Num país normal — um país onde as instituições e empresas são dirigidas por pessoas com o mínimo de instrução para o cargo —, uma empresa cuja missão fosse a prestação de um serviço público, como é o caso da Carris, pugnaria por apresentar, como qualquer empresa não-falida, um EBITDA positivo. Mesmo sendo a missão da Carris a prestação de um serviço social, tendo de praticar, como tal, um preço por bilhete muito abaixo do preço de mercado, a Carris apresentaria um EBITDA positivo. Como? Os resultados operacionais seriam naturalmente negativos, pois a Carris estaria a praticar um preço inferior ao seu custo operacional e a abdicar de uma margem de lucro, suportando assim a sua função social. No entanto, os subsídios à exploração, em particular as transferências do Orçamento do Estado, pagariam o diferencial para um preço de mercado, permitindo assim à Carris ter lucro desde que seja eficiente. Este é o modelo de concessão que é formulado quando as empresas são entregues à gestão privada. Isto acresce transparência à gestão da coisa: se os resultados operacionais forem negativos é porque, salvo situações extraordinárias, boys andam a ser empregados, dinheiro anda a ser desviado, a despesa está descontrolada; em suma, é porque gerem mal.
Em Portugal, a Carris acumula resultados financeiros negativos, resultado de anos a acumular dívida — porquê? por causa da sua função social? porque emprega boys? porque a gestão é má? Não sabemos —, a estrutura de custos está completamente desalinhada com aquilo que seria um preço de mercado, o passivo acumula-se, o Orçamento de Estado e os orçamentos municipais não transferem as verbas devidas, a Carris afunda-se em dívida para cumprir a sua função social, e, cereja em cima da esterqueira, o Governo diz isto:
Gestão socialista é isto. O sector privado anda a produzir EBITDA para que as empresas públicas o espatifem.
Terá Costa acabado de anunciar o fim dos hospital públicos com gestão privada? Sim, aqueles que depois da gestão ter ficado privada, passaram a dar muito menos prejuízo e a praticarem melhor serviço público, ao mesmo preço.
De repente lembrei-me do Atlas Shrugged de Rand, cai que nem uma luva…
Costa só diz aquilo que todos os socialistas pensam, mas que não o diziam até aqui. Como depois de 40 anos em permanente falência, sem responsabilização alguma, já perceberam que o povo está perfeitamente imbecilizado e estupidificado perderam a vergonha para dizerem alarvidades destes calibre. E ainda são aplaudidos pela plebe, vai uma aposta?! Este país é para arder, desmoronar e reconstruir das cinzas. Sem venezuelizar isto não tem remédio.
O problema é que a Carris nem transporta pessoas nem produz EBITDA. Claro que, para saber isso, o Costa tinha de (como eu) tentar ir de autocarro dos Restauradores às Amoreiras depois das 21h30.
Isto é exatamente como em 1975, só que desta vez o auto-proclamado PM que está a implementar três programas derrotados eleitorais nas eleições foi ao ponto de dizer que os partidos de direita entendem que “nenhuma entidade pública é capaz de gerir um serviço público” (o fisco, por exemplo, antes era gerido por privados, como toda a gente sabe, e os hospitais também, tal como a presidência do conselho de ministros), fazendo equivaler a mentira a “fanatismo ideológico”.
O percurso deste tipo devia ser um case study nas universidades, tais são as idiotices e as minhocas que saem daquela cabaça na forma de sorriso ao som de vocábulos.
Logo no primeiro dia, o presidente por herança da capital, também não eleito, toma decisões e anuncia a compra de frotas de autocarros. Na própria cerimónia de transferência. Certamente, o dinheiro não vai sair dos cofres da câmara, nem do PS.
Desculpem o incómodo, mas hoje já batemos nos 4%!
Alô PSD! Alô CDS! Está aí alguém?!!!!!!!
E que tal começarem a berrar antes que esta merda estoure?
Ele saberá mesmo o significado EBITDA?
Será possível saber ou imaginar?
Ou o tipo passa-se mesmo?
Se calhar julga que é uma espécie de carapau azul amortizado!
É que isto é mesmo bizarro.
Ou então é mesmo comuna 🙂
Já dizia o sócrates que as dividas não se pagavam. Só não disse era que o PS já não podia era pagar. 🙂
Quando os lisboetas levarem com taxinha para pagar os passes das criancinhas e subsídio dos idosos vão perceber o significado de ebitda. Com as calças do meu pai também eu sou um grande homem!
Também Sampaio dizia que havia mais vida para além do déficit. Depois da passagem de Sócrates a executar esse pensamento viu-se a vida que ficou. Com o desprezo pelo EBITDA positivo teremos mais do mesmo.
chipamanine,
Agora mesmo está o edil de Lisboa (outro especialista de monta) a explicar arrastando-se todo que as taxas de juro não são, diz ele, de causa interna, mas externa. Obviamente, o senhor jornalista que está a assistir ao monólogo do especialista esqueceu-se de lhe perguntar pelas variações relativamente a países distantes, como a Espanha. Talvez porque a Espanha é uma ilha.
O Costa disse mesmo EBITDA? É porque viu o Shark Tank.
Excelente texto MAL.
Como governar empresas em países Maduros:
Passo 1:
Substituir toda a administração da empresa
Passo 2:
«”Se a STCP quiser, pode avançar com medidas parecidas [com as da Carris]. Essas hão-de ser propostas dos seus gestores, que serão bem-vindas“. Foi assim que o Ministro do Ambiente, Matos Fernandes, respondeu às perguntas do Público sobre o alargamento da decisão de Lisboa em dar descontos e isenções nos passes»
O problema é que não se sabe o que é um “preço de mercado”. Como não há nenhuma empresa privada a prestar exatamente o mesmo serviço da Carris, como é que o MAL, ou seja quem fôr, sabe o que é o “preço de mercado” que a Carris deveria praticar?
O sector privado anda a produzir EBITDA para que as empresas públicas o espatifem.
É normal numa sociedade capitalista o setor estatal subsidiar o privado, assumindo funções que este não cumpre de forma socialmente satisfatória. Por exemplo, o apoio à investigação científica básica, a educação de crianças e jovens, a habitação para pessoas cujos patrões não lhes pagam salários que lhes permitam pagar uma casa, a saúde, os transportes em cidades, etc. O MAL certamente que já se apercebeu desta função do setor público.
Muito obrigado, Ricardo. Aproveito para te dizer que tens estado on fire. By the way, está na hora de voltares à ML… 🙂
Luis, o que mais me custa nem é o argumento radical de esquerda do Costa; discurso aliás que nem sequer se alinha com o PS histórico. O que mais me custa é observar como nem ele acredita no que está a dizer, e mesmo assim conscientemente faz uso de um populismo primário da mais esquerda das esquerdas para arrancar aplausos aos ingénuos.
São estes políticos e esta forma de fazer política que nos estão a esmagar. Não é só a má gestão financeira, mas também (e mais importante talvez) a baixa, irresponsável e demagógica política da adulteração do sentido de estado e de dever para com os cidadãos.
O diabo vem mesmo aí. Na forma da crescente descrença das populações nas suas classes políticas e no seu empobrecimento intelectual o que apenas tende a gerar novos políticos alinhados nos mesmos maus princípios. Estamos cada vez mais longe de ser um país capaz de gerar Juppés, e muito menos Macrons porque já há muito tempo não existem pontos de referência na classe política capazes de inspirar honestidade, verticalidade e integridade. Pelo que o nosso constante distanciamento da Europa não é apenas económico, mas também social.
Ainda @Luís Lavoura,
Mover a gestão da Carris para a Câmara é um mais que certo caminho para a privatização futura. Não se iluda nem por um momento. E ao retirar a si essa responsabilidade, o PS pode lavar as mão de qualquer decisão camarária. Mas no caminho dessa privatização encapotada, Costa dispara barbaridades tais como o que importa é o facto de ser um serviço público e não os seus resultados financeiros.
Esse não é certamente o discurso que Centeno leva para as reuniões na Comissão Europeia, Era só o que faltava. Arrancava umas boas risadas dos restantes Ministros das Finanças. Portanto porque é que Costa afirma o que sabe não ser verdade? Porque alinha no conteúdo demagógico como forma da fazer política. E esta tem sido uma constante na política de esquerda neste país, que nos tem governado dois terços dos últimos 40 anos e que bem recentemente nos conduziu ao descalabro económico e financeiro.
Nem sequer Costa esquece por um momento que não somos um país que pode ignorar os resultados financeiros do serviço público. Não andamos a nadar em superavits do estado, nem produzimos o suficiente ou coletamos o suficiente para poder gerir serviços públicos sem olhar ao prejuízo. E mesmo se fossemos, seriam outros serviços bem mais essenciais que estariam na linha da frente para esse tipo de gestão, tais como Saúde ou Educação. Certamente não um serviço municipal de transportes públicos.
Quando é que paramos este ciclo vicioso de sermos governados pela demagogia e pela mentira? O debate político sobrepõe-se ao debate ideológico neste país. Somos um país governado por gente inferior aos seus cidadãos. As elites intelectuais, onde reside um dos grandes valores deste país, demarcam-se enojadas da política servindo apenas de comentadores ocasionais sem qualquer expressão ou capacidade interventiva. Até mesmo a capacidade de organização civil está debilitada e encontramos-nos sem qualquer possibilidade aparente de criar na sociedade civil o tipo de organizações que possam efetuar um contraditório eficaz.
O debate ideológico entre a esquerda e a direita seria muito mais rico se fosse efetuado por gente maior dos dois lados da barricada. Mas infelizmente não temos essa casta de políticos em Portugal e muito menos a capacidade de os gerar. Tudo o que temos é Costas e Sócrates e Passos Coelhos, todos vitimas da sua pequenez intelectual. Uns a mentir, outros a deixar mentir. Uns a praticar demagogia, outros ineficazes no seu combate político.