25 de Novembro

Alguns poderão estar esquecidos, outros nunca terão ouvido, outros estarão equivocados e alguns terão escutado uma versão deturpada ou selectiva da coisa. Mas quando Jaime Neves e os restantes comandos impedem o golpe dos pára-quedistas de Tancos, impedem não apenas um golpe militar, mas o golpe militar da extrema-esquerda que visava garantir que Portugal passava de uma ditadura de direita para uma ditadura de esquerda, comunista e à boa moda soviética, isto assumindo que os arrufos entre estalinistas e maoístas se resolviam. Isto foi no dia 25 de Novembro de 1975. O 25 de Abril sem o 25 de Novembro teria sido uma mera mudança de cores de camisola. É, portanto, uma data tão alusiva à democracia como é o 25 de Abril, e, como tal, merece ser recordada, celebrada, felicitada, festejada.

Um dos partidos que mais fez pela consolidação do 25 de Novembro foi precisamente o PS de Mário Soares. Que o Bloco de Esquerda, que mais não é do que a agremiação da UDP e do PSR, radicais que buscavam essa ditadura comunista, e o PCP, que, bom, é o PCP, não celebrem o 25 de Novembro parece-me coerente. Afinal, o sonho de uma ditadura comunista foi gorado. Que o PS alinhe no circo é que é absolutamente inaceitável. Uma vergonha.

21 pensamentos sobre “25 de Novembro

  1. Comemorar o 25 de Novembro só faz sentido se não se acreditar na história oficial do 25 de Novembro – isto é, se o 25/11 foi realmente o dia em que um golpe de extrema-esquerda foi derrotado, comemorações institucionais (em detrimento de comemorações puramente militares, a homenagear os feitos do regimento X nesse dia) não fazem grande sentido – aposto que na I República não se fazia sessões solenes a comemorar a derrota das várias insurreições monárquicas (como a Monarquia do Norte), nem no Estado Novo se comemorava o 18 de Janeiro ou o 3 de Fevereiro (e numa realidade alternativa em que Kerensky tivesse resistido aos bolcheviques, duvido muito que o 7 de Novembro tivesse direito a sessões solenes na Duma); ou seja, os regimes não costumam comemorar o dia em que golpes contra eles foram derrotados.

    Ironicamente, comemorar o 25/11 (e apresentá-lo como um dos momentos fundadores do regime) só faz sentido se aceitarmos uma versão dos acontecimentos similar à da extrema-esquerda: de que o 25/11 foi na realidade um golpe “de direita” (ou do centro-esquerda + a direita), planeado há algum tempo para inverter o processo revolucionário, e que aguardou pelo que parecesse um golpe de esquerda para sair a rua fazendo-se passar por um simples “contra-golpe”, e pondo as autoridades da altura entre a espada e a parede (“ou proclamam a lei marcial e dão-nos o comando das operações, de forma a isto parecer tudo legal, ou também vão de volta”).

  2. Miguel Madeira, essa versão alternativa da história dava um belo romance, mas é apenas isso. Todo o Verão Quente, a vontade assumida de Cunhal de que não houvesse qualquer «parlamento burguês», as tentativas de Otelo para vergar a Constituinte, entre tantas outras coisas, mostram bem que o período entre o 25 de Abril de 1974 e o 25 de Novembro foi tudo menos democrático, e não estava nada consolidado. Como tal, celebrar o 25 de Novembro não é celebrar uma contra-revolução, mas sim celebrar a efectiva re-implementação da democracia.

  3. “Todo o Verão Quente, a vontade assumida de Cunhal de que não houvesse qualquer «parlamento burguês», as tentativas de Otelo para vergar a Constituinte, entre tantas outras coisas, mostram bem que o período entre o 25 de Abril de 1974 e o 25 de Novembro foi tudo menos democrático, e não estava nada consolidado. ”

    Mário Amorim Lopes, e o que é que isso tem a ver com o que eu escrevi? Se alguma coisa, até o parece reforçar (já que acho que vai de acordo à ideia do 25/11 como uma viragem e não como uma ação puramente defensiva).

  4. Se assim é, então o 25 de Novembro não deve ser visto como uma derrota de uma ofensiva, como refere, mas sim como a sedimentação da democracia, e é nessa qualidade que deve ser celebrado.

  5. Aí acima um inteligente diz: « …aguardou pelo que parecesse um golpe de esquerda para sair a rua ».
    À rua já se saía há meses a fazer fogueiras e bombas para aquecer os golpista de esquerda do 11 de Março.
    A alternativa era saber se bastava um contra-golpe ou era preciso uma guerra civil.
    Ficou-se pela primeira e trata-se de uma vitória do regime que temos, que merece ser comemorado e honrada a memória dos vencedores vivos e mortos.

    E que os derrotados se oponham à comemoração não surpreende.
    Agora que um dos principais vencedores seja refém dos vencidos, só não surpreende por ser acto voluntário de vendidos poltrões.

  6. Stalenin

    O prezado Mário Amorim Lopes fala em “efectiva re-implementação da democracia”. Ora, está aqui a escapar-me o sentido da partícula “re”. Ou será que a “democracia orgânica” também era democrática e o 25 de Novembro era para a re-implementar?

    De qualquer modo, o 25 de Novembro também não é uma data digna de ser celebrada institucionalmente. Estou certo de que a extrema direita radical que abunda pelos blogs e em certos pasquins irá fazer grandes celebrações, e isso já é suficiente.

    STALENIN

  7. Nfm

    Infelizmente o golpe não teve sucesso. A ditadura de esquerda era necessária para vacinar o povo, hoje tinhamos uma democracia muito mais equilibrada

  8. Caro Stalenin, recordo-lhe que temos sufrágio (quase) universal desde 1826 com a Carta Constitucional, tendo a 1ª República diminuído os cadernos eleitorais para menos de metade (excluíram os mais pobres e as chefes de família após o episódio da Carolina Beatriz Ângelo), mas, ainda assim, ainda era uma democracia.

  9. Stalenin,

    Perante a ditadoideira comunista, o 25 de Novembro deveria ser o grande feriado nacional.

    Tive o meu pai numa lista que o PCP repete que nunca existiu. Vi pessoalmente cópias dessa lista.

    Quanto à vossa dita extrema direita, que engloba tudo o que não seja vermilhóide, e ainda metade dos vermilhóides — desde que estejam no lado percebido como errado pela outra metade dos vermilhóides. Eu sou, portanto, um membro dessa extrema direita, lembrando eu que Hitler era de esquerda — programa estatista e colectivista é esquerda, não direita.

    Finalmente, quem gosta de regimes que antecipam o encontro com o Criador de mais de cem milhões de pessoas não tem moral para vir falar de democracia. Mais, a Constituição não permite programas fascistas. Os fascistas italianos nasceram do comunismo e diziam-se a melhor encarnação dos fascistas. As vossas dissonâncias para mim, que estou longe, são meras guerras entre irmãos gémeos.

    Quando é que cumpriremos a estúpiuda desconstituição que nós temos, mas nunca cumprimos nem a ela ligamos, e ilegalizamos de vez o partido fascista PCP e também o BE?

  10. Não me lembro de comemorar o 28 de setembro é o 11 de Março , já para não falar no golpe Palma Carlos . O 25 de novembro foi mais um golpe de direita que só não foi mais longe porque Melo Antunes e outros se oposeram a tentativa fascista de ilegalizar o pcp.

  11. Stalenin

    Estimado Mário Amorim Lopes, a sua afirmação de que a Primeira República era uma Democracia não deixa de ser esclarecedora. Ou seja, sabemos que:

    1) não existia sufrágio universal;
    2) existia polícia política e presos políticos eram deportados para prisões nas colónias;
    3) a liberdade de imprensa era limitada e publicações antirrepublicanas eram encerradas;
    4) havia censura prévia.
    5) já para não da dimensão revolucionária e ditatorial da República, assente na predominância do Partido Democrático.

    Quer-me parecer que estes elementos chegam para afirmar que Primeira República não era nem Democrática e muito menos liberal. Aliás, como muito bem sabe, quer conservadores liberais, quer a direita anti-moderna viam na Democracia um regime político demagógico e de declínio, mais próprio de anarquistas e socialistas do que de republicanos.
    (Como uma certa direita que contra tudo se “insurge” e sempre nos “observa”, esses senhores pela Democracia sentiam só repugnância!).

    STALENIN

  12. meldocoronel

    OS LIMITES DA DEMAGOGIA
    BOM SENSO PRECISA-SE
    A ideia peregrina, recriada desde há dois anos pela oposição de direita, de comemorar o 25 de Novembro ,depois de 30 anos de sepulcral e envergonhado silêncio, diz tudo sobre a falta de decoro e vergonha de quem já não tem a noção do razoável.
    Depois de ter participado activamente no 25 de Abril, data Libertadora, ter feito parte do Conselho da Revolução e integrado o “ grupo dos Nove”. Depois de ter participado no 25 de Novembro data fundadora da Democracia que hoje temos, batendo-me com outros oficiais e civis na defesa da Constituição Politica que é ainda hoje o farol da nossa vida em comum, depois de ter escrito um livro onde assumo estas participações, olho para estes personagens que agora se lembram de utilizar esta data como arma de arremesso politico e fico condoído da sua infantilidade, imaturidade, esperteza saloia e demagogia sem limites.
    Esta gente, que sem rebuço amesquinhou uma das datas mais importantes da nossa secular História, o 1º de Dezembro, vem agora ao fim de trinta anos de esquecimento e de demissão do que tinha sido a sua estrita obrigação lançar barro á parede.
    E se as comemorações se realizassem na AR. Quem estaria presente ? Quem seriam os convidados ?
    Da lista justa e possível já não poderiam estar, infelizmente, Pires Veloso, Jaime Neves , Salgueiro Maia , Melo Antunes, Vitor Alves , Sá Carneiro, Mário Soares, Zenha.
    Restam ainda assim , Ramalho Eanes, Vasco Lourenço, Freitas do Amaral, Charais, Pezaratt e poucos mais.
    Que eu saiba nenhum deles aceitará estar presente.
    É que todos, mas todos, já perceberam que esta trupe que nos mentiu e desgorvenou durante tanto tempo não vale um tostão furado e o que lhes falta em seriedade sobra-lhes em demagogia. 22.11.2017

  13. Caro Stalenin, longe de mim dar a 1ª República como exemplo de seja o que for. Foi, aliás, um retrocesso na história do país. Seja como for, o ponto é que já existia a forma possível de democracia desde a carta constitucional. Obviamente que não é comparável à de hoje, e tal comparação seria absolutamente anacrónica. Se assim fosse, também não poderíamos dizer que alguma vez existiu democracia na Grécia Antiga — párida da democracia —, pois apenas 7% da população votava. O 25 de Abril introduziu a democracia contemporânea, mas esta já existia, na sua forma possível, desde 1826.

  14. Caro Coronel

    A data fundadora da democracia foi o 25 de Abril. O 25 de novembro foi um golpe militar apoiado por um espectro de forças políticas diversas até à direita terriorista, destinado a enfranquecer a força política do Pcp na sociedade portuguesa e a afastar a chamada esquerda militar do poder.

  15. Caro Afonso
    Democracia é ser-se livre para dizer o que os outros não gostam. As ditaduras não o permitem. O fascismo e o comunismo são ditaduras e por isso teem policias politicas como a pide, a stasi, etc..controlo da informação e presos politicos…. O 25 de Novembro foi a reposição do 25 de Abril. Vivi nos 2 sistemas (fascismo e comunismo) e sei do que falo…

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