de bancarrota a que conduziram o país.
E só não está tudo a arder porque o povo é manso. Compare-se com Espanha, onde no fim de semana milhares sairam à rua e o governo ainda não tem um ano.
Triste fado o nosso.
Nem tudo o que é parece. Nao tenho dúvidas, estamos perante filmes simulados de greves dissimuladas.
É tudo para televisão encher.
É a Paz Social prometida e garantida pela Geringonça e avalizada pelo Marcello. Ou então o povo em geral é fascista e reacçionário. Francamente não me surpreendo se António Costa achar o povo um incómodo e uma força de bloqueio.
Tem razão, nunca é demais lembrar que foram os socialistas que levaram Portugal à bancarrota.
Agora, com esta febre de greves que atacou os funcionários públicos, tenho andado a pensar que devia sair uma Lei a proibi-los de fazerem greve, em especial greves deste género, tipo self-service.
Não faria escandalizado se aparecesse alguém a propor que se fizesse uma petição para que este assunto fosse levado à Assembleia da República, embora, com a composição que ela agora tem, certamente os deputados iriam chumbar tal ideia.
Mas reparem bem: quem é que os professores, os médicos, os enfermeiros e toda essa gente quer vergar para ver os seus desejos satisfeitos? Desejos que, por via de regra, pouco passam de aumentos do salário?
É um facto que as greves feitas por meia dúzia de funcionários públicos – a esmagadora maioria não vê o seu salário afectado, pois apresenta-se ao serviço, que está encerrado por alguns elementos achados essenciais terem faltado, consegue prejudicar quase todas as famílias portuguesas, famílias que são quem lhes paga o ordenado e cujos membros, em média, ganham muito menos do que ganham, os funcionários do Estado. Ou seja, os funcionários públicos não fazem greve contra o patrão, que não existe, os funcionários públicos fazem greve contra todos nós, mesmo aqueles que ganham miseravelmente e miseravelmente vivem.
Vendo bem, os funcionários públicos não têm patrão, como vulgarmente se considera e, por isso, deveriam encarar as suas profissões um bocado (ou muito) como uma espécie de sacerdócio e agirem em conformidade, e não comportarem-se como simples mercenários, como acontece com muitíssimos deles.
Eu estou como o Alex Soares: céptico. Uma coisa são os pré-avisos, outra coisa são as greves efectivas. Isto é o equivalente sindical das cativações de Centeno: se este coloca no orçamento despesas que sabe nunca serão autorizadas (e assim vai maquilhando os números do défice), eu desconfio que os sindicatos estão a pré-avisar greves que não têm intenção de cumprir.
Além disso, não se pode confundir o impacto de greves em sectores de pequena expressão com as do tempo de Passos Coelho. Onde têm estado as greves sucessivas do Metropolitano, da Carris e da Transtejo? E as greves gerais da função pública? E as greves da Fenprof, com ajuntamentos em Lisboa e caravanas de autocarros fretados? Com excepção desta greve dos enfermeiros, não me recordo de uma outra com impacto apreciável no quotidiano.
Cito
“na altura liderado por José Sócrates,”
Atão o Artola do Costa já era um verbo de encher nessa altura e não o número 2?
E nem vale a pena recordar quais os outros artolas que vieram dessa equipa metralha liderada por sócrates e costa
Isto só para dizer que surpresa só possível em quem anda muito distraído como o senhor dos afectos
Gandulos, vida escura.
É efectivamente irónico, mas não surpreendente. Não é surpreendente porque o discurso do Passos Coelho, embora não pudesse evitar greve, trazia as pessoas para o chão da realidade: “vai ser duro, temos que apertar o cinto, mas juntos venceremos”; o _osta, por seu turno veio com o discurso mais agradável, mas muito e muito mais sonhador (e enganador): “vamos virar a página da austeridade!”
Diga-se em abono da verdade que ele nunca disse em campanha que ia “acabar” com a austeridade, embora fosse esse o entendimento generalizado. Virou a página da austeridade sim. Trocou a austeridade às claras por uma austeridade encapotada.
Ora, o resultado não é surpreendente, porque as pessoas criaram expectativas que não é possível cumprir, pelo menos já, e isso gera insatisfação. Onde está o problema? Promessas… promessas que não se pretende cumprir.
Quanto à ironia… se calhar não é assim tão irónico… afinal, onde estão os direitos dos trabalhadores nos regimes comunistas? É apenas um engano achar que é verdade que a esquerda se bate pelos trabalhadores, qual cavaleiro em defesa da donzela amada…