O salário de Catarina

“Foi precisamente sobre a noção de salário indirecto que me debrucei. Ou melhor, sobre a ideia do Estado social enquanto salário indirecto.”

Destaque do meu artigo de hoje no ECO – Economia Online. Sobre o Estado social como salário indirecto.

10 pensamentos sobre “O salário de Catarina

  1. E a velha oposição ideológica direita / esquerda;
    “A riqueza produzida em Portugal é de quem a produz” / “A riqueza produzida em Portugal é dos portugueses”.

    No meio termo está a virtude, tão difícil de encontrar…

  2. Luís Lavoura

    Mas o Estado Social é, de facto, um salário indireto.
    Quando o Estado financia, nas cidades, o transporte coletivo e a habitação, está de facto a permitir que os patrões paguem menor salário, ou seja, está a permitir que haja trabalhadores nas cidades dispostos a trabalhar por um salário que, por si só, não chegaria para pagar habitação e transportes a preços de mercado.
    Quando o Estado financia a educação, está a permitir que as pessoas tenham filhos – se a educação fosse paga a preços de mercado, seria (ainda) mais incomportável para muita gente ter filhos.
    A sociedade capitalista atual só é viável graças a este tipo de salários indiretos. São os salários indiretos que permitem que haja trabalhadores a trabalhar com baixíssimos salários diretos.

  3. Luis Lavora, aqui prova-se que o pensamento puramente liberal quase coincide com o pensamento libertário (salve-se quem puder!).
    Não tem solução para manter vivos e dignos os trabalhadores que não conseguem participar no aparelho produtivo / lucrativo.
    Um liberal absoluto quando lhe perguntamos como pensa diminuir o número dos sem-abrigo, dos doentes crónicos sem acesso a cuidados médicos, dos deficientes ou dos velhos sem condições para trabalhar e sem subsídios, encolhe os ombros ou diz que isso é o problema para ser resolvido pelo Estado. Ao mesmo tempo vai lutando para que haja cada vez menos Estado.
    Um embuste !

  4. André Miguel

    “Quando o Estado financia, nas cidades, o transporte coletivo e a habitação, está de facto a permitir que os patrões paguem menor salário”

    E de onde vêm os impostos para o Estado “financiar” isso tudo?

    É por causa de gente deste calibre votar, que não saímos da cepa torta…

  5. Luís Lavoura

    André Miguel, claro que são precisos impostos para financiar isto tudo. É evidente que sim.

    O que eu disse é apenas uma verdade objetiva: a saúde gratuita, a educação gratuita, os transportes baratos, a habitação social, etc são salários indiretos. Eles permitem que algumas pessoas levem uma vida mais ou menos tolerável apesar de terem empregos que lhes pagam salários diretos muito baixos.

    Por exemplo, um lisboeta rico paga à sua empregada doméstica um salário de 600 euros. Esse salário não dá para a empregada viver em Lisboa. Mas simultâneamente o indivíduo rico paga ao Estado elevados impostos, com os quais o Estado fornece à empregada doméstica educação para os filhos e transportes baratos para vir para Lisboa, e assim a empregada já consegue viver de forma mais ou menos digna.

  6. Não se queixem Srs. Liberais. Portugal é o país mais liberal da Europa.
    As empresas que geram mais de 70% do PIB ÑÃO PAGAM IMPOSTOS.
    Têm PPPs, como as autoestradas, os hospitais, creches, escolas, Lares de 3ª idade, que servem para compensar os empresários da maçada de pagar impostos. Este foi o primeiro exemplo de LMGE , (Lucro Mínimo Garantido pelo Estado).
    Outras dessas empresas têm rendas, como a EDP, para poderem fornecer um bom serviço às anteriormente referidas (fizeram uma mega central-electrifica no Pego só para garantir os picos de consumo, não vá acontecer um apagão), central essa que raramente trabalha mas que deve ser paga pelos cofres do Estado, em rendas. É outro caso de LMGE. Para além de que a chuva que cai em solo português não é do Estado, é da EDP…
    Outras empresas especulam na bolsa internacional e participam à vontade na criação de bolhas que lhes (nos) rebentam na mão. Vão à falência técnica, mas não faz mal, o Estado não as deixa falir porque são muito necessárias!… mais uma LMGE.

    CONCLUSÃO: Quem paga impostos em Portugal são as PMEs, os Trabalhadores Por Conta de Outrem e algumas profissões liberais. E mesmo esses refilam por pagar muito IRC quando sabem que grande parte do cash-flow de suas empresas foi usado a repara o carro do filho do patrão, a fazer uma piscina lá em casa, etc.

    E ainda se queixam do Estado Social!

  7. Luís Lavoura,

    «Mas simultâneamente o indivíduo rico paga ao Estado elevados impostos, com os quais o Estado fornece à empregada doméstica educação para os filhos e transportes baratos para vir para Lisboa, e assim a empregada já consegue viver de forma mais ou menos digna.»

    Entretanto, alguém no Interior tem de pagar transportes muito mais caros — pois não são subsidiados e paga-se grandes impostos na gasolina e nos salários — para se subsidiar transportes na região mais rica do país.

    Ai coerência, tão cara como rara naquelas cabecinhas!

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