A incapacidade genética, pontuada apenas por momentos de crise aguda nas últimas décadas, que a nossa moderníssima democracia tem em levar a cabo um debate político digno – a perturbação derradeira – sobre quaisquer dos sistemas públicos, privados ou assim-assim dos quais depende o nosso ténue equilíbrio é a tremenda vitória da nossa social-democracia. O PS apresentou-se a eleições em 2015 sem qualquer projecto para o país para além da execução mais rápida das mesmas promessas redistributivas do PSD\CDS. Em 2015, onde tínhamos acabado de sair de uma das tais ”crises agudas”, estava-se num momento estupendo, diria qualquer criatura racional, para discutir um modo de evitar uma outra crise semelhante ou, simplesmente, de evitar uma exposição mortal às flutuações da economia internacional.
No entanto, a racionalidade política, por vezes oposta à das criaturas, decidiu que todas as discussões, feitas a quente e em crise, tinham bastado para os portugueses. Como um jogador bêbedo e endividado, lançámo-nos, mais uma vez, na roleta assim que nos caiu um emprego para pagar as contas. Nem uma palavra, para além da tradicional verborreia dos ”consensos” sobre reforma alguma para o país. O país inteligente entende, aliás, que por ‘reforma’ deve-se ler ”acordo entre o PS e o PSD”, um bocejo escrito e inócuo que não tirará o sono a absolutamente ninguém, ou ninguém que importe.
Ah, a contestação ao ”governo das esquerdas”! Confrontados com as forças inorgânicas de algum sindicalismo não estruturado por uma dialéctica qualquer, vêem a sua paz perturbada por uns indivíduos de má fé que, se não tiverem cuidado, ainda se vêm com a direita no poder. Nesse dia infame, voltará a ”crispação”, o ”radicalismo” e a ”cegueira”. A paz não é um estado de coisas, mas uma coisa da metafísica. É o substrato do nosso Governo, com ou sem contestação. Ela subsiste, paira acima e dentro de nós enquanto formos governados pelos nossos melhores; a contestação que pulula por aí não passa de um ”excesso de expectativas”, uma infantilidade, portanto, por parte de quem zela demasiado pela boa nova do PS.
A paz não é uma época, espírito ou modo de vida. É o novo fundamento da nossa prosperidade. Desde os suspiros pela ”descrispação” do Sr. Presidente até ao consolo da CGTP, qualquer coisa tem servido para, em nome da ”paz” – do silêncio de quem, por infortúnio, não integrou as corporações nacionais – criar a ”convergência social” para ”virar a página da austeridade”, trazendo crescimento, qualidade de vida, investimento, emprego, enfim, trinta por uma linha, rumo a um futuro grandioso. Fora desta glória paira o populismo, o desavergonhamento, o radicalismo, a manipulação do povo e dos sindicatos, a má fé e o ressentimento. É o princípio segundo o qual qualquer acção política deve começar ao jantar e acabar ao pequeno-almoço. Silenciosa, sorrateira e superficial. E no dia em que a paz nos correr mal, sempre nos salvará o deputado Negrão: ”respeitem os sindicatos!” Respeitaremos, Sr. Deputado. Não se perturbe com convicções. Trate de nos apaziguar e entenda-se com o Dr. César. Afinal de contas, não basta ser.
Sem esquecer as fake news do jornalismo Marxista “de referência” tão necessárias à manutenção da ficção.
Que povo é este que povo!?
Nesta legislatura geringonça / comunista já foram feitas mais greves (quase o dobro) do que na legislatura anterior (em que os sindicatos chamavam o governo de fascista). Até a direita promove greves subsidiadas por crowdfunding, que de crowd não tem nada…
A seguir vão os eletricistas da função pública exigir que os seus cursos sejam abrangidos pelo protocolo de Bolonha. Se conseguirem, vão reinvindicar depois os ordenados e regalias dos engenheiros electrotécnicos. Cambada !
É a isto que se chama paz social ?