Escrevi aqui em Março, na minha Reflexão Pré-Congresso, que “o CDS padece, desde a sua génese, de uma lamentável disposição a ser bengala. Esta disposição, originada, a meu ver, por um medo de parar, permite-lhe ir andando, mas também o impede de correr”. Disse também que devia “ambicionar para si o centro-direita, aproveitando a mudança de ciclo do PSD e a jacobinização progressiva do PS”.
Há uns meses, o país político fazia chacota de Assunção Cristas, desde os comentadores do costume, com a profundidade que lhes conhecemos, até aos notáveis de diversos partidos. Tudo porque se havia atrevido a admitir aspirar a liderar a oposição. Hoje lidera-a, sem sombra de dúvida. Em parte, e o seu a seu dono, por mérito próprio, em parte por falta de comparência de Rui Rio. O CDS tem estado na linha da frente do combate à geringonça, mobilizando-se sucessivamente e alcançando vitórias como o chumbo da eutanásia ou a pirueta a que forçou o PCP no caso dos combustíveis. Também o vemos no terreno, aprecie-se mais ou menos o formato.
Quanto ao PSD, pelo que ouvimos das suas raras tomadas de posição, podemos quase que encarar o seu silêncio como sábia prudência, quiçá evitando acrescentar demérito à asneira. O cinzentismo fatal da direita portuguesa, acrescido da típica disfunção ideológica de que vem habitualmente acompanhado e de que Cavaco foi o maior exemplo, vê-se consumado neste mandato onde se fica a crer, até pelo seu último artigo de opinião, que o Presidente do PSD foge do legado da finada coligação como quem foge do tifo, culminando na proeza de finalmente conduzir Santana Lopes a cumprir a eterna promessa de levar consigo o PPD e formar novo partido – ainda que a todos nos tenha desiludido por não apostar numa sigla com as suas iniciais.
Gostaria, como já expressei por diversas vezes, de ver um CDS ainda mais aguerrido, trazendo propostas de fundo e explicando aos portugueses que o Portugal do Dr. Costa é uma Quinta Potenkin e que o Estado não pode ser omnipresente e omnipotente na sua acção, buscando naquela que se vai assentando cada vez mais como a base ideológica dos seus militantes, o conservadorismo o liberalismo – que a meu ver casam bastante bem – soluções estruturais para problemas clássicos, como o centralismo das instituições ou a asfixia fiscal, e para problemas modernos, como o ambiente ou uma crise demográfica também associada a uma crise na habitação. Soluções essas que devem passar por uma visão de mercado, à semelhança do que foram as suas propostas para desenvolver o interior do país.
Entende-se, no entanto, alguma providência em não agitar as águas antes do término da elaboração do seu programa, em cujo grupo de trabalho figuram duas caras cá da casa. Faltará também alguma coragem para atacar o rival. Portas nunca hesitou em atacar o PSD, por vezes pelas razões menos felizes, como quando se gabou de estar à sua esquerda. Nos dias que correm o contrário seria expectável. No entanto, para já, é notório: o CDS domina a oposição. Se conseguirá manter esta posição face a uma putativa ressurreição do PSD do limbo para onde foi remetido e se o cenário politico-partidário actual resistirá à entrada de partidos que podem trazer novas metodologias – em especial o digital – a um modo de fazer política que ficou obsoleto na década passada e ainda é seguido à regra por todos, apenas o futuro o dirá. Mas que começa bem, começa.