Talvez António Costa tenha contraposto, como disse ontem que o fez, ao argumento de um défice sem Banif de 3,2% o argumento de um défice sem ajudas em geral ao sistema financeiro, incluindo a mega-ajuda ao Banif, de 2,8%. Se o fizesse, estaria apenas a invocar o critério usado durante todo o período de ajustamento para avaliar a evolução do saldo orçamental. Não por acaso. A ideia nesse critério é expurgar do saldo o ruído criado por intervenções anómalas, extraordinárias e muito vultosas, por forma a obter uma medida mais adequada do andamento do défice global.
Se o fez, fê-lo no mais completo segredo, evitando cuidadosamente deixar qualquer rasto do feito, até mesmo na carta que enviou a Juncker sobre o assunto, ela própria, vá-se lá saber porquê, inicialmente destinada a permanecer excluída do escrutínio da populaça.
Compreende-se. Um patriota verdadeiro, ao contrário do tal canalha a que se referia Samuel Johnson, faz o que tem a fazer em recato e não anda por aí alardear as injustiças do estrangeiro e a entusiasmar as massas contra o inimigo.
A notícia da TVI saiu nos últimos dias do ano como o problema do IRS saiu no último dia do primeiro semestre. Tudo coincidências que deram muito jeito. Já agora, consta que o número de incêndios florestais vai em 25% da média dos últimos dez anos (redução de 75%) – os incendiários devem ter ido todos de férias com o aumento do nível de vida, ou morreram queimados, ou são vermelhos 🙂
Os 3,2% devem dar jeito para alguma coisa. Talvez para o próximo orçamento. É a esperteza saloia em todo o seu esplendor.