O Miguel Morgado, que tive o privilégio de ver a dar aulas duas ou três vezes no IEP (apesar de infelizmente não ter sido meu professor), é uma das melhores cabeças que anda pelas elites do PSD e pelo Parlamento já agora. Infelizmente para ele, e para nós, não considero que tenha qualquer tipo de hipótese de ser líder do PSD agora. Seja contra Rio, contra Montenegro ou contra os dois ao mesmo tempo.
No diagnóstico do Miguel Morgado, Portugal passa há muito tempo essencialmente uma crise cultural onde a esquerda (eu diria a social-democracia/socialismo) tem a completa hegemonia. O Miguel defende por isso uma “refundação da federação da família não socialista”.
Concordando eu com o diagnóstico, não concordo com a solução. Há uma crise cultural, a qual deve ser combatida obviamente e por isso há muito trabalho a fazer nas Universidades, nos Media, nas redes sociais, nos Institutos e ONGs (na criação de novos e/ou profissionalização dos já existentes), etc.. Penso que até aqui o Miguel irá concordar comigo. Para ajudar a essa solução acho que os partidos não socialistas – enquanto projetos de acção e, por isso, também como bons veículos de transmissão de ideias – também têm de desempenhar o seu papel. E é aqui que nos separamos. O Miguel defende uma “refundação da federação da família não socialista”. Eu defendo uma “refundação da família não socialista”.
Um sistema eleitoral de representação proporcional, pelo método de Hondt, ainda por cima listas fechadas, como o nosso não leva a grandes incentivos para federações, exatamente por ser proporcional. Posto isto, acho que devemos olhar menos para casos como o Brasil e os USA e mais para países parecidos connosco, como a Holanda (e agora já podemos começar a olhar para a Espanha também). Na Holanda normalmente 10-15 partidos costumam ter assento parlamentar e os holandeses vivem melhor que nós, pelo que não me parece que essa diversidade seja grande problema. Há sempre aqueles meses de negociação até se formar um governo, mas digo-vos já que estou perfeitamente tranquilo em ter o Governo parado uns quantos meses, sem mexer mais no que não deve.
Por isso, excepto situações de extrema necessidade como bancarrotas (onde convém partir coligado para não se desperdiçarem votos na conversão para o número de deputados) não sou apologista de coligações pré-eleitorais como o Miguel também defendeu. O que me parece que falta não é uma federação, é mesmo o oposto. É separação e clarificação. Se tiverem de aparecer 10 partidos não socialistas que seja, o mercado eleitoral irá tratar de separar as águas e daqui a 10/15 anos lá sobram os que tiverem de sobrar. A falta de representatividade que algumas pessoas sentem também vem daqui, desta insistência em juntar grupos diferentes só por não serem socialistas.
Há uma clarificação que falta fazer e o PSD é o expoente máximo disso. Exemplo real: tenho um bom amigo na JSD/PSD e ele considera-se de centro-direita. Ele tem um irmão, também na JSD/PSD, que se considera de centro-esquerda. O primeiro é assumidamente liberal e o segundo é social-democrata. O que se passa no PSD hoje em dia é este exemplo na perfeiçã. Rio diz que o PSD tem de voltar à verdadeira social-democracia. Ainda ontem Rio dizia, “…quem discorda estruturalmente do partido, obviamente que deve sair. Há atualmente e na sociedade portuguesa notoriamente e um pouco em crescendo um espaço à direita do PSD com uma visão muito liberal, não social-democrata. Quando é assim, já estamos num patamar ideológico”. Penso que falava, entre outros talvez, da Iniciativa Liberal, que também tem vários ex-militantes do PSD.
Santana faz a mesma coisa que o PSD fez, tenta enfiar tudo na Aliança também. É mais um saco de gatos. O que só prova que a Aliança é mesmo só a sua PPP (projeto político pessoal), apenas criado – com ajuda de boa parte dos media como se tem visto – para chegar ao Parlamento e para dividir o PSD (por ter perdido as eleições). Mas totalmente legítimo claro. A mim parece-me que liberais e conservadores não têm espaço no PSD. Daí haver uma Iniciativa Liberal e daí haver um CDS-PP (e Aliança).
E mesmo o CDS, com a sua “teimosia” em integrar conservadores, democratas-cristãos, liberais e uma corrente assim mais para o nacionalista, contribui para esse erro e para esse aumento da falta de representatividade. Há muitas pessoas no CDS que estão muito mais próximas de certas alas do PS do que do Adolfo Mesquita Nunes, que é Vice-Presidente do partido. Há muita gente no CDS que é muito conservadora nos costumes e partilha da social-democracia do PS na economia.
Por mim, o PSD poderia mover-se com Rio um pouco para “a esquerda” e disputar à vontade uma boa parte do eleitorado que o PS tem (sobretudo aquela parte que costuma ser decisiva em dar a vitória ao PS, mas que de vez em quando lá vota PSD/CDS). Mas para tal Rio teria de competir mesmo por essa parte do eleitorado e não apenas limitar-se a acenar ao PS. O CDS, Iniciativa Liberal, Aliança e outros partidos que possam surgir poderiam ocupar boa parte do espaço que o PSD agora ocupa (mas que com esta movimentação deixaria de ocupar, por estar agora a captar eleitorado moderado do PS, caso o fizesse com engenho), mais o espaço que já ocupam consoante o seu eleitorado-alvo, com as devidas clarificações como mencionei antes, e captar alguma abstenção/votos brancos (sobretudo os partidos novos fora do sistema como a Iniciativa Liberal e outros que possam surgir). Depois, quando for mesmo necessário, poderia-se pensar em coligações.
Só assim, com uma movimentação do PSD para a social-democracia que Rio defende e uma clarificação ideológica e de eleitorado nos restantes partidos, juntamente com um trabalho cultural, vejo um aumento sustentado – não conjuntural – dos votos na família não socialista. Na Holanda, a família não socialista tem uns 5 partidos no Parlamento, se não estou em erro (discordando depois entre si em vários temas obviamente). Por cá, quem sabe como será daqui a 10 anos.

Martinho,
Concordo com muito do que diz. Na verdade vivemos num mundo de burros em que as lições da primeira classe (politicas) fora esquecidas. Algumas básicas:
– O centro ganha sempre. Por isso é necessário que o centro seja onde o queremos e não desviado tão notoriamente para a esquerda como hoje em dia acontece.
– Para que o centro politico seja o centro ( e não oscile para um dos extremos), tem que se permitir uma equidade e diversidade de visões de direita , igual ao que hoje em dia acontece em Portugal à esquerda. Tem que haver mais partidos e movimentos de direita para equilibrar isto.
– Inclusive tem que se permitir a voz a partidos de extrema-direita. Se quisermos ser maus, estes, tal como as mentes e ideologias de extrema esquerda, são chamados de ill-informed. E é essencial á democracia que se permita aos ill-informed anular-se. Os de extrema direita anulariam os de extrema esquerda. Quando nem voz se permite á extrema direita, mas temos extrema esquerda na esfera do poder …. Está tudo dito.
– Por ultimo a Aliança. O primeiro verdadeiro movimento novo a surgir à direita que pode ter a mínima hipótese de ajudar a cumprir com os pontos acima mencionados. Se não cair no erro de ser um saco de gatos. Que ainda não me parece ser. – Santana Lopes tem algumas especialidades que são únicas para o objetivo acima descrito. Faz ideia de quantos socialista são fervorosos católicos e cristãos ? — Santana Lopes é das poucas personagens que usa “queira nosso senhor” sem soar a falso. Dentro de Meses, Aliança está a comer votos ao PS.
“Há uma crise cultural, a qual deve ser combatida obviamente e por isso há muito trabalho a fazer nas Universidades, nos Media, nas redes sociais, nos Institutos e ONGs (na criação de novos e/ou profissionalização dos já existentes), etc”
A esmagadora maioria das entidades que referiu estão TOTALMENTE CORROMPIDAS a nível moral após terem sido tomadas de assalto pela Esquerda no seguimento da sua estrondosa derrota política no pós-1989. Foi essa a forma que – qual vírus, parasita ou cancro – encontraram para continuarem a sobreviver e a destruir o seu hospedeiro à custa da democracia/liberdade/liberalismo ocidental
Não sei se existe qualquer possibilidade real de inverter a situação.
Chamar ao PSD e CDS não socialistas? então o que é que o S está lá a fazer no nome dos dois?