A propósito desta notícia.
Numa das minhas encarnações, a de militar, houve uma altura que durante o fim de semana fazia um cartoon, a que chamava “Nota de Culpa”, a gozar com alguém, segunda feira afixava-o na Messe de Oficiais do Regimento e por lá ficava durante uma semana. Não deve haver nenhuma instituição com uma hierarquia mais rígida e respeitada que as Forças Armadas. Invariavelmente os cartoons gozavam com algo que um superior hierárquico meu tivesse feito na semana anterior. Nunca nenhum achou mal ou mandou retirar o cartoon, pelo contrário, cheguei a ouvir de mais que um, superiores meus, porque raio nunca eram visados. Acabavam por ser, deixavam ficar a “Nota de Culpa” afixada durante uma semana e na seguinte pediam-me se podiam ficar com ela. Até o Comandante do Regimento lá esteve e divertiu-se. Quase todos os alvos dos cartoons os levaram para casa. Ninguém se importava de ser gozado, achavam piada (só houve um Oficial que nunca me atrevi a gozar, sabia que ele ia levar a mal, mas enfim há de tudo) e nunca nenhum ficou incomodado.
Há uns 10 a 12 anos fiz uns cartoons que fui publicando neste blogue. Na altura criei o personagem “Doh!” a gozar com o Daniel Oliveira e confesso que alguns (poucos) tinham piada e quanto mais violentos fossem para o visado mais piada tinham. Um dia tive meia surpresa: o próprio republicou um ou dois desses cartoons no blogue dele (na altura o Arrastão) e escreveu sobre o assunto em termos elogiosos e divertido.
O que conto acima sobre estas pessoas demonstra sentido de humor, inteligência da parte deles e poder de encaixe. Isto são três características necessárias, embora não suficientes, de um líder. Um líder é alguém que não tem medo nem vacila perante o ridículo. O pobre infeliz do Puigdemont pode ser qualquer coisa, líder não é de certeza e inteligente também não. Perante isto, alguém inteligente e que tenha autoridade, ri-se. E se tiver uma inteligência acima do comum até felicita o gajo que teve a ideia. Mas pronto, esta gente pós-moderna que nos calha em sorte nem inteligência nem sentido de humor, nasceram no maniqueísmo servos/senhores e não imaginam que haja outra condição. Os infelizes exigem ser senhores quando não passam, nem passarão nunca, eles próprios de servos. E por muito que gritem liberdade, nutrem um profundo desprezo por ela e especialmente pela liberdade primeira, a de pensamento, cujo corolário óbvio e inalienável é a liberdade de expressão, que exigem para eles mesmo e recusam aos outros. Não passam de putedo na certeira expressão do Grande Educador da Classe Operário, o camarada Arnaldo de Matos.
Já agora, o artigo de hoje do Paulo Tunhas no Observador é imperdível, sobre as palavras e o retorno do mito no pensamento político, a regressão a uma espécie de animismo na comunicação. Words give the means to meaning e na literatura não faltam distopias como esta a que nos querem sujeitar. Puta que os pariu a começar pelo Puigdemont mais a vara que o acompanha.
> Grande Educador da Classe Operário
Grande Dirigente e Educador do Proletariado Português (GDEPP), se faz favor.
(Estas coisas são para saborear na plenitude do seu delírio, não em doses enfraquecidas, quase homeopáticas …)