São os partidos donos do Parlamento?

Em 2015, o PSD apresentou-se ao eleitorado em listas conjuntas formadas a meias com o CDS-PP. Foi num determinado núcleo de deputados que votei, agregados na PaF, e são eles os depositários do meu voto. O meu voto foi para uma legislatura, e não para que a quase dois anos das próximas eleições o PSD ignore que, até lá, tem de respeitar o mandato dos eleitores. Não escolhi Rui Rio, nem Elina Fraga, nem Isabel Meirelles, para gerirem o meu voto. Nem o meu voto está ao serviço do PSD e daquilo que são as suas aspirações eleitorais, em 2019.

O PSD tem todo o direito de se reorganizar e, no quadro do que são as decisões dos seus militantes, pensar na forma como se vai apresentar aos eleitores nas próximas eleições.

Agora, não compreendo porque razão o Grupo Parlamentar deve agora lançar uma passadeira política para o novo líder de um partido que não é o depositário do meu voto, e do voto de muitos portugueses. A saída de Luis Montenegro do Parlamento, e a subordinação à força de muitos outros, da cena política, é assim uma traição ao voto de quem assiste à forma majestática como os partidos políticos ignoram o compromisso que assumem com os seus cidadãos, instrumentalizando-o em função daquilo que são os seus meros interesses eleitorais. Os deputados estão ao serviço dos eleitores que os elegeram, e não dos partidos que os integram. A obrigação do novo líder do PSD passa assim por ser capaz de respeitar a autonomia do Grupo Parlamentar. O mesmo Rui Rio que alegou no passado que não abandonava a Câmara Municipal do Porto, para se candidatar à liderança do PSD, porque tinha um compromisso com a cidade, é o mesmo que exige, agora, que o Grupo Parlamentar se conforme, ao serviço dos interesses de uma nova direção, que os cidadãos não escolheram. É esta a nova ética que vamos ter na política?

4 pensamentos sobre “São os partidos donos do Parlamento?

  1. O PSD cada vez mais um apêndice do PS – do Costa das Castas dominantes…

    A defesa que Elina Fraga / Marinho Pinto faziam de Sócrates, é significante das admoestações que Rui Rio tem vindo a fazer à Justiça e em particular a Joana Marques Vidal…

    Na Venezuela também a manipulação/domínio da Justiça foi das primeiras medidas que implementaram…

    Rui Rio está a fazer o que era previsível – e de acordo com as intenções do PS:

    > No Projeto (inicial) de Programa Eleitoral do PS, pode ler-se:
    • «o PS defende designadamente o seguinte: (…) A garantia de proteção e defesa do titular de cargos políticos ou públicos contra a utilização abusiva de meios judiciais e de mecanismos de responsabilização como forma de pressão ou condicionamento».

  2. Mario Figueiredo

    Infelizmente, caro Rodrigo, estamos cada vez mais longe de um sistema político representativo. Já não basta efectivamente não o sermos, já que não votamos directamente nos nossos representantes na AR. Mas ainda é preciso assistirmos aos partidos a fazerem pouco da nossa cara.

  3. Luís Lavoura

    Portanto, e se bem entendo desta prosa, o RAF acha que o PSD e o CDS, durante toda esta legislatura de quatro anos, se deveriam manter mais ou menos coligados, uma vez que foi dessa forma que se apresentaram aos eleitores. Deveriam votar da mesma forma as principais leis, etc. Só passados os quatro anos é que PSD e CDS estariam autorizados a, digamos assim, distanciarem-se. É isso?

  4. Tudo má gente, do piorio é o que isto mostra a nojeira da política onde ninguém sai limpo.
    Eu em política nos últimos tempos apenas votei em nomes duas vezes, uma para o líder do PSD e antes para o Presidente da República, todas as outras vezes votei num quadrado à frente do nome de um partido e do seu símbolo, mas há anos que defendo votos nominais… não há um único deputado que eu tenha pessoalmente eleito como pessoa. Infelizmente e nem me sinto representado por aquele para cuja eleição o meu voto contou, pois se tivesse de escolher nomes não seriam eles.

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