Hoje no i. O brasileiro Rubem Fonseca escreveu, e muito bem, sobre a grande arte. Eu, sem a mesma mestria, sobre a grande mentira.
A grande mentira
O governo aprovou o Plano de Estabilidade 2018-2022. Nele prevê a redução do défice já este ano para 0.7% do PIB e um excedente em 2020. Isto, claro, relativamente ao PIB, que cresce devido ao turismo, que beneficia de uma lei das rendas que a esquerda critica, mas não altera.
A grande pergunta que se devia colocar à esquerda é a seguinte: onde está a espiral recessiva que a austeridade ia provocar? Nunca ouviremos a resposta porque não interessa. Há assuntos demasiado delicados para que se possa falar deles. A dívida pública é outro; não a dívida face ao défice, mas em números. Já o referi neste jornal, mas volto a repeti-lo: o que se passa com a dívida pública que em 2015 era de 231 mil milhões de euros e em fevereiro de 2018 atingiu os 246 mil milhões, mais 2,4 mil milhões que em janeiro deste ano?
Mas isto não interessa. O que temos de ouvir, a narrativa aprovada pela extrema-esquerda, é que a dívida pública vai descer (face ao PIB, que cresce sem o governo perceber como) e que como nós, verdadeiros campeões europeus, povo único à semelhança do tempo da outra senhora, só a Bélgica.
A Bélgica. O PS já nos quis transformar na Suécia, depois na Finlândia, agora na Bélgica. Ora, o que se passou na Bélgica? Em 1993, o país do Tintim tinha uma dívida pública de 303.816 mil milhões de euros, 138,14% do PIB. Em 2005, uma dívida de 366.891 mil milhões de euros, 94,7% do PIB. A dívida desceu? Não. O problema estrutural da dívida foi resolvido? Não. E tal não foi que , em 2015, a dívida totalizou os 482.519 mil milhões de euros, 106% do PIB. A Bélgica reduziu a dívida face ao PIB quando os ventos corriam de feição, mas tudo ficou na mesma quando estes mudaram de sentido.
Já vimos este filme tantas vezes que até enjoa. Compara o que os belgas fizeram com o que nós queremos fazer; o feito com a intenção, a realidade com o sonho e, nesse devaneio, discutem-se aumentos dos salários na função pública, mais dinheiro para a cultura (porquê apenas 1% e não 1,1% do PIB – o que interessa é parecer culto, não honesto) e descida nos impostos, como se os erros do passado não aguardem que o crescimento abrande para que os seus custos se sintam outra vez.
O país vive tão anestesiado com a política monetária do BCE e com o turismo que parece que está tudo bem. A grande mentira é esta. É a mentira que explica por que motivo o Bloco e o PCP criticam o Plano de Estabilidade, mas não o submetem a votação no parlamento sob pena de terem de votar a favor. O silêncio da esquerda perante o que se passa nos hospitais está aqui.
Há um livro de Rubem Fonseca chamado “A Grande Arte”. Neste, a arte era o manejamento da faca, a forma de melhor a utilizar para matar. Vivemos em Portugal, a grande mentira, a forma como melhor se saca do Estado sem se assacarem responsabilidades. A primeira é uma obra de ficção; a segunda, a nossa realidade.
Ah.
Então era no tempo do Passos que estava tudo bem ?
O Estado é a grande ficção de se pensar que todos vivem à custa dos outros e a democracia representativa nacional é o instrumento que lejaliza o roubo institucionalizado.
Caro Rocha.
Não sei em que cartilha propagandística foi buscar isso, mas as pessoas normais costumam encarar o estado como representante da comunidade.
Vale tudo para manter a matilha e afiliados.
TESTEMUNHO FATAL
Até Marcelo perde legitimidade ao celebrar um acordo entre dois figurantes ilegítimos que amarram o país.
Um porque perdeu eleições, o outro porque as urnas ainda não lhe contaram os votos.
Estamos em onda tenebrosa de gente que nem a si própria se respeita.
Em termos de leis e ética, desde César e Ferro passando por toda a casa da deputação, até Marcelo, Costa e afins, que o diabo escolha os ingredientes de tal caldeirada.
Indigno e insustentável que um qualquer fulano se apresente, e o deixem encenar o papel de chefe de um governo numa matéria em que lhe faltam as muletas geringonças que aos solavancos lhe vão arrastando a carroça.
Sem esses penduricalhos à cintura não é 1º ministro nem coisa nenhuma que se veja. e muito menos que se respeite.
Indecorosa burla.
A dívida em números é irrelevante. O que interessa é a dívida face à capacidade do Estado para a pagar, ou seja, face à capacidade do Estado para arrecadar impostos. Portanto, o que interessa é a razão entre a dívida e o PIB.
Isto é um facto elementar, que AA escamoteia de forma desonesta.
o PIB cresce devido ao turismo, que beneficia de uma lei das rendas
É infame que a direita afirme que o PIB cresce devido apenas ao turismo. A direita tem a obrigação de louvar os empresários e não de os apoucar. O PIB cresce devido a muitas coisas além o turismo, em particular devido também à indústria. Procurar negligenciar os empresários industriais, afirmando que o PIB cresce apenas devido ao turismo, é vergonhoso da parte de gente que se diz de direita e que portanto deveria estar a defender e engrandecer os empresários.
O turismo só muito lateralmente beneficia da lei das rendas. A maior parte do turismo não é alojamento local, e a maior parte do alojamento local não é feita em apartamentos que anteriormente estivessem arrendados, mas sim em apartamentos que estavam devolutos.
O mal da maioria das interpretações e tomadas de posição é o facto de quererem extremar-se. Poucos aparentam querer saber, querer respostas, apurar verdades. Trata-se cada vez mais de argumentar para ter razão.
É óbvio que há sempre dois lados de cada discussão.
O Turismo é uma mais-valia para a economia, o investimento imobiliário e alojamento local vieram requalificar, pelo menos o parque imobiliário das grandes cidades (Lisboa e Porto), o desemprego diminuiu, e os rendimentos aumentaram.
Mas a que custo? É necessário igualmente ponderar e perceber se as “boas notícias” se traduzem num modelo sustentável. Que tipo de emprego se criou e, traduz-se em mais receita fiscal? A requalificação imobiliária afasta a maioria da população dos grandes centros? O investimento imobiliário (pelo menos os montantes declarados) é real? É lícito?
Está a ser efetuado o adequado investimento público, atendendo aos resultados que se têm verificado?
Como o artigo diz, e bem, quando os bons ventos conjunturais mudarem, estaremos mais bem preparados para as adversidades ou caíremos novamente numa situação de pré-bancarrota? E se acontecer, os responsáveis serão “castigados” apenas politicamente com um exílio de 4 anos?
Luis Lavoura,
É sobejamente conhecido o impacto do crescimento astronómico do contributo do turismo para o PIB. Até o governo actual reconheceu o aumento surpreendente ao rever as suas previsões iniciais por alta de forma sem paralelo na história de Portugal.
https://eco.pt/2017/12/07/turismo-responde-por-7-da-economia-nacional/
Os factores do crescimento do turismo são largamente externos. Portugal não se tornou magicamente um destino apetecível. O norte de áfrica fechou como destino turístico low cost, e a política de flexibilização quantitativa do BCE fabricou vastas somas de dinheiro sem uso que começou a encontrar o caminho para investimentos imobiliários em Lisboa e no Porto. Nada disto é sustentável, e infelizmente também não é fruto de sapiência dos industriais.