Às vezes acontece-me tropeçar em textos tão bem escritos que não sei se me envergonhe de tentar alinhavar letras na língua de Camões se hei-de guardá-los como quem guarda uma preciosa jóia de família. Este aqui abaixo é extraordinário e das coisas mais belas que li nos últimos tempos. Além da beleza da escrita relembra-nos que o que aconteceu ontem é muito maior do que parece.
É a grandeza da França que faz grande a vitória de Portugal. Alguns franceses terão dito que Portugal jogava um futebol nojento. Nem lhes responderia, mas alguns portugueses gritam agora que ganhámos à França de merda. Discordo. Ganhámos à grande e imensa França que guarda os modos de quem já foi Senhora do Mundo e ainda tem na cabeça acordes de Debussy e Bizet, ou não tivesse o hino mais bonito do mundo, no qual o de Portugal se inspirou.
E ganhámos à nossa maneira dramática. Caído o comandante, onze guerreiros portugueses souberam seguir o que o racionalíssimo treinador português – o extraordinário engenheiro – lhes dizia e foram, como um vinho que precisa de estágio, jogando melhor minuto a minuto. Se o jogo tivesse cinco horas, Portugal acabaria a jogar um futebol que nem Pelé ou Maradona saberiam jogar.