A propósito do debate do Estado da Nação, alguns colaboradores do Observador uma avaliação dos ministros do governo das esquerdas. Como me pareceu em muitos casos demasiado pessimista, deixo aqui uma avaliação que me parece mais justa:
Conseguiu convencer muitos portugueses que acabou com a austeridade sem aumentar a despesa do estado, que baixou os impostos sem afectar a receita fiscal e que adoptou uma política de crescimento apesar de o país estar estagnado. Provou assim que, tal como os socialistas sempre defenderam, ainda há muito investimento a fazer no ensino da matemática em Portugal. Levou o país à final da Europeu, coisa que apenas Durão Barroso tinha conseguido.
A maioria das pessoas que passa por um proceso de recrutamento e é rejeitado, deixa uma mensagem agressiva no Facebook e passa para outra. Mas Mário Centeno não é uma pessoa qualquer. Jamais perdoou ter visto uma promoção rejeitada no Banco de Portugal e, qual Uma Thurman, assumiu como missão de vida de vingar essa situação. Para isso, emprestou a sua credibilidade académica a António Costa, sabendo que ele nunca mais a devolveria. Aceitou aldrabar um plano macroeconómico e desenvolver um orçamento que atira para os últimos trimestres de 2016 os custos do “fim da austeridade”. Reza todos os dias por uma crise internacional, tal como o aluno preguiçoso reza para que o mau tempo feche a escola no dia do exame.
Patrão fora, dia santo na escola. Enterraram-se as avaliações dos professores e os exames aos alunos no final de ciclo que permitiam avaliar o efeito das escolas na aprendizagem. A seu tempo, eliminar-se-à toda a concorrência das escolas privadas na prestação do serviço público. Temos um serviço público em que nem escolas nem professores são devidamente avaliados, e sem concorrência para comprovar que é possível fazer mais com menos. Os bons professores perceberão rapidamente que não vale a pena esforçarem-se tanto. Há alguma justiça nisto: os miúdos que hoje têm 6 anos nunca irão saber o que é viver sem internet e provavelmente nunca terão que tirar a carta. É bom que sofram com alguma coisa.
Ministro dos Negócios Estrangeiros (14)
Um bom prémio de carreira para quem esteve sempre lá disponível para todos os líderes do PS. Está na posição certa para sair dali para um cargo internacional onde se pagam salários de alemão com horários de trabalho à francesa. Um prémio merecido: com as suas capacidades, muito poucos se disponibilizariam a fazer o que ele fez ao longo de anos.
Ministra da Presidência e da Modernização Administrativa (16)
Graças a ela, iremos poder deixar de preencher o papel X para o procedimento Y, bastando para isso preencher o papel Z. Conseguiu transformar um conjunto de directivas europeias em medidas de um novo simplex. Manteve-se firme ao lado do seu primeiro-ministro enquanto ele exibia uma bugiganga que comprou num aeroporto na apresentação do seu programa mais importante, demonstrando uma lealdade à prova de bala. Sem ir ao google, alguém se lembra do nome dela? Não? É bom sinal.
Portugal tem uma tropa mansa e apática. Azeredo Lopes conseguiu irritá-los, o que pode dar jeito numa futura intervenção militar. Se a NATO não nos quiser atribuir outra função, o nosso exército pode ser sempre responsável pela organização da primeira parada gay no Iraque. As pernas do ISIS até tremem.
Ministro da administração interna (12)
Abriu a porta do país aos refugiados, mas poucos quiseram vir. Dos poucos que vieram, muitos já se refugiaram noutros países europeus, onde há mais mesquitas e onde podem ter aquilo…como se diz… ah… sim… empregos.
Toda a gente conhece na faculdade aquele aluno mais calado, que não vai às festas e no qual ninguém repara, mas que acaba por ter a melhor média do curso. O objectivo de nomear uma antiga procuradora do ministério público para a justiça será entendido em breve. Aguardemos.
Ministro adjunto (15)
Ficou conhecido por roubar o microfone a um secretário de estado. É portanto o homem certo para roubar a cadeira a alguns gestores públicos para lá colocar as pessoas certas. É colega de trabalho da mulher e por isso merece a solidariedade de todos nós.
Ministro da Segurança Social (14)
Tem como única função convencer a geração dos que nasceram depois dos anos 70 de que irão ter uma pensão aos 65 anos. Conseguiu que fosse eliminada a taxa sobre as pensões milionárias que tanto preocupou os comentadores televisivos em pré-reforma.
É o puto pequenino de óculos do recreio do governo. Quando é preciso alguém para apanhar porrada (leia-se, ter os fundos cortados) será sempre a primeira vítima. Não por liderar um sector pouco importante, mas porque aqueles que sofrem com os cortes na saúde têm menos capacidade para protestar. Ainda não conseguiu evitar que morram pessoas nas urgências dos hospitais, um sítio que, como todos sabem, só é frequentado por pessoas cheias de vitalidade.
Ministro do planeamento e das obras públicas (8)
Não há dinheiro e o país já está mais coberto por asfalto do que o Quaresma por tatuagens. Mas havia um gabinete vazio e era chato um governo PS não ter um ministério para as obras públicas. Está no topo do ranking português do Minecraft e do Fruit Ninja.
Em visitas oficiais, dorme no mesmo quarto de hotel do ministro adjunto, o que deve ter poupado o suficiente para pagar o Mercedes do Costa. Só por isso já valeu a pena as dezenas de milhares de Euros que o país perdeu desde o dia em que ela disse que o conflito com os estivadores estava sanado (em Janeiro) e o dia em que ficou mesmo resolvido (em Junho).
Um cargo honorário, já que os destinos da economia se decidem em todos os outros ministérios. No ministério do nada, só se pede a um ministro que não estrague e é isso que tem feito. Acrescentou uma valiosa linha ao currículo e será o centro das atenções nos jantares de família nos próximos 30 anos. Objectivo cumprido. Se o governo se mantiver tempo suficiente, o mais certo é dar o lugar a outro com as mesmas aspirações.
Do tempo de Guterres mais uma vez ganha gritante atualidade, agora com todos ao monte:
O EST(R)ADO DA NAÇÃO
-Sociedade Portuguesa hoje» Analfabetismo funcional; in(cultura)/ignorância; apatia cívica/irresponsabilidade; ilusão/aparato/ostentação; irracionalidade/inversão de valores; indigência mental/anestesia colectiva; ensino postiço e inconsequente; autoridade tolhida e envergonhada; justiça sinuosa e selectiva; responsabilidades diluídas e baralhadas; mediocridades perfiladas e promovidas; capacidades trituradas e proscritas; sofisma institucionalizado.
-Quês e porquês» Maleita atávica e condicionamento manipulado pelos poderes instalados; negligência paralisante no dever de participação; vício embriagante na desculpa cómoda do dedo acusador sempre em riste. Culpar D. Sebastião, o padeiro da esquina ou dirigentes de ocasião é nossa mestria e sina nossa. Culpados somos todos nós, acomodados na obsessão estéril de celestiais direitos. Também é com a nossa apatia pelos valores de intervenção e cidadania, que somos conduzidos repetidamente para o conhecido pantanal. Os nossos governantes são o reflexo e extensão da gente que somos, mas valha a verdade em escala cujo grau de refinamento, incapacidade e subversão de interesses colectivos ultrapassa os limites da decência. Que o actual 1º ministro em vez de esbracejar governe e em vez de iludir assente, invertendo essa carga em desequilíbrio e remetendo para as calendas a política de feirola de contrafeitos.
-Receituário extraviado» Cabe cultivar que ao cidadão comum não deve competir apenas votar ciclicamente em deputados acorrentados pela disciplina partidária. Na sociedade como nos bancos da escola, acautelar conceitos/aulas de civismo e cidadania, o que é liberdade, democracia, educação e compostura. A televisão pública como veículo que molda, não pode servir só para futebol, novelas e propaganda oficial. Não basta compor a rama, é preciso cavar a terra e aconchegar os tomates. Por hora o circo ameaça continuar, mas que o tempo (grande mestre) se encarregue de nos despertar enquanto é tempo. A nós, suporte colectivo de tragédias e façanhas, competirá sobretudo intervir responsável e interessadamente no que a todos diz respeito, não concedendo carta branca ao desbarato para o traçado do caminho, ao círculo restrito de políticos abengalados.
O do microfone não é aquele, é o Cabrita 🙂
Falta o sinal negativo junto das avaliações entre parênteses…
Cheio de excelente ironia.
Humor , precisa-se . Muito bom , o artigo . Só Faltou ali o Ferro : o que lhe falta em ministerio , sobra-lhe em influência , e o currículo , esse , é cá de um primor ….
Obrigado JPA. Já substituí a foto.
Muito bom. Bem mais honesta que a avaliação do Observador.