Uma questão de prioridades

Estávamos em 2015 e alguém redigia o programa com que o Partido Socialista se apresentava a eleições. Ali se propunham as prioridades de um governo socialista e se delineava um modelo de Estado capaz de acudir a todas as dificuldades que assombravam os portugueses: criação de emprego e devolução de rendimentos, prestações sociais na Educação, na Habitação, na Saúde, na Segurança Social, na Cultura, o combate à pobreza e à precariedade, a construção de uma sociedade mais justa e igual. Um pacote “tudo incluído”, portanto. Ou quase tudo…

Foi preciso esperarmos um par de anos, acontecer não uma mas duas tragédias, a morte de centenas (!) de pessoas, para percebermos em que circunstâncias o PS entende que a sociedade civil se deve gerir a si própria, sem contar com o Estado: quando em causa está a segurança dos indivíduos. Ficámos a saber, por declarações do secretário de Estado da Administração Interna que “Têm de ser as próprias comunidades a serem proactivas e não ficarmos todos à espera que apareçam os nossos bombeiros ou que apareçam os aviões para nos resolver o problema. Nós temos de nos autoproteger, isso é fundamental,”. 

O Estado garante saúde, educação, cultura, empregos, rendimentos, justiça e igualdade social, mas quando chega o momento de salvaguardar a vida humana e as liberdades mais básicas, demite-se e estamos entregues a nós próprios. Não pode ser assim. Sobretudo num país que, como os anos de austeridade demonstraram, valoriza o extenso catálogo de direitos fundamentais que tem, que permite enquadrar quase todos os problemas sociais e escrutinar quase todas as ações e políticas públicas. Catálogo esse tantas vezes invocado pela esquerda, no passado, que agora se remete ao silêncio e revela uma fé surpreendente nas condições meteorológicas.

É claro que a intervenção do Estado se tem vindo a alargar a cada vez mais domínios, acudindo a cada vez mais perigos, riscos e ameaças, colocando-o numa situação de pressão de meios e recursos. Mas a segurança das pessoas é e será sempre um dever essencial do Estado, que lhe está no próprio ADN, independentemente da evolução histórica dos modelos estaduais. Mais: na chamada “sociedade do risco” o Estado está obrigado a antecipar a ameaças e prevenir riscos e a sua obrigação de garantir segurança exige-lhe um sentido eminentemente preventivo (é assim em vários domínios: segurança alimentar, produção de medicamentos, utilização de tecnologias e produtos potencialmente nocivos, poluição sonora, contaminação de águas e solos, tratamento de resíduos, etc.). Não parece que o governo ou a protecção civil tenham tomado qualquer tipo de medidas preventivas que pudessem mitigar os riscos de uma catástrofe como a que assistimos. Muito pelo contrário. 

 

 

 

9 pensamentos sobre “Uma questão de prioridades

  1. O Estado tem que garantir a integridade territorial e dos cidadãos. Em troca disso, ou para isso, cobra impostos. Esse contrato social está morto quando um governante nos diz mais ou menos que estamos entregues a nós próprios.
    O Estado não pode ser apenas um cobrador de impostos e pagador de favores – a redistribuição já foi, não existe.
    Chamo a atenção para a quantidade alarmante de artistas do agitprop que foram bruscamente lançados nas redes nas últimas horas, com a retórica de ser baixa política mencionar os mortos. Baixa política é esta manobra de silenciamento e branqueamento.

  2. Luís Lavoura

    Mas como pode o Estado garantir a segurança das pessoas quando elas próprias descuram essa segurança?
    Que deve o Estado fazer quando punhados de velhinhos decidem viver em aldeiazinhas e não têm forças para limpar a vegetação que cresce por todos os lados em redor dessas povoaçõezinhas?
    Que deve o Estado fazer quando cidadãos, num dia de calor e vento fortíssimos, decidem meter-se à estrada, descurando a hipótese de encontrar incêndios pelo caminho?
    Será que o Estado nos deve proibir de tomar essas atitues temerárias? Ou será que deve tentar proteger-nos, façamos nós o que fizermos?
    E quem paga?

  3. Mario Figueiredo

    Ó Luis Lavoura! Eu não quero acreditar que a sua ideologia está de tal forma entranhada nas suas fuças que não é capaz de mesmo num momento destes abrir mão nem um pouco que seja para fazer chegar a sua critica a quem realmente a merece.

    Então nos outros anos não havia velhos a morar sozinhos, meu grande palhaço? Não houve outros Verões ainda mais quentes e prolongados em Portugal, meu grande asno? Não houve crises económicas e financeiras, meu borrego? Diga-me onde nesses anos morreram 100 pessoas vitimas dos incêndios.

    Vai mas é para a merda, ó meu grande filho da puta! E nem te atrevas a vir para aqui com ares de enjoado que te ofendi, sebento traidor deste país. Tu que defendes a incúria e a irresponsabilidade que causa as mortes do teu próprio povo, ofendeste muito mais os que morreram e os que ficaram para os enterrar.

  4. Luís Lavoura

    Ó Mário Figueiredo! Eu só fiz algumas perguntas! Só perguntas! Perguntar não ofende! Porque não responde, de forma muito concreta, às minhas perguntas?

  5. André Miguel

    Mário, não dê troco ao Lavoura, que é o que ele quer. Um idiota realiza-se com a atenção que os outros lhe dão. Às tantas é para isso que lhe pagam. Mas tem razão quando lhe chama filho da puta, um socialista não merece outro nome.

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