Álvaro Almeida, claro

Deve ter havido poucas vitórias autárquicas que celebrei tanto como a de Rui Moreira em 2013. Rui Moreira representava, ao mesmo tempo, uma lufada de ar fresco na política portuguesa e a única via de continuidade na disciplina financeira e independência que tinha marcado os mandatos de Rui Rio. A derrota de Luis Filipe Menezes era a derrota de um PSD que não deveria existir, de um PSD que não era alternativa ao PS e que teria feito o mesmo que Sócrates se estivesse no poder na mesma altura. Quatro anos depois, não posso dizer que Rui Moreira tenha falhado neste aspecto. A disciplina financeira continuou e as contas continuaram a ser à moda do Porto. O Porto tem finanças públicas estáveis. Mas Rui Moreira fracassou no outro aspecto: não só não foi uma lufada de ar fresco na política como amplificou tudo o que de pior há nessa política. Os jogos de poder, as alianças com o diabo para manter esse poder, as facadinhas nas costas, mas acima de tudo o culto de personalidade, começando pelas guerras mesquinhas sobre o mérito pelo aumento de turismo no Porto, ou a celebração ridícula de lugares em rankings de cidades que existem aos milhares na internet e que são feitos à medida para líderes de cidades médias em busca de protagonismo. O Porto já cometeu o erro nos anos 90 de, embalado pelas vitórias no futebol, ter assistido impávido e sereno à acelerada centralização da economia. As centenas de licencidados que todos os anos se mudam para Lisboa por falta de emprego qualificado no Porto. O Porto precisa de alguém disposto a colocar-se ao serviço da cidade e não de alguém que busca na cidade o alimento do seu ego ou que vê o poder na cidade como rampa de lançamento para o poder no clube. Numa altura em que temos um ex-presidente da Câmara de Lisboa a primeiro-ministro, um antigo candidato a presidente da Câmara Municipal de Lisboa e um presidente da Assembleia da República eleito pelo círculo de Lisboa, o cerco do centralismo vai apertar. O Porto precisará de alguém competente, que não se vergue a estes poderes nem se perca em lutas inúteis que servem mais para afagar o ego do que para defender a cidade, que ridicularizam a luta contra o centralismo. Nem Rui Moreira, e muito menos Manuel Pizarro, se encaixam no perfil.

Álvaro Almeida não fez uma boa campanha. Provavelmente por ter uma parte do PSD Porto mais interessado em estar no poder do que em apoiar o melhor candidato, por alguma inexperiência própria e por falta de apoio empenhado ao mais alto nível. Mas Álvaro Almeida é, de longe, o candidato com mais provas dadas de competência. Não é o que tem mais experiência em televisão, em comunicação ou aqueles com mais contactos nas redacções. Mas é o mais competente, e isso devia chegar. Votar em Álvaro Almeida é votar contra a noção de que só pode ser eleito quem sai bem na televisão ou tem o maior sorriso na rua. Um mau resultado de Álvaro Almeida enviaria um sinal tremendo para os partidos de que a competência dos seus candidatos deve ser a sua última preocupação.

Eu ligo pouco a ideologias ou partidos na altura de votar numas autárquicas. Pondero votar PS no meu concelho de residência, votaria CDU em Loures e CDS na Covilhã. No Porto, mesmo sabendo que a probabilidade de ganhar é baixa, o único voto que me deixaria de consciência tranquila seria em Álvaro Almeida.

2 pensamentos sobre “Álvaro Almeida, claro

  1. Rui Rodrigues

    Duas falhas neste raciocínio:

    1) Rui Moreira de 2013 já era o de 2017. Um rapazola arrivista.
    Ganhou por bairrismo popular contra Menezes/Gaia e pela força do lóbi das elites Católica/Foz

    2) Menezes não era Sócrates
    Deixou obra para décadas e não se lhe conhece enriquecimento sem causa
    Até a famosa dívida municipal, passados 4 anos, parece controlada sem grande esforço.

    Enfim…

  2. Pingback: Quando o SNS não distribui os remédios – O Insurgente

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